14 agosto 2006

O segundo Pilar - parte 2


Por que esse livro foi tão importante para mim?

Primeiro porque, como já disse, através dele tomei conhecimento de uma nova maneira de interpretar a relação homem-Deus, e, assim, eu pude vislumbrar um prenúncio da minha tão desejada liberdade. Como os que me acompanham já sabem, meu primeiro contato com a religiosidade, através do Cristianismo, mas que acabou se dando por intermédio da Torá Judaica, foi extremamente traumático. Meus terapeutas que o digam. Eu só conseguia enxergar medo.

O melhor Caminho a seguir era Cristo, até Deus Pai, que era um Deus amoroso. Até aí, tudo ótimo. O (grande) problema era que, para os que falhassem na tentativa de serem bons “cristãos”, estava reservado o fogo eterno de um inferno de sofrimento infinito. E ser um bom cristão significava, simplesmente, ser perfeito ("Sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste" - Mateus 5:48). E isso me parecia simplesmente impossível... Alguma coisa não estava bem resolvida, ficou meio que pela metade dentro de mim, desde o dia em que resolvi deixar as igrejas. E minha consciência ainda me torturava por isso. Agora encontrara uma forma absolutamente diversa de entender Cristo, entender o Caminho, e entender o próprio Deus. Através de um livro único.
Hoje, você dá um pulo na livraria e encontra vários títulos, com algumas idéias talvez até parecidas com as apresentadas em “Ilusões”. Porém, nos idos da década de 1970, época da geração hippie, e no auge do movimento de contracultura (quando os jovens pensavam, e se preocupavam com algo mais que a dieta da moda ou curtir os últimos hits da parada MTV), estas idéias eram absolutamente pioneiras, significavam um protesto contra os padrões de pensamento dominantes. Mas a leitura de Richard Bach me levaria a um lugar ainda muito mais distante...

Transcrevo abaixo um pequeno trecho do início do livro, o capítulo 1:

O Mestre acreditava que tinha o poder de ajudar a si mesmo e a toda a humanidade, e, acreditando, assim era para ele, de modo que outros viram o seu poder e o procuraram para se curar de seus problemas e suas doenças.

O mestre acreditava que todo homem deve considerar-se filho de Deus, e, acreditando, assim era, e as oficinas e garagens
(ele era mecânico de automóveis) em que trabalhava se apinhavam com aqueles que procuravam a suas sabedoria e o contato com ele, e as ruas de fora ficavam cheias daqueles que desejavam apenas que a sombra de sua passagem pudesse cair sobre eles, modificando suas vidas(...) E assim foi que seguiu para os campos, e os que iam com ele começaram a chamá-lo de o Messias, o que operava milagres, e, como eles acreditavam, assim era(...).

E quando viu que a multidão cada vez o seguia mais de perto, mais terrível do que nunca, quando viu que insistiam para que ele os curasse sem descanso, e sempre os alimentasse com seus milagres, e aprendesse por eles e vivesse suas vidas, foi sozinho para o morro e rezou(...).

E quando a turba o atormentava com seus males, implorando que os curasse, aprendesse por eles, os alimentasse constantemente com sua compreensão e os divertisse com suas maravilhas, ele sorriu pra multidão e disse amavelmente: “Eu desisto”. Por um momento a multidão ficou muda de espanto. E ele lhes falou:
“Se um homem dissesse a Deus que o que queria mais que tudo era auxiliar o mundo sofredor, fosse qual fosse o preço para si, e Deus lhe respondesse o que devia fazer, o homem deveria fazer o que lhe era ordenado?”

“Pois claro, Mestre!” exclamaram. “Devia ser para ele um prazer sofrer as torturas do próprio inferno, se Deus lhe pedisse!”

“Não importa quais fossem essas torturas, nem a dificuldade da tarefa?”

Seria uma honra ser enforcado, uma glória ser pregado a uma árvore e queimado, se fosse isso que Deus pedisse”, disseram eles.

“E o que fariam vocês”, perguntou o Mestre à multidão, “se Deus lhes falasse diretamente, em pessoa, e dissesse: ‘ORDENO QUE SEJAS FELIZ NO MUNDO, ENQUANTO VIVERES!’. O que fariam então?”

E a multidão calou-se e nem uma voz ou som foi ouvido sobre os morros e pelos vales.