07 novembro 2006

Rosa Cruz - AMORC

A próxima ordem místico-esotérica que eu conheci foi aquela que se auto designa pela sigla AMORC = Antiga e Mística Ordem Rosae Crucis. Conhecer a Gnose fez aumentar meu “apetite” por mistérios e sociedades secretas.

Por diversas vezes eu já tinha passado em frente ao edifício da Grande Loja Rosa Cruz, à Rua Borges Lagoa, Bairro Santa Cruz, região nobre de São Paulo. Uma construção impressionante, para dizer o mínimo. O acesso ao prédio se dá através um espaçoso corredor, de uns vinte metros de profundidade, que avança em meio a um belo jardim arborizado. Esse corredor é mais como uma espécie de “avenida”, ladeada à direita e à esquerda por duas filas de grandes estátuas em calcário, representando esfinges deitadas, com enigmáticos hieróglifos inscritos nas suas laterais. Esse caminho, que parece saído de algum sonho místico, conduz às grandes portas de bronze (que eu calculo tenham em torno de 2 metros e meio de altura), por onde se entra na Grande Loja, e no meio das quais se encontra incrustrado o símbolo Rosa Cruz, composto de um triângulo invertido com uma cruz no centro, e as letras R + C na base, tudo dentro de um grande círculo. No topo da fachada em pedra, estão entalhadas as palavras ROSA CRUZ - AMORC, bem ao estilo egípcio (Para ver fotos, clique aqui) .

Eu fiz a minha visita logo após o meu desligamento da Gnose, numa terça feira, único dia em que as grandes portas de bronze se abriam às visitas. Depois de subir as escadas que dão acesso ao grande saguão de entrada, fiquei deslumbrado com a beleza, a imponência e a organização do lugar. No centro do enorme salão, mais um jardim, com outra esfinge no centro, igual às da parte externa, voltada para a entrada. Havia passagens nas duas extremidades deste suntuoso recinto, que davam acesso a escadas, de um lado, para subir, e de outro, para descer, levando a ambientes diversos. O lugar estava tranqüilo, com poucos visitantes, passeando para lá e para cá. Improvável estar naquele lugar e não se sentir envolvido por um “clima” de mistério. Minha atenção se voltou para um enorme quadro, na parede de fundo, retratando algum ritual antigo, dentro de um templo egípcio. Nas paredes ao redor, por todos os lados, haviam representações do panteão mitológico egípcio. À esquerda de quem entra, uma espécie de pequeno museu, com um acervo de obras de pintura de diversos artistas rosacruzes.

Fui recebido por um homem que aparentava ter algo em torno de 45 anos, vestido com um terno escuro, bastante receptivo, com um sorriso no rosto. Eu, que estava me sentindo meio perdido, sozinho naquele lugar enorme e cheio de luxo, disse ao homem que queria saber sobre a Ordem, da qual conhecia muito pouco, apenas informações esparsas, de citações que lera, neste ou naquele livro. O homem (não me lembro seu nome) assentiu com a cabeça, e perguntou se eu tinha o desejo de me associar. Eu respondi, sorrindo, que assim que soubesse o significado disso, estaria em condições de responder. Achei um pouco estranho o fato de me convidarem, assim rapidamente, a fazer parte de uma sociedade que tinha fama de ser tão hermética. O homem também riu, e começou uma detalhada explicação:

“A nossa Ordem é uma organização internacional, de caráter místico-filosófico, com a missão de despertar o potencial humano, e ajudá-lo em seu desenvolvimento, tanto material quanto espiritual (essa frase está no folheto). Temos uma forte influência das tradições egípcias. Assim como na maçonaria, usamos o termo ‘Loja’, e não ‘Templo’. O templo é voltado à adoração, e as lojas são lugares para reunião e estudo. Acreditamos firmemente no desenvolvimento pessoal, individual, e nos propomos a promover este desenvolvimento, através de um tipo de ‘treinamento’ específico, que possibilita aumentar muitíssimo o potencial humano. Acreditamos ainda que o auto-conhecimento leva à uma interatividade maior com o ‘Eu interior’”.

Obviamente, eu queria saber muito mais sobre a Ordem secreta, minhas perguntas estavam apenas começando. Eu não iria sair dali sem antes aprender todo o possível sobre a AMORC. O homem, depois de um tempo, percebeu que eu iria mesmo “alugá-lo” por toda a noite, e como haviam poucos visitantes e vários recepcionistas, se resignou em ser meu cicerone particular, me dando todas as informações permitidas. Começou me explicando, justamente, que apenas uma parte dos conhecimentos e costumes é aberta ao público, e que o principal é reservado apenas para os membros, que eles chamam de “associados” (Não gosto nada desse termo, ele passa uma inconveniente impressão de comércio, de algo que está à venda, o que não deveria ser o caso).

Fui levado até a grande e bela biblioteca, repleta de livros esotéricos. Depois, ao bazar, onde estão à venda estatuetas de esfinges, pirâmides, símbolos rosacruzes, incenso, publicações esotéricas, etc. Há ainda uma sala de rituais, sobre os quais ele não me falou muito. Tem a ver com cerimoniais em que se usam espadas, punhais e pentagramas. O tempo todo, ele fazia questão de me deixar bem claro que os objetivos eram sempre benéficos, que não tinham nada a ver com rituais de magia negra ou satanismo, como foram muitas vezes acusados. Pensei comigo que o fato de conservarem esses mistérios e segredos todos é que geravam esse tipo de especulação. Porque uma ordem voltada apenas para o bem de todos e a ajuda mútua dos seus membros deveria ser secreta, funcionar escondida do grande público? Mas eu nada disse. Esperei a continuidade das explicações:

Conforme eu cobria de perguntas o paciente homem, ele ia me explicando tudo: Os princípios seguidos pela Sociedade Secreta Rosa-Cruz teriam sua origem na época do Egito antigo, estabelecidos pelo famoso faraó Akenaton (ou Amenófolis IV), o grande homem que introduziu (ou tentou introduzir) o monoteísmo em seu país. Por essa razão, ele foi acusado de heresia pelos sacerdotes dos diversos deuses que eram então adorados. Acabou entrando para a História como o “Faraó Herege”.

Mas a origem real da filosofia Rosa Cruz se deu na Europa do século XII. A primeira constituição Rosa Cruz foi feita em 1567, por um místico alquimista europeu, que escreveu também o livro "A Reforma Geral do Mundo", em 1614, que contém um pouco da história da Ordem. Seu nome era Christianus Rosenkreuz (considerado o fundador da atual Ordem). Ainda criança, ele foi enviado a um mosteiro, para aprender latim e grego. Um dia, um dos monges o levou a uma peregrinação pela Terra Santa. Com apenas 16 anos, Rosenkreuz se viu sozinho na ilha de Chipre, pois o monge, já velho, morreu durante a viagem. Por conta própria, viajou pela Arábia e Egito, onde estudou com vários sacerdotes e recebeu conselhos para ajudá-lo em sua rotina diária. Depois disso, voltou à Europa, decidido a fundar uma Ordem. Mas poucas pessoas o escutaram, porque suas idéias sugeriam relações místicas e ocultas entre o Cristianismo e outras religiões do passado. Acabou optando por fundar uma sociedade secreta, já que esse tipo de associação estava em moda naquela época. Na Alemanha, conseguiu, depois de muito tempo, reunir um número razoável de seguidores, que começaram a se espalhar por outros países europeus, onde foram bem aceitos, à exceção da França. Segundo a lenda, Rosenkreuz morreu com 150 anos de idade, porque quis, e não porque tinha que morrer. E dizem que, quando abriram o seu túmulo, em 1604, seus seguidores encontraram, no interior, inscrições estranhas e um manuscrito com letras douradas...

Com o passar dos anos, a Ordem tornou-se ainda mais secreta, e centrou-se na tarefa de redescobrir os “segredos perdidos” da Ciência, em especial da Medicina. Novos candidatos à admissão tinham que prometer curar enfermos e comparecer a pelo menos uma reunião anual.

Alguns princípios e curiosidades Rosa Cruz, segundo me foi ensinado:

# O intento da AMORC seria o de fazer com que as pessoas, por meio do uso de conhecimentos milenares, pudessem descobrir-se e superar seus problemas pessoais, financeiros e temporários.

# Deus é a palavra usada para designar o Ser Supremo, ou Ser Cósmico. Sua essência está em tudo e compõe a alma humana. A Criação é uma manifestação dos atributos de Deus (ao contrário do que pensam os gnósticos).

# Dentro da Grande Loja há também o Grande Templo, onde visitantes não podem entrar. Ali são realizadas as cerimônias, apenas para associados, como o ritual secreto de iniciação, e até casamentos.

# Há apenas uma cerimônia aberta ao público. É o “Sanctum Celestial”, uma espécie de ritual de meditação, que permite ter-se uma idéia de como os rosacruzes trabalham.

# Além dos “Fráteres” e “Sórores” (classificações dos associados), as crianças participam ativamente dos trabalhos realizados nas Lojas. São chamadas de “portadores da espada”, por razões simbólicas. Os que atingem o mais alto grau dentro da AMORC são chamados “Magos”.

# As sociedades secretas, no passado, eram predominantemente masculinas; mas hoje, até mesmo Rosa Cruz e Maçonaria abriram suas portas às mulheres.

# No passado, (cerca de 100 anos após a fundação da Ordem por Rosencreuz), a AMORC sofreu muitos ataques por parte dos maçons. Mas isso acabou servindo para introduzir alguns usos e costumes maçônicos dentro da própria AMORC; hoje, diversos maçons são também rosacruzes.

# Diz a lenda que os rosacruzes são capazes de saber as horas com precisão, a qualquer momento, sem precisar olhar no relógio.

# A AMORC foi re-estabelecida, nos moldes atuais, em 1915, nos Estados Unidos (confusão essa história de várias fundações e origens diferentes...).

# Para entrar para a Ordem, é preciso pagar. Em dinheiro. E os valores não são baixos. Há uma taxa de inscrição e um valor trimestral, pelos estudos.

Esse último item talvez tenha sido o principal motivo que me levou a tomar a decisão de não me tornar um “associado” rosacruz. Não porque não pudesse pagar. Mas porque, por princípio, acredito que a Verdade deve ser e será, sempre, dada de graça, a quem busca com sinceridade e consciência. Este é um bom medidor para se diferenciar joio e trigo. Se não for assim, então não é o que eu procuro. Isso não quer dizer que eu condene os rosacruzes; acho que coisas muito interessantes e talvez até úteis podem ser aprendidas ali. Mas eu soube, sem nenhuma dúvida, que o meu caminho não passaria por ali.