29 junho 2006

Encontrei meu caminho?


Continuação de “A descoberta do Protestantismo”
Então era isso: Eu comecei a freqüentar a Igreja Cristã Evangélica. Os dias se passavam e eu me sentia, cada vez mais, fazendo parte desta congregação. Esta não era e não é uma igreja protestante, mas sim pentecostal, ou seja, uma derivação das protestantes. Foi ali que eu primeiro tomei conhecimento das principais “novidades” instituídas por Martinho Lutero, como a supressão do culto à Virgem Maria e aos santos, e a censura às imagens e esculturas, de qualquer tipo. Eu não perdia nenhum culto, nem os de sábado, nem os de domingo, e estava sempre nas reuniões às quartas-feiras. Também comecei a freqüentar a escola de estudo bíblico dominical, pela manhã, e o grupo de jovens. Estava realmente muito empolgado, porque agora tudo havia mudado, na minha Busca, e para melhor. Tudo era muito diferente do que na Igreja Católica. Tudo era baseado exclusivamente na Bíblia, tudo muito compreensível e lógico. E essa nova interpretação me parecia muito mais coerente que a dos católicos. Agora eu podia entender que absurdo era usar imagens de escultura no ofício! Como podiam usar imagens para devoção, ornamentação e até adoração, se a Bíblia explicitamente as condena? E por que render culto aos santos, se Jesus é o único intercessor entre Deus e os homens? tsc, tsc... Agora estava tudo claro. Tudo fazia sentido. Eu era chamado de irmão, e me tratavam como tal. Encontrara finalmente a minha família verdadeira. Duas lembranças desta época são muito claras em minha memória:

A primeira é a de uma “irmã” que tinha mais ou menos a mesma idade que eu, muito bonita e sensual. Não chegamos a fazer amizade, e que me lembre, nem mesmo fomos apresentados. Mas, algumas vezes, durante o culto, na hora da oração, ela se aproximava de mim, me abraçava forte e acariciava meu peito, enquanto pedia ao Senhor que me guiasse pelos Seus Caminhos. E tudo sem nenhuma maldade, de ambas as partes! Ela tinha o costume de orar assim, pelas pessoas com que tinha mais afinidade; fazia o mesmo com todas as suas amigas. Por quê eu achei isso digno de nota? Porque eu tinha 15 anos de idade, meus hormônios estavam em ebulição, e ficávamos os dois lá, eu e uma garota linda, por vários minutos, abraçando-nos muito apertado (ela faltava sentar no meu colo) e mesmo assim o meu pensamento, nem por um milésimo de segundo, se desviava da atenção total a Deus. Dou minha palavra: Nunca houve o menor vestígio de segunda intenção em nossos corações. Como era verdadeira minha fé, irrepreensível a minha disposição! Eu só sei e disse que a menina era “sensual” porque me lembro dela, muito vívidamente: Tinha um belo corpo e cabelos longos e pretos. Mas eu garanto, durante os cultos, nunca senti por ela absolutamente nada diferente do que um amor de irmão. Porque tudo que eu buscava naquele lugar era a Verdade, e sinceramente acredito que ela também.
A segunda lembrança que trago muito forte é a da vez em que saí de casa escondido, de madrugada, como um ladrão, pela janela do meu quarto, deixando uma fileira de almofadas debaixo do cobertor, para simular o meu corpo deitado na cama, caso meus pais resolvessem checar o meu descanso. Estava indo para a vigília de oração, que iria durar toda a noite, até o raiar do dia. Tinha que sair escondido porque meus pais eram totalmente contra minha nova fé. Quando souberam que estava freqüentando “igreja de crente”, todos em minha casa foram contra, em especial minha mãe e meu irmão dez anos mais velho. Por isso, acabava freqüentando aos cultos, muitas vezes, escondido, sem dizer exatamente para onde estava indo. Enquanto meus colegas começavam a fumar e freqüentar festinhas, escondido, eu freqüentava escondido os cultos e eventos da igreja.

Foi assim por alguns meses. A religião era a realização, a coisa que mais me dava prazer na vida. Era amigo do pastor, era amigo de todos. Todos me explicavam a Bíblia com todos os detalhes, todos me faziam entender, ao seu modo, as passagens mais difíceis. E eu realmente acreditava que tinha encontrado a Verdade das verdades. Um belo dia, na escola, descobri que um dos meus melhores amigos de classe era evangélico (como já explicado, há alguns anos, os evangélicos eram minoria. A quase totalidade das pessoas que eu conhecia e com que me relacionava eram católicas, pr isso esse encontro foi totalmente inesperado). Ele me disse que era um “cristão batista”. Fiquei surpreso, porque ele parecia ser um dos mais "malucos" da classe. O moleque simplesmente era terrível, um bagunceiro de 1ª linha! É que eu , na minha inocência, acreditava que todos os evangélicos eram exemplos de comportamento ético e correção. Ele me falou que uma tia sua freqüentava a mesma igreja que eu, que tinha me visto por lá. Então fiquei sabendo que ele era membro da "Igreja Batista da Paz", de linha tradicionalista (Esta sim, considerada
protestante – embora por vezes os próprios batistas repudiem este rótulo). Eles, os batistas, eram chamados por muitos dos representantes de outras comunidades evangélicas de “católicos disfarçados”, por causa de sua postura tranqüila, sua maneira mais calma de praticar a fé.

Aceitei o convite para conhecer a sua igreja. Fui uma vez, e me encantei. Os freqüentadores eram em tudo tão "bons" quanto os da minha congregação, mas com uma diferença que me pareceu imperativa: Eles não gritavam nem pulavam na hora das orações. Louvavam e apresentavam pedidos a Deus em silêncio, cada um em si mesmo, frontes baixas, todos em pé - isto sim, à maneira católica. A
contece que, para muitas denominações evangélicas, ser chamado de católico era sinônimo da pior ofensa. Eu nunca pude entender o porquê disto. Afinal, ainda que por meios e de modos diferentes, todos buscavam o mesmo Deus. Se cometiam equívocos, a ordem principal de Jesus não tinha sido no sentido de perdoar setenta vezes sete? E não foi o próprio Cristo quem disse que "Quem não é contra nós, está a nosso favor"? Será que ninguém conseguia enxergar isso? Queria que todos compreendessem, mas só encontrava radicalismo.
continua...