18 setembro 2006

A descoberta do Budismo

Uma coisa me incomodava: mesmo após longas e intensas sessões de meditação, eu retornava para o meu estado mental “normal”, depois de algumas horas. Ou então, na melhor das hipóteses, ao acordar no dia seguinte. O estado mental ordinário, de pensamentos compulsivos e ansiedade generalizada, era o meu padrão normal, até porque, eu sou um ser humano ansioso por natureza. Mas isso tinha que mudar! Caso contrário, eu não conseguiria chegar a lugar algum, na minha busca.

Em contrapartida, viver alienado do mundo, somente para a meditação, orações e estudo, o tempo todo, eu não podia. O mundo é dinheiro, tempo é dinheiro, a vida, aqui nesse planetinha (que era onde eu tinha nascido, afinal de contas) girava em torno do dinheiro. E eu precisava trabalhar, porque tinha nascido pobre. Mais do que isso, se eu quisesse ser “alguém” na vida, era preciso me interessar (e me dedicar) pelo menos o mínimo, pelas ciências secularistas. Precisava concluir meus estudos, me formar em alguma área, ainda que as coisas "do mundo" realmente não me interessassem o suficiente. Ou então eu poderia me tornar um andarilho, uma espécie de "Kwai Chang Kaine" tupiniquim, andando pelas ruas, vivendo de um “bico” aqui, outro ali, parando para meditar em cada banco de praça; levando a sabedoria e os benefícios do modo de vida Zen por todos os lugares em que eu passasse, através do meu exemplo(rs). Bem, mas eu achava que talvez a idéia não fosse de todo ruim. Alguém aí se lembra da série "Kung Fu", com David Carradine? Eu até entendia de artes marciais! Ah, como era bom sonhar...

Mas na cabeça de um garoto de 22 anos, preocupado mais do que tudo com a busca pela Verdade e pelas coisas de DEUS, isso não parecia tão insano quanto parece hoje. Ou talvez até parecesse loucura, mas no fundo era isso que eu mais queria: "Pirar" de vez, para o mundo materialista. Eu já me sentia mesmo um "estranho no ninho", nesse mundo, a maior parte do tempo... E foi exatamente nessa fase que eu conheci uma filosofia de vida que até então ainda me parecia distante e exótica.

O Budismo. Um caminho que me pareceu mais um modo de vida que uma religião, no qual a vida é interpretada com beleza e suavidade. A ênfase está mais no amor à sabedoria que nos rituais em si, e os devotos são exortados a realizar, cada um, sua própria “pesquisa” sobre as coisas, através da busca pessoal. Busca-se o fim do sofrimento, através do conhecimento da própria mente. Eu me encantei. Minha cara! Mas, antes de qualquer outra coisa, me encantou a história do fundador da religião, o Buda histórico, Sakiamuni, o príncipe Sidarta Gautama. Sua história de vida se parecia assustadoramente com a minha própria, dadas as devidas proporções. Ele abdicou de tudo para buscar a Verdade, a partir do momento que soube que existiam a morte, doença, miséria e sofrimento... Não tinha como não me identificar.

Foi assim que encontrei uma bela oportunidade para abraçar de vez o tipo de vida com a qual eu sempre sonhara: Passar meus dias inteiros estudando e meditando. Uma vida completamente devotada à busca do Sagrado, da Verdade suprema por que tanto ansiava. Simplesmente poderia viver para aquilo que eu achava o mais importante, e o que mais me realizava, isso em tempo integral. Como? Me tornando um monge budista!