03 novembro 2006

Gnose


A palavra Gnose deriva do grego: gnosis = conhecimento. Hoje, o termo pode ser utilizado para designar um grupo místico religioso de origem milenar. Esse grupo teria surgido nos primeiros anos após a crucificação de Cristo, a partir de uma corrente dissidente do grupo cristão principal, que seguia os discípulos diretos. Nessa época, teve início, na região da Palestina, uma profusão descontrolada de lendas envolvendo Jesus e seus feitos - sua verdadeira doutrina, seus poderes, sua aparência, etc. Surgiam numerosas teorias que tentavam explicar o verdadeiro caminho ensinado por ele para se alcançar a vida eterna. A maioria vinha revestida por uma caráter misterioso, secreto, hermético, cujos segredos mais profundos só poderiam ser revelados aos que se dispusessem a se iniciar nos "Mistérios". Esses grupos dissidentes, muitas vezes conflituosos entre si, depois de algum tempo, passaram a ser denominados “gnósticos”. Esse termo, hoje um tanto genérico, pode significar o oposto de “agnóstico”, ou seja, usado para designar todo aquele que tem fé. Aqui no Brasil, como em diversos outros países, principalmente sul-americanos, os gnósticos que se auto-proclamam descendentes diretos destes grupos cristãos primitivos, estão hoje organizados em um grupo fundado na década de 70, no México, por Victor Manuel Gómez Rodríguez, mais conhecido como Samael Aun Weor (O Quinto Anjo do Apocalipse - o Senhor do Quinto Raio - O Logos de Marte - o Décimo Avatar de Vishnu), líder místico nascido em 1917, na Colômbia, autor de 72 livros e fundador da “Igreja Gnóstica Cristã Universal”.

O movimento gnóstico, ou "Gnose", é uma ordem místico-religiosa bastante interessante. Para qualquer pessoa empenhada no estudo da religião, como eu, é um prato cheio. A exemplo de Kardec, Samael foi um incansável pesquisador, organizador e sintetizador das grandes religiões universais em todos os tempos. Seu próprio nome iniciático demonstra isso claramente: Samael vem do hebraico, em alusão aos antigos profetas bíblicos e aos anjos judaico-cristãos. Aun é uma corruptela do chamado “som universal” apresentado no Yoga, derivado da língua sagrada hindu, o devanagári (A mesma dos sutras indianos - na verdade, essa adaptação foi equivocada, já que o modo correto de se pronunciar seria “OM”, e nunca “AUM” como fazem os gnósticos. Qualquer estudante de Swasthia Yoga, por exemplo, sabe disso). Quanto ao Eor, bem, aí a coisa se complica um pouco. Teoricamente poderia ter origem numa língua alienígena ou num idioma proveniente de algum dos níveis sutis do "astral".

Como eu disse no post anterior, pretendo voltar ao assunto “ordens esotéricas”, no futuro, porque há muitíssimas informações interessantes a esse respeito, e um post só não seria suficiente para tratar o assunto. Por enquanto, deixarei apenas um rápido apanhado das minhas impressões e do conhecimento que de fato pude adquirir em cada uma dessas confrarias.

Cheguei ao prédio onde funcionava a sede da Gnose em São Paulo, na rua São Joaquim, bairro homônimo, e fui convidado a assistir uma palestra de apresentação. Bem, todos que já me conhecem sabem que eu estou preocupado, antes de qualquer coisa, em encontrar a Verdade onde quer que ela esteja, e, por isso mesmo, no geral, o esoterismo não tem muito a ver comigo. Há muita “viagem” envolvida, muito misticismo gratuito, alegações feitas sem nenhum embasamento sólido, prontamente aceitas pelos membros como realidade incontestável. Mas, no caso da Gnose, eu confesso que, em princípio, fui seduzido. Se não pela possibilidade de encontrar ali as respostas que eu procurava, ao menos pela riqueza cultural e a possibilidade de acesso à vasta quantidade de informação sobre mitologias diversas. A título de curiosidade, se encarada como uma forma de aprimorar minha “bagagem” cultural a respeito das religiões e filosofias antigas, freqüentar as unidades e fazer os cursos gnósticos foi uma experiência bem interessante.

Eu me matriculei no curso “Introdução ao Conhecimento Gnóstico”, cuja proposta era ensinar como responder ao mitológico “enigma da esfinge”: “Decifra-me ou te devoro!” – Segundo os gnósticos, responder a este enigma equivale a responder às 4 perguntas clássicas da “Senda da Iniciação” que conduzem a “ser ou não ser”, isto é: Continuar sendo ou não um “animal humano”. O animal humano vive para atender exclusivamente ao chamado da natureza. Foi feito pela natureza, vive pela natureza, e servirá como alimento para a natureza (Trágico assim). Aliás, os gnósticos não gostam nem um pouco da natureza, eles vêem nela a razão de todo infortúnio, e não acreditam na sua origem divina, mas sim que teria sido criada por demiurgos malignos, dispostos a prejudicar a humanidade, mandando-a de vez ao fogo do inferno e ao sofrimento eterno. Assim, para não continuar sendo apenas um animal racional, seria necessário ao homem “escapar” da natureza, e ir bater às portas dos “Mistérios”, para pedir a Iniciação. Depois, passar por uma série de provas específicas, assumir a “disciplina hermética” como norma de vida e fazer nascer dentro de si o “Filho do Homem”. Seguem palavras textuais da apostila gnóstica:

Diante do grande espelho da vida, o Grande Mestre diz àquele solitário buscador que ousadamente decidiu enfrentar a Esfinge: Olha-te! O que vês? Não passas de simples crisálida humana! É preciso re-evoluir e chegar a possuir a tua Alma. Se alcançares tal grau, depois ser-te-á ensinado como encarnar o teu espírito! Estás preparado? Se o aspirante responde sim, a Deusa Psique começa a ensinar-lhe as primeiras letras da ciência sagrada e o Deus Hermes o instrui nas fórmulas sagradas que o levarão a preparar o sal, o enxofre e o mercúrio – os elementos básicos da Grande Obra. Se o aspirante não desistir pelo caminho, um dia o Grande Mestre lhe entregará a Espada de Fogo e o Báculo de Poder. Então, o antigo animal humano terá se transformado num novo Deus da Natureza, e os céus celebrarão uma grande festa nesse dia”.

Bem, meus caros, dentre os requisitos necessários para a concretização desse processo de renascimento, um dos principais é Não praticar o sexo “normal”, isto é, a ejaculação é proibida aos homens(!). Aprende-se até um exercício mental para bloquear a ejaculação. Deve-se praticar o ato sexual apenas por um período específico de tempo, e depois parar, sem consumá-lo (ejacular). A razão desta norma de conduta se deve ao fato de os gnósticos acreditarem que toda energia atuante em nosso plano de existência deriva da energia sexual. Por isso mesmo, não poderíamos desperdiçar essa força tão poderosa no ato do coito. Sobre isso, me lembro de um diálogo que tive com um colega “aspirante”, uma figura muito engraçada, uma vez ele me disse mais ou menos o seguinte: “Meu amigo, não estou agüentando mais! Estou praticando essa técnica há mais de um mês. Depois da transa, minha mulher vira e dorme. Mas eu fico acordado por horas, desesperado, com o #*!#& duro! Ontem mesmo eu tive um sonho erótico, acabei ejaculando do mesmo jeito, só que eu estava dormindo. Será que estou fazendo alguma coisa errada?”... :-P

Algumas curiosidades e considerações sobre os gnósticos:

# Afirmam que civilizações extra-terrestres estão prestes a entrar em contato conosco, a qualquer momento, entre hoje (ouvi isso em 1994) e o ano de 2043.

# Se propõem a estudar religião, magia, mitologia, filosofia, psicologia, alquimia, ciência, antropologia, história das civilizações antigas, etc, etc (Parece até o descritivo do Arte das artes)... Como podem perceber, tudo a ver com o velho H K aqui, mas nesse processo acabam fazendo uma grande salada com tanta informação misturada.

# Dentro da ordem, não faltam “mestres” que afirmam ter o poder para conversar com Jesus (na hora em que bem entenderem), para fazer chover ou parar tempestades e muitas outras coisas como essas.

# Afirmam que o macaco e outros animais derivam do homem.

# Afirmam que o homem surgiu na Terra há 300 milhões de anos, e que há 18 milhões de anos éramos seres hermafroditas, quando ocorreu a separação dos sexos e quando imperavam em nosso mundo os fenômenos telúricos, intensamente.

# Afirmam que Lemúria e Atlântida de fato existiram, e que são as sucessivas oscilações do eixo terrestre que fazem aparecer e desaparecer continentes inteiros, como está prestes a acontecer, a partir de agora e antes de 2043.

# Samael Aun Weor, segundo um de seus secretários, afirmou, textualmente, sobre seus livros: “Se pudesse, queimaria todos eles” (Sendo assim, porque hoje seus seguidores têm esses mesmos livros como base de fé?).

# Samael Aun Weor foi preso em sua terra natal, a Colômbia, em 1952, sob acusação de curandeirismo, e teve que fugir do país, tendo ido se exilar no México, lá permanecendo até o fim da sua vida.

# Acreditam ainda que o mesmo Samael Aun Weor, falecido há quase três décadas, viveria hoje, depois de ter ressuscitado, em algum esconderijo secreto no Tibet, junto com inúmeros outros “grandes mestres”, que formam a “Muralha Guardiã do Mundo”, intercedendo por nós, pobres ignorantes, até o ano de(adivinha?) 2043, data prevista por ele para o fim do mundo.

Concluí os cursos introdutórios à Gnose. A partir daí, o próximo passo seria iniciar um período de maior devoção à Ordem, quando me tornaria um serviçal voluntário em alguma das suas unidades. Preciso dizer que foi nesse momento que eu dei meu adeus ao movimento gnóstico internacional?