19 maio 2006

A descoberta do Espiritismo

Continuação do post “Meus onze anos”
Quando eu tinha onze anos de idade, encontrei, no banco de trás do carro de uma tia minha, da Cidade de Campinas(SP), um exemplar da “Folha Espírita”. A matéria de capa, daquela edição, tratava de um tema que me assustava muito, na época - O título da principal manchete era: “As Profecias de Nostradamus, o Apocalipse e o Fim do Mundo”. O texto falava da interpretação espírita a respeito desse assunto, que sempre foi polêmico, e já era moda na década de 1970.
Bem, o fato é que, na visão do autor do texto, tanto as centúrias de Nostradamus, quanto o Apocalipse bíblico se referiam a realidades que ocorrem fora deste nosso plano de existência; para ser mais exato, nos níveis mais inferiores, onde só há dor e sofrimento dos piores tipos.
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Lá estava eu, aos onze anos, com uma descrição detalhada do plano espiritual conhecido como Umbral, lugar para onde vão os espíritos “maus”, como os dos criminosos, dos materialistas... os mal resolvidos, enfim. E a edição era repleta de ilustrações assustadoras! Bem, resumindo o que entendi da leitura, no banco de trás daquele corcel, numa tarde cinzenta de outono há quase trinta anos: Se eu for mau, vou para um lugar terrível, cheio de demônios e monstros horrorosos( subentendi esta parte por causa das pinturas medievais que ilustravam a matéria ), onde serei torturado de maneiras inimagináveis, e o pior: é um lugar de onde não há fuga. Evidentemente, a minha interpretação do texto estava profundamente comprometida pelas crenças da tradição católica, pelos vários livrinhos de catecismo que já tinha lido antes, sermões ouvidos e instalados no meu subconsciente, etc. O fato é que ler aquele artigo me aterrorizou, foi uma espécie de reavivamento do que senti quando da descoberta da morte. Não queria mais ficar sozinho em nenhum momento, tinha medo até de ir ao banheiro. Acordava de madrugada, e ficava encolhido, duro em minha cama, com os olhos arregalados, imaginando o que seria de mim se não conseguisse ser bom o bastante para merecer escapar daquele lugar horrível!!
Depois de um tempo, essa mesma tia começou a me levar, junto com minha prima, para participar de uma espécie de cursinho “introdutório” ao espiritismo, para crianças, no centro que ela freqüentava, chamado “Casa dos Espíritos”. Essa minha prima tem a mesma idade que eu, e nós morríamos de medo de ir, de algum dia ver alguma "coisa" lá dentro, tipo um fantasma, bem do nosso lado, ou algo assim. Em nossa mente infantil, achávamos que por se tratar de uma “casa dos espíritos”, esses espíritos haveriam de habitar, em especial, aquele lugar. Na verdade íamos meio forçados. Chegando, recebíamos passes, logo na entrada. Cada um dos ministrantes tinha uma “coreografia” básica própria. Tinha um que estalava os dedos, assoprava ruidosamente pelas narinas, outro revirava os olhos enquanto seu corpo todo estremecia. Outro ainda dava uma reboladinha a cada vez que subia e descia com os braços em arco ao redor do meu corpo. Eu também tinha medo nessa hora, de algum espírito entrar em mim, vindo de algum lugar, sei lá(sic). A verdade é que sou nascido numa cidade muito pequena do interior do Sul do Brasil, venho de uma família extremamente simples, para a qual tudo que parecesse diferente causava estranhamento, um receio bravo, mesmo. Lembro de minha mãe, dizendo – “Eu não desacredito que consigam contato com os mortos, nessas seções. Mas, pra quê isso? Por quê ir lá mexer com quem está quieto?” Lembro-me que numa dessas aulinhas dominicais, a "professora" passou em mãos, para todos apreciarem, uma meia dúzia de fotografias de supostos “fenômenos espirituais”, com torrentes de "ectoplasma" saltando das bocas, ouvidos e narizes de “médiuns” em “transe”. Só destaco algumas palavras entre aspas porque hoje sei que estas fotografias, especificamente estas, foram estudadas e comprovadamente classificadas como fraudes. Elas são famosas, na verdade, podem ser encontradas em qualquer livro, antigo ou novo, que trate do assunto mediunidade. Não vou citar quais são porque meu objetivo aqui não é criar polêmica, apenas digo que ao olhar para as imagens, hoje, vejo claramente um lençol retorcido saindo da boca de um sujeito sentado. A armação é claríssima. Mas foi o suficiente pra fazer com que minha prima eu e saíssemos apavorados do centro, naquela manhã. Este foi só o princípio da minha experiência com o espiritismo, que logo seria interrompido, para ser retomado só muitos anos depois.