04 outubro 2006

De volta ao Espiritismo - parte 2

Quando cheguei ao centro espírita mencionado no post anterior, no Bairro da Mooca, em São Paulo, cujo nome e endereço prefiro omitir, encontrei um alto muro pintado com cal tingido de amarelo, e um portão de ferro por cujas frestas se podia visualizar, no lado de dentro, uma ampla área livre. No papel que eu tinha em mãos, constava um horário de sessões às 15 horas, todas as terças feiras. Toquei a campainha e fui de pronto recebido, por uma moça toda vestida de branco, com grande amabilidade e simpatia. O centro em questão era nada mais que uma antiga casa térrea, bem ao estilão “retrô” típico da década de 70, com esse grande quintal gramado na frente e um jardim muito bem cuidado. Ao fundo do terreno havia um salão que mais parecia uma estufa para o cultivo de plantas, com as paredes da frente todas em vidro, e muitas samambaias e outras plantas ornamentais pendendo do beiral de madeira que ficava rente ao telhado. Essa moça me pediu que esperasse numa ante-sala, uma espécie de quartinho, de onde podia ver, pela janela, o salão principal, e através das suas paredes de vidro podia ver também a atividade das pessoas lá dentro, em volta de uma mesa comprida, com uma toalha branca, vasos com flores e alguns copos com água.

Até então, ninguém havia me perguntado absolutamente nada, apenas me cumprimentaram com um “boa tarde” e depois pediram que aguardasse, que a sessão já ia começar. Também não questionei nada, afinal estava ali para aprender, mesmo... Fiquei sentado aguardando por algo em torno de 15 minutos, mais ou menos o tempo que faltava para o início da sessão. Quando chegou a hora, uma senhora veio até o quartinho onde eu estava e me convidou para entrar no salão de vidro.

Entrei e vi que haviam reservado um lugar para mim à mesa. Estranhei aquela atitude, porque afinal eu não me manifestara com intenção de participar da sessão, nem me declarara espírita, nem nada. Na verdade, como já disse, nenhuma pergunta me foi feita. Apenas me disseram que duas médiuns participariam da sessão: Uma que psicografava mensagens do além, e outra que costumava incorporar (e falar com as vozes de) espíritos desencarnados. E que se eu tivesse algum problema pendente, muito provavelmente não sairia dali sem uma resposta. Imediatamente pensei: “A ocasião é perfeita!” – Como mencionei no post anterior, o meu momento era extremamente difícil, eu me encontrava emocionalmente arrasado, por conta do fim de um relacionamento (Eu estava mesmo muito chateado, irritado, aturdido, procurando uma saída).

Entrei e a sessão começou. Foi colocado num antigo aparelho de som uma fita k7 com a música Ave Maria, de J S Bach, rolando sem parar; terminava e começava novamente a mesma música. As luzes foram apagadas, as cortinas se fecharam e o ambiente foi tomado por uma penumbra suave. A dirigente do centro, sentada à cabeceira da mesa, convidou todos os presentes a rezar um “Pai Nosso”, e logo em seguida uma “Ave Maria”. Depois das orações feitas, ela pediu que todos fechassem os olhos e elevassem o pensamento a Deus. Eu fechei meus olhos, e, depois de alguns minutos, comecei a ouvir um ruído de sussurros ecoando ao redor do ambiente. Todos estavam orando baixo, e o que se podia ouvir era uma profusão de cochichos pelo ar. Estavam presentes à reunião cerca de oito ou dez pessoas, aproximadamente. Chegou um momento em que o tom e o volume das vozes de todas essas pessoas, recitando orações ao mesmo tempo, começou a se elevar, chegando a ficar incômodo. Mais alguns minutos e o ruído voltou a se acalmar. Foi nesse exato instante que eu percebi que aquela senhora que se dizia psicógrafa, que estava sentada bem ao meu lado, começava a puxar folhas de papel sulfite de uma pilha e a rabiscar grandes letras em várias delas, uma após a outra, num ritmo frenético. Logo em seguida, a outra senhora, da qual haviam me dito que incorporava espíritos começou a falar sem parar, primeiro palavras ininteligíveis, e depois algumas frases desconexas. Num dado momento, ela começou a falar com uma voz como que de criança, perguntando pelo papai e pela mamãe. Continuamos todos imóveis, em volta daquela mesa, por cerca de uns quarenta minutos ou um pouco mais. Por fim, a sessão se encerrou e terminamos novamente com orações.

As luzes se acenderam, todos se cumprimentaram, e a senhora que escrevia nas folhas de papel começou a ler em voz alta o que havia escrito. Eram diversas mensagens simples, frases de otimismo e chamados à fé cristã. Numa das últimas folhas, ela me disse que havia recebido uma mensagem dos espíritos superiores que deveria ser lida para mim! Imediatamente pensei: “Será que agora eu vou ter uma prova definitiva da autenticidade dos fenômenos espíritas?” – Um breve momento de tensão, ela ajeitou os óculos sobre o nariz e então começou a leitura. O conteúdo era o seguinte:

O 'moço bonito’ que veio nos visitar atravessa um momento maravilhoso na sua vida, ele não veio procurar respostas para os seus problemas, veio para ajudar. Hoje foi a primeira de muitas visitas, a partir de hoje ele se tornará um freqüentador constante. Nosso conselho é que ele se esforce para manter esse estado de alegria em que se encontra, para que a sua fé seja constante e para renovar-se, diariamente, em festa de amor e luz”.


O que eu achei de tudo:

Bem, posso deixar aqui o meu testemunho de que aquela senhora, que supostamente incorporava espíritos desencarnados, em momento algum falou com uma voz que não fosse a dela própria. E no instante em que começou a falar com voz de criança... Bem, eu posso afirmar sem medo de errar que ela estava na verdade tentando imitar a voz e o jeito de falar de uma criança. Até porque crianças não tentam falar “fino”. Elas falam assim porque suas vozes são naturalmente agudas, devido à conformação física das pregas vocais e da laringe. Portanto, se o espírito de uma criança viesse a falar por intermédio de um corpo físico adulto, a voz sairia com o mesmo timbre da voz desse adulto, falando normalmente. A diferença estaria no modo de se expressar, evidentemente. Além disso, todos os supostos espíritos que incorporaram na suposta médium durante a sessão tinham os mesmos vícios de linguagem da própria médium. Todos esses "espíritos" usaram a palavra “evidentemente", por exemplo. Exatamente a mesma palavra que a suposta médium tinha mania de repetir, em praticamente todas as frases que dizia. Então, só posso concluir que, se pessoas “desencarnadas” realmente falaram por meio desta senhora, por alguma incrível coincidência, todos eles tinham os mesmos vícios de linguagem que ela. Quanto a psicografia... Bem, no que dizia respeito à minha pessoa, não podia estar mais errada. Como já disse, eu atravessava um momento realmente muito difícil, meu espírito se encontrava agitado, ressentido, abalado. Portanto, dizer que eu atravessava “um momento maravilhoso...” nada mais distante da verdade. Dizer que eu não estava ali em busca de respostas, mas sim para "ajudar" também era totalmente equivocado. A verdade era o contrário disso. E talvez o erro maior tenha sido dizer que “Hoje foi a primeira de muitas visitas, a partir de hoje ele se tornará um freqüentador constante...” – Na verdade, eu nunca mais voltaria àquele lugar.

Ainda continua...