09 maio 2006

Começando do começo... a Arte das artes

Eu sou um cara meio estranho... Não sei bem porquê, assim como não sei um monte de outras coisas que gostaria muito de saber. Mas, como está escrito: “Tudo Tem o Seu Tempo Certo Para Acontecer Debaixo do Céu.” - Interessante observar que o texto bíblico especifica: DEBAIXO DO CÉU – do que podermos subentender que em outros planos de existência, o tempo não exista, ou não faça diferença. Acho isso extremamente animador, afinal, aqui neste mundinho somos todos escravos deste tirano implacável: o tempo. Bem, aqui estou eu me abstraindo do assunto...

Dizia que sou um pouco estranho, ao menos para a maioria das pessoas. Para mim mesmo, penso que se todos fossem iguais a mim, a vida seria muito melhor... Brincadeiras à parte, o fato é que eu sempre fui um inconformado. Nunca consegui, embora por algumas vezes tenha mesmo tentado, ser “mais um boi na boiada”. E aqui agora começo a compartilhar minha história. Talvez seja útil para alguém, algum dia...

Aos 4 anos de idade, eu passeava na pracinha com minha querida mãe, e conversávamos animadamente. Eu não me lembro do assunto, mas me lembro das imagens, das cores, do tom da voz dela... Minha memória é absolutamente inacreditável, tenho inclusive lembranças da vida intra-uterina( ! ). Você duvida? Não importa, já estou acostumado. Acho que só este assunto já renderia no mínimo um post bem longo. Mas, voltando ao assunto: Era uma tarde, aproximadamente 17:30 hs, quando, no meio da conversa, ela me disse: - “Então, filho, no dia em que eu já tiver morrido, você...” – O final da frase eu não me lembro, provavelmente porque essa revelação por si só me chocou demais para que pudesse prestar atenção em qualquer coisa que viesse a seguir. Rapidamente retruquei: - “Um dia você vai morrer?” –um fio de esperança no fundo da voz, de que tivesse ouvido mal, mas a reposta veio ainda mais aterradora, e implacável: - “Claro, um dia todo mundo vai morrer!”. Eu estava diante da pior notícia que já tivera recebido em curta minha vida até então. Mas a resposta para minha próxima pergunta é que iria mudar, definitivamente e para sempre, minha até então doce e simples vida. A pergunta foi esta: - “Até eu?”... – E a resposta: - “Sim, até você, todo mundo!”...

Bom, este foi o começo de tudo. Este foi o princípio da Busca.

Claro que com 4 anos eu não podia ainda entender muito das coisas. Ou será que naquela época eu entendia mais do que hoje? Bem, posso dizer com certeza que todo o conhecimento que eu pude adquirir ao longo de décadas a fio de busca, práticas, estudo e meditação, me levariam a uma conclusão mais ou menos por aí. Como diz a tradição oriental:

£ Quando eu não conhecia a Arte, uma árvore era apenas uma árvore, uma nuvem era apenas uma nuvem.

Quando eu comecei a aprender a Arte, uma árvore já não era mais apenas uma árvore, uma nuvem não era mais apenas uma nuvem.

Agora que eu entendo a Arte, uma árvore é apenas uma árvore, uma nuvem á apenas uma nuvem. £

Mas afinal, eu ainda não sabia ler. Demoraria ainda mais um ano e meio para isso... E não podia sair de casa sozinho ainda, para ir atrás de respostas. Minha única fonte de pesquisa na infância eram meus pais, cada um com sua sabedoria. Mas... sabe o que me deixava realmente confuso? Eles pareciam não estar nem aí!! Quer dizer, eu realmente não podia entender... uma pessoa sabe que vai morrer e simplesmente não está preocupada com isso? Levavam suas vidinhas, tranqüilos, e quando eu começava a perguntar das coisas, simplesmente desconversavam, mudavam o foco, ou diziam que não adiantava se preocupar, que quando crescesse iria entender tudo... Infelizmente, eles estavam muito errados. Quanto mais crescia, menos entendia...
Acho que o principal motivo de ter ficado tão abalado ao tomar conhecimento da morte, foi o fato de que naquela época minha vida era simplesmente maravilhosa! Eu era o mais feliz dos meninos. Minha vida era absolutamente( hoje eu sei! ) meditativa, eu vivia todo o tempo no agora, preocupado apenas e tão somente em dar e receber amor, de minha mãe, do meu pai, que cantava para eu dormir, do meu gato, que brincava comigo o dia inteiro, dos meus brinquedos... Então, morrer por quê? Como assim?????
Então foi isso, minha Busca começou, muito parecida com a de Sidarta Gautama, o Buda Sakiamuni. Como ele, que ao descobrir que existiam morte e sofrimento, nunca mais teve paz até atingir a iluminação, também eu.
Duas diferenças importantes:

1. Ele descobriu isso quando já era um jovenzinho.

2. Eu ainda não atingi a iluminação...