10 novembro 2006

Yogananda - avatar do Amor

Para completar o tema “Esoterismo” e “Sociedades Secretas”, resta falar ainda sobre o Priorado de Sião, Templários, Illuminati e a Sociedade Teosófica, de Madame Blavatsky (e de onde surgiu Krishnamurti). Sobre os três primeiros, o meu conhecimento provém apenas do estudo aprofundado, por meio de cursos e da pesquisa nos livros. Por isso mesmo, serão abordas depois do término da narrativa da história da minha busca. Como já sabem, por hora, estou tratando apenas das situações que eu vivenciei pessoalmente. Quanto à Sociedade Teosófica, eu a conheci e conheço pessoalmente, mas houve um intervalo muito grande entre o que eu contei no último post e essa experiência (que na verdade foi recente, e decisiva para o desfecho da história da minha busca, até os dias de hoje). Entre a minha visita à Ordem Rosa Cruz e a minha chegada à Sociedade Teosófica, muita coisa importante aconteceu. Assim, para que essa narrativa tenha sentido, vou manter a ordem cronológica dos fatos.

Resolvi fazer uma pausa na minha pesquisa dos mistérios ocultos e esotéricos quando li, pela segunda vez, o livro “Autobiografia de Um Yogue Contemporâneo” (Cujo título, nas edições mais recentes foi simplificado para ‘Autobiografia de um Iogue’). O autor, Paramahansa Yogananda, nasceu na Índia, dentro da mais pura tradição hindu, com o nome de Mukunda Lal Ghosh (‘Yogananda’ é o seu nome de Swâmi, uma ordem monástica hindu tradicional, e ‘Paramahansa’ é um título religioso mais elevado). Durante sua vida, ele foi chamado ainda de “Premavatar”**. Lendo o livro, é fácil saber porque ele ganhou esse título.

Posso dizer, sem nenhuma dúvida, que de todos os livros que eu li, este foi um dos mais importantes para mim. Trata-se, como o próprio título diz, de uma autobiografia - a de um espiritualista singular: Yogananda. Ele conta a sua vida, desde o nascimento, em 1893, passando por sua infância, adolescência e juventude, chegando às suas realizações durante a fase adulta, até o ano de 1951. Este livro tem tudo a ver com o que eu faço aqui: É a história detalhada de um buscador, com suas alegrias e decepções, encontros e desencontros, etc.. E é cheio de passagens marcantes, belíssimas.

Os pais de Yogananda eram bengalis, da casta Xátria. Ele nasceu em Ghorakpur, nordeste da Índia, perto das montanhas do Himalaia. Bem nascido (seu pai era vice-presidente de uma das maiores companhias ferroviárias da Índia), ele foi, desde muito pequeno, educado nos princípios do hinduísmo, ouvindo as histórias do Mahabhárata e do Ramayâna, contadas por sua mãe, uma piedosa senhora. Mas Yogananda já havia nascido agraciado com o dom do Amor, e desde a mais tenra infância, segundo o livro, viveu experiências sobrenaturais inefáveis, muitas das quais presenciadas por diversas testemunhas. Ainda muito pequeno, com aproximadamente 7 anos de idade, sentiu-se assaltado por um pensamento que lhe avassalou à mente: “Que há por trás da obscuridade dos olhos?”... Então ele teve uma visão de Íswara (nome sânscrito para designar um dos aspectos de Deus), que lhe dizia: “Eu sou Luz!” – Yogananda teria respondido: “Quero unir-me a Ti!” Depois que a visão desapareceu, uma certeza ecoava em sua jovem mente: “Ele é a Alegria sempre renovada!” – Essa lembrança perduraria até o fim de sua vida. Até hoje, na "Self Realization Felowship", organização fundada pelo próprio Yogananda, usa-se um canto mântrico composto por ele mesmo, alusivo à essa descoberta, cuja letra transcrevo abaixo, em português:

“Ó meu Rei do Infinito (Deus), eu Te vejo em Samadhi! - Em Tua Luz há Alegria,Cada vez mais alegria!”

Uma outra memória da sua infância: Ainda pequeno, de pé na sacada de sua casa, em companhia de Uma, sua irmã mais velha, ele viu dois meninos empinando pipas (ou papagaios) sobre o telhado de dois edifícios vizinhos, separados de sua própria casa por uma rua. Então ele disse: “Estou pensando como seria maravilhoso se a Mãe Divina me desse tudo o que eu pedisse”. – Sua irmã, ouvindo isso, caçoou dele: “Suponho que ela lhe daria aqueles dois pipas”, e então Yogananda se pôs a rezar silenciosamente, pedindo pelos pipas. Logo depois, os meninos começaram a competir (do mesmo jeito que aqui no Brasil, eles também usam cortante, para cortar a linha um do outro); uma das linhas foi cortada, e imediatamente o pipa flutuou na direção de Yogananda. Sua irmã então lhe disse que isso teria sido apenas uma grande coincidência, e que ela só acreditaria se o outro pipa também viesse cair nas suas mãos. Yogananda relata que voltou a rezar. Logo a seguir, a linha do segundo pipa se rompeu, e ele veio, bailando ao vento, direto na sua direção. Yogananda apresentou seu troféu a Uma dizendo: “A Mãe Divina escuta, certamente!”.

Este relato é apenas um pequeno "aperitivo" da história de Paramahansa Yogananda, neste épico de 457 páginas, onde um dos mais influentes gurus*** espirituais da História moderna conta sua vida, em minúcias. Há muitas passagens emocionantes, como os relatos das diversas visões místicas ou a ocasião em que ele encontra seu próprio bem-amado guru, Sri Yuktéswar. Yogananda sempre traçou paralelos entre todas as boas religiões do mundo. Ele "alternava" visões de Jesus Cristo com as de Krishna e as da Mãe Divina. Pra ele, não haveria discrepâncias entre as diferentes maneiras de se entender ou interpretar a Verdade por trás dos véus de Maya (mundo físico ilusório). Assim, ele era um devoto tão ardoroso dos deuses e santos hindus quanto de Jesus e dos santos cristãos, sem diferenciação. Ele seguia, por exemplo, um ritual específico para celebração do nascimento de Cristo, no Natal.

A base de seus conhecimentos era centrada na prática regular do Yoga, em especial o Kriya Yoga. Segue um trecho do livro:

A ciência Yogue fundamenta-se no exame empírico de todos os tipos de exercícios de concentração e de meditação. O Yoga habilita o devoto a desligar, e a voltar a ligar, voluntariamente, a corrente vital aos cinco ‘telefones’ sensoriais: visão, audição, olfato, paladar e tato. Alcançando este poder de desligar os sentidos, é simples para o yogue unir sua mente com os reinos divinos ou com o mundo da matéria, à vontade. Ele não é mais trazido pela força vital, contra sua vontade, à esfera mundana de sensações desordenadas e de inquietos pensamentos. A vida de um Kriya Yogue adiantado depende não dos efeitos das ações anteriores, mas apenas das diretrizes de sua alma. O devoto evita assim os monitores lentos e evolutivos das ações egoístas, boas ou más, da vida comum – lerdos e enfadonhos como lesmas para os corações de águia. Pelo método superior de viver em sua alma, o yogue se alforria, emergindo da prisão do ego, e respira o ar profundo da onipresença”.

** Premavatar significa “Encarnação do Amor” (porque será que eu me identifico tanto com Yogananda?). Mahavatar significa “Grande Encarnação”, ou “Encarnação Divina”. Yogavatar significa “Encarnação do Yoga”. Jnanavatar significa “Encarnação da Sabedoria”.

*** A palavra guru quer dizer “aquele que dissipa as trevas” - do sânscrito gu = trevas, e ru = o que dissipa.

Continua