16 agosto 2006

O segundo Pilar - conclusão

Ok, a leitura deste livro foi muito importante. Mas muito mais importante foi a descoberta que eu fiz, direta ou indiretamente, por intermédio desta leitura. Na época em que tomei conhecimento destas novas idéias, minha mente ainda contava com muito “espaço livre”, ainda havia em mim tranqüilidade suficiente e disposição para auferir novos modelos de pensamento e novas formas de interpretar a vida. Ainda não haviam conceitos pré-instalados, como costuma acabar acontecendo com qualquer pessoa que tenha estudado muito. Também por isso as informações desse livro foram assimiladas e compreendidas com uma facilidade e uma totalidade que talvez hoje não seriam possíveis. Finalmente, agora você vai saber o porquê do título desse post, apresentado em três partes...

A história do livro se passa nos campos do meio-oeste americano, onde o protagonista - o próprio autor - um aquariano típico, sonhador e regido pelo elemento ar, abandonou tudo, para viver de levar passageiros para dar voltas no seu pequeno avião biplano (Richard Bach é apaixonado por aviões e o velho sonho humano de voar, essas mesmas alusões se encontram nos seus “Fernão Capelo Gaivota” e “Longe é um Lugar que Não Existe”). Num dado momento, esse protagonista encontra um homem que faz exatamente a mesma coisa pra viver: Donald Shimoda, que não é outro senão o “messias”, descrito no primeiro capítulo, do qual transcrevi alguns trechos no post anterior. A empatia entre os dois é imediata, e, a partir deste encontro, os dois passam a trabalhar como parceiros. Convivendo diariamente com este ser misterioso, Richard passa a aprender a Verdade diretamente da boca de um autêntico Mestre. A partir daí, princípios fundamentais da tradição oriental começam a jorrar destas páginas leves, porém profundas. Importante frisar que estes princípios filosófico-espirituais são sempre apresentados de um ponto de vista absolutamente descontraído (o autor é um norte-americano convicto). E foi um dos primeiros ensinamentos deste “messias”, encontrado por Richard em algum imenso campo relvado entre Indiana e Illinois, que terminou por me levar à compreensão de uma base fundamental da vida. Fundamental principalmente para qualquer buscador da Verdade, questionador e irrequieto, como eu. Esta base está presente na Bíblia, nos Vedas e Upanishads, nos Sutras Budistas, e até onde eu sei, consta dos princípios básicos de todas as grandes religiões. Mas, por algum motivo, destes que não entendemos, eu a aprendi por meio de um hippie americano meio amalucado, completamente avoado, assim como eu.

Cada vez que Richard perguntava algo muito importante para Shimoda, ao invés de uma resposta simples, quase sempre ganhava a seguinte resposta: “Olhe para dentro de si. Ao perguntar, automaticamente você encontra sua resposta. Isso acontece porque a Verdade já está dentro de você”. Isto me marcou de uma maneira profundíssima, porque eu, de imediato, percebi que era real. O entendimento desta realidade tão simples, porém essencial, tocou meu espírito. Meu modo de entender a vida e as minhas percepções de mundo instantaneamente mudaram, e para muito melhor. Encontrei o Segundo Pilar para minha vida.

O Segundo Pilar:
Antes de qualquer coisa, devo consultar a mim próprio. Olhar para dentro de mim mesmo, com absoluta sinceridade, e fazer as perguntas. A resposta virá. Nem sempre o Caminho pode ser encontrado num livro, ainda que seja um Livro Sagrado. Nem mesmo os mestres irão abrir a minha mente para inserir lá o entendimento. Posso acumular conhecimento, colecionar citações bonitas, mas a compreensão só pode ser encontrada dentro, e não fora. A minha consciência é que me orienta, é meu guia infalível entre certo e errado. Mas escutá-la nem sempre é fácil! A Arte das artes é aprender como ver e ouvir a Verdade, que habita dentro de mim. E viver em acordo com ela.


Nada lhe posso dar que não exista em você mesmo. Não posso abrir-lhe outro mundo além daquele que há em sua própria alma. Nada lhe posso dar, a não ser a oportunidade, o impulso, a chave. Eu o ajudarei a tornar visível o seu próprio mundo, e isso é tudo”.
(Hermann Hesse)

A ciência é incapaz de resolver os mistérios finais da natureza, porque nós somos parte da natureza e, portanto, do mistério que tentamos resolver”.
(Max Planck)

A música e o canto não criam no coração aquilo que não se encontra lá”.
(Abu Sulaiman Al-Davani; Filósofo do século IX)

Seja senhor de tuas vontades, e escravo de tua consciência”.
(Aristóteles)

"Não acrediteis em coisa alguma apenas por ouvir dizer. Não acrediteis na fé das tradições só porque foram transmitidas por longas gerações. Não acrediteis em coisa alguma só porque é dita e repetida por muitos. Não acrediteis em coisa alguma pelo fato de vos mostrarem o testemunho escrito de algum sábio antigo. Não acrediteis em coisa alguma só porque as probabilidades a favorecem ou porque um longo hábito vos leva a tê-la como verdadeira. Não acrediteis no que imaginastes, pensando que um ser superior a revelou. Não acrediteis em coisa alguma com base na autoridade de mestres e sacerdotes. Aquilo, porém que se enquadrar na vossa razão, e depois de minucioso estudo for confirmado pela vossa própria experiência, conduzindo ao vosso próprio bem e ao de todas as outras coisas vivas, a isso aceitai como Verdade. E daí pautai a vossa conduta!" 17:49.
(Sidarta Gautama, o Buda – no Kalama Sutra

Ponham à prova todas as coisas, e fiquem com o que é bom”.
(Paulo apóstolo, em I Tessalonicenses)