01 junho 2006

O primeiro Pilar

Aos meus 14 anos retomei, com maior intensidade, minha Busca por alguma coisa que eu não tinha a menor idéia do que seria, e que por falta de um termo melhor, chamava apenas Deus. Nessa época voltei a freqüentar missas, com maior frequência; todos os domingos, sem falta. Embora nunca tenha feito o cursinho da Igreja, para entender exatamente o que estava fazendo, eu participava da comunhão, com todo o fervor. Comungava e assistia à missa com muita fé, queria porque queria encontrar Deus, e o único caminho que conhecia era aquele. Então, eu persisti. Orava com freqüência. Entrei no catecismo da minha paróquia. Haveria de persistir até conseguir uma resposta. Era um pouco frustrante não encontrar essas repostas de imediato, mas eu entendia que deveria ter paciência, que um dia o próprio Senhor, em pessoa, haveria de me responder. Passei por todas as dificuldades e experimentei as mesmas dúvidas que a maioria dos católicos nos primeiros passos: Não entrava na minha cabeça a idéia de Deus Pai e Jesus serem um só e o mesmo. E eu não fazia a menor idéia de o que viria a ser o Espírito Santo. Só ouvia falar nEle quando o padre dava a benção: “Em nome do Pai...” Nessa época, eu li a biografia de São João Bosco, que ganhei de um tio (marido daquela do centro espírita...), o que fortaleceu ainda mais a minha determinação em ser padre. É, eu ainda queria! Fiquei mais ou menos um ano nessa, de ir à missa todo domingo, participar da Eucaristia, frequentar ocasionalmente o grupo de jovens da paróquia, ler os livrinhos do catecismo... Bem, o tempo foi passando, e conforme passava, e eu não obtinha os resultados desejados (nada menos que um contato direto com Deus), eu desanimava... Deveria estar faltando algo. Constantemente me perguntava: onde estará a Verdade? Existem outros caminhos neste mundo... será que os espíritas, enfim, não estariam com a razão? Afinal, eles tinham provas do que diziam. Eu mesmo tinha visto as fotos. Aquelas, das materilaizações ectoplásmicas... E as outras tantas religiões do mundo, das quais esporadicamente ouvira falar? Bem, o fato é que, por alguma razão, eu tinha ao menos uma certeza: Jesus era a resposta. Não me perguntem o porquê da certeza. Essa convicção simplesmente estava dentro de mim. Lembram dos posts anteriores? Pois é. Desde a mais tenra infância eu estabeleci uma espécie de intimidade com esse tal Jesus Cristo, algo especial, como se ele tivesse de fato me soprado ao ouvido: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida...”. Realmente não sei explicar, mas eu sabia que o meu caminho, fosse qual fosse, teria que ter a ver com ele. Sentia por esse Homem, Deus ou seja lá o que fosse, uma amor ardente, incondicional, arrebatador. Não sei explicar a razão, não sei mesmo, mas só olhar sua imagem representada já me emocionava. Orava para ele com tanta fé que quase podia sentir sua presença, literalmente, ouvir sua voz... Mas, eu comecei aos poucos a entender que no rumo em que estava não alcançaria a Deus. Definitivamente não estava chegando aonde desejava, apenas assistindo missas. Parecia-me apenas um senta-levanta sem fim, o padre falando com um sotaque (lituano – Vila Zelina = colônia lituânica) tão forte que eu não podia entender quase nada do que falava... E depois, voltava pra casa, freqüentemente frustrado. Apenas isso não estava me ajudando muito, não era o suficiente. Precisava de mais. Tinha que avançar, dar o próximo passo na Busca.

Foi quando tomei uma decisão: conhecer a Bíblia. Minha família não tinha uma, então eu peguei o meu dinheiro de mesada e tomei o primeiro ônibus para o centro da cidade. Passeando pela Rua Benjamin Constant, encontrei uma das lojas das Edições Paulinas, e entrei. Havia lá um sem número de edições: As grandes, as enormes, as com capa de couro preta ou marrom, as ricamente ilustradas com obras dos mestres renascentistas, as decorativas, aquela tradicional, com gravuras do Gustave Doré... Tinha também alguns modelos com capa protetora, com zíper em volta, e as com acabamento em ouro. Mas o meu dinheiro só dava para comprar uma das edições em formato de bolso... Procurei e procurei, até que encontrei uma que me agradou, com uma capa de curvim de cor café com leite, e as palavras “Bíblia Sagrada” impressas em branco, na capa. Paguei e saí da loja sentindo uma felicidade incontida. No meio da rua mesmo, caminhando, me pus a ler as primeiras páginas. Não, ainda não o livro do Gênesis, eu não queria perder nada, por isso comecei pelas primeiras notas introdutórias.

Eu sabia que no livro em minhas mãos estava o cerne da religião cristã, a maior do planeta, a religião dos meus pais. E sabia que a íntegra do texto, ali contido, representava, na opinião de muitos, nada mais nada menos que a própria “Palavra de Deus” escrita. Como pude ter demorado tanto para adquirir um exemplar? Dentro do ônibus me acomodei e fixei meus olhos naquelas pequenas e finas páginas, sobrecarregadas de letrinha muito miúda. Já tinha resolvido de antemão que a leria do princípio ao fim, como se fosse um romance, e não aleatoriamente, como a maioria das pessoas. Mas a realidade é que eu nem de longe desconfiava, nem nas minhas mais desvairadas fantasias poderia imaginar o efeito que aquelas palavras haveriam de provocar em mim...