A descoberta do Hinduísmo
Conhecer Yogananda e sua história, por meio da qual me foi possível tomar conhecimento da verdadeira essência do Yoga, enquanto caminho de vida, fez despertar em mim um interesse realmente vivo pela religião e pelas tradições hindus.
O termo “Hinduismo” se refere ao conjunto das tradições religiosas dos povos que constituiram uma grande civilização na região do Vale do Indo, em cerca de 6 000 a C. Esse termo passou a ser mais utilizado a partir da instalação do império britânico, como forma comum para se designar todas as (muitas) religiões oriundas principalmente do subcontinente Indiano. Há muito a ser dito sobre Hinduísmo, a terceira maior religião do mundo, com aproximadamente 1 000 000 000 de adeptos, e a mais antiga do planeta. Penso mesmo que cem posts não seriam suficientes.
O que mais me chamou a atenção, é o mesmo que costuma agradar aos buscadores criados na nossa tradição religiosa ocidental: A doutrina “Advaita” (literalmente, "não dois", ou "não dualidade"), que significa “não separação”**. Falando a grosso modo, a doutrina Advaita ensina que não há separação entre o “criador” e suas “criaturas”. O ser humano e toda a criação são entendidos como “parte” da Divindade, e não como elementos criados, separados dela. Assim, todo ser humano poderia ser considerado, em última análise, "uma parte" de Deus.
Esse modo de entender a vida está perfeitamente representado na imagem do “deus dançarino” Shiva. Enquanto dança, o deus mantém o Universo “em funcionamento”, já que, dentro da trindade hindu, ele é o responsável pela constante renovação cósmica. Análogamente, se ele parasse de dançar, seria o fim da vida, como a conhecemos. O universo é a “dança” do deus. Assim como a dança não existe sem o dançarino, o dançarino também não existiria, enquanto dançarino, sem a dança; portanto, nesta intrincada analogia, Deus, “é um” com a sua criação. O conceito da separação entre “criador e criatura”, conforme entendido pelas religiões monoteístas, não existe, mas sim uma única Existência Maior, Una e Maravilhosa.
Mas então, sendo assim, como explicar a existência do mal e da desarmonia? Simples: É que estaríamos, todos nós, seres humanos, sob a influência de "Mara", o demônio da ignorância e do apego, cegos para essa Realidade Maior, inefável. Nossas vistas encontram-se encobertas pelos “véus” de "Maya" (o mundo ilusório dos fenômenos), o que cria em nossas mentes a noção enganosa de separação da Realidade divina, a única que de fato existe. Por meio da prática diligente, o yogue pode conseguir retirar o véu de Maya da frente de seus olhos, e a partir desse momento ele passa a viver num mundo de beatitude, uma existência de bem-aventurança total. Com isso, muitas vezes, ele ganha poderes sobre-humanos, como uma espécie de “efeito colateral’, pois se torna senhor de si mesmo e dos elementos; algo como um co-criador da natureza e da sua própria vida (qualquer semelhança com o filme "The Matrix" não é mera coincidência).
Assim, sadhus (os homens “santos” da Índia) de todas as linhas desfilam às margens do sagrado Ganges, em especial nos festivais religiosos, como a “Kumba Mela”, demonstrando seus poderes sobrenaturais. Há os que trespassam seus corpos com todo tipo de objeto perfurante, lanças e pregos, sem demonstrar dor alguma. Há também os que pedem para que seus discípulos os enterrem vivos, dentro de caixões de madeira, sem água ou comida, onde permanecem, por semanas a fio, em posição de “rája padmásana” (lótus), sendo depois desenterrados, quando saem caminhando tranqüilamente, sorrindo e saudando os discípulos com “pujas”*** (Um desses casos está documentado e foi exibido na TV, na década de 90, no famoso programa "I Believe it or not?" - “Acredite se Quiser”). Há ainda muitíssimos casos de yogues que sobrevivem por anos sem se alimentar (muitas vezes vidas inteiras - alguns desses casos foram comprovados, com acompanhamento médico e exames clínicos, feitos por pesquisadores norte-americanos) - Esses fenômenos específicos recentemente ganharam popularidade através do livro "Viver de Luz", da autora norte-americana Jasmuheen. Há ainda os que afirmam não precisar dormir nunca, outros dos quais se afirma serem capazes de levitar, realizar a bilocação de seus corpos (estar em dois ou mais lugares ao mesmo tempo), etc, etc.
O conhecimento científico dos ríshis (os ancestrais dos yogues modernos) era muito grande. O "Kaushitaki Brâhmana" (escritura hindu) consigna fenômenos astronômicos exatos, indicando que, em 3100 a. C. os hindus estavam muito adiantados em astronomia, a qual tinha um valor prático para determinar os tempos favoráveis às cerimônias astrológicas. Eles detinham uma tradição científica que manteve a Índia na vanguarda das nações da antiguidade, e fez dela a "Meca" dos buscadores de conhecimento. "Brahma Gupta", um dos livros do "Jyotish" (astronomia/astrologia), é um tratado astronômico que estuda fenômenos como o movimento heliocêntrico dos planetas em nosso sistema solar, a obliqüidade da eclíptica, a forma esférica da Terra, a luz refletida da Lua, o movimento diário da rotação da Terra em redor de seu eixo, a presença de estrelas fixas na Via Láctea, a lei da gravitação, e outros fatos científicos que só vieram à luz, para o mundo ocidental, no tempo de Copérnico e Newton (!). Os chamados algarismos arábicos, de valor incalculável para o desenvolvimento da Matemática, chegaram à Europa no século IX, trazidos pelos árabes, mas originários da Índia, onde esse sistema de notação fora formulado na antiguidade. Diversos livros acadêmicos podem ser consultados para se conferir informações, em maiores detalhes, sobre a vasta herança científica da Índia.
Muito importante dizer aqui, e ressaltar, que a nação hindu não é tão politeísta quanto parece. A grande variedade de deuses, gênios e demônios citados nas escrituras vedicas, e que podem ser encontrados representados em seus templos, não devem ser entendidos no sentido literal. A maior parte das tradições ensina a interpretá-los apenas como representações da realidade, pura e simples. Apesar de alguns estudiosos chegarem a calcular em mais de trezentos milhões(!) o número de deuses no Hinduísmo, nega-se o politeísmo, pois todo esse panteão divino aponta para as diversas manifestações de um único Deus Maior. Assim, um hindu pode adorar um ou mais deuses, sabendo, porém, que se trata do mesmo princípio ou essência.
A mitologia e a cultura religiosa hindus são vastíssimas. E são muito, muito interessantes para o estudante das religiões. Eu, num primeiro momento, simplesmente me encantei. Essa nova forma de entender a natureza e a existência, como emanações do Sagrado (o que para mim era novidade) me agradou muito.
Passei a freqüentar vários templos hindus, como o Sahaja Yoga, que tem como guru a mestra Sri Mataji Nirmala Devi. Quando o conheci, este templo ficava no Bairro da Bela Vista, em São Paulo, na Rua dos Ingleses. Era um casarão antigo, transformado numa espécie de “áshram” (escola tradicional hindu, para ensino do Yoga integral, especialmente o aspecto religioso). Ali conheci um peregrino hindu antêntico, interessado em disseminar sua fé ao redor do mundo, que me ensinou muito. Esse é o tema do próximo post.
O termo “Hinduismo” se refere ao conjunto das tradições religiosas dos povos que constituiram uma grande civilização na região do Vale do Indo, em cerca de 6 000 a C. Esse termo passou a ser mais utilizado a partir da instalação do império britânico, como forma comum para se designar todas as (muitas) religiões oriundas principalmente do subcontinente Indiano. Há muito a ser dito sobre Hinduísmo, a terceira maior religião do mundo, com aproximadamente 1 000 000 000 de adeptos, e a mais antiga do planeta. Penso mesmo que cem posts não seriam suficientes.
O que mais me chamou a atenção, é o mesmo que costuma agradar aos buscadores criados na nossa tradição religiosa ocidental: A doutrina “Advaita” (literalmente, "não dois", ou "não dualidade"), que significa “não separação”**. Falando a grosso modo, a doutrina Advaita ensina que não há separação entre o “criador” e suas “criaturas”. O ser humano e toda a criação são entendidos como “parte” da Divindade, e não como elementos criados, separados dela. Assim, todo ser humano poderia ser considerado, em última análise, "uma parte" de Deus.
Esse modo de entender a vida está perfeitamente representado na imagem do “deus dançarino” Shiva. Enquanto dança, o deus mantém o Universo “em funcionamento”, já que, dentro da trindade hindu, ele é o responsável pela constante renovação cósmica. Análogamente, se ele parasse de dançar, seria o fim da vida, como a conhecemos. O universo é a “dança” do deus. Assim como a dança não existe sem o dançarino, o dançarino também não existiria, enquanto dançarino, sem a dança; portanto, nesta intrincada analogia, Deus, “é um” com a sua criação. O conceito da separação entre “criador e criatura”, conforme entendido pelas religiões monoteístas, não existe, mas sim uma única Existência Maior, Una e Maravilhosa.
Mas então, sendo assim, como explicar a existência do mal e da desarmonia? Simples: É que estaríamos, todos nós, seres humanos, sob a influência de "Mara", o demônio da ignorância e do apego, cegos para essa Realidade Maior, inefável. Nossas vistas encontram-se encobertas pelos “véus” de "Maya" (o mundo ilusório dos fenômenos), o que cria em nossas mentes a noção enganosa de separação da Realidade divina, a única que de fato existe. Por meio da prática diligente, o yogue pode conseguir retirar o véu de Maya da frente de seus olhos, e a partir desse momento ele passa a viver num mundo de beatitude, uma existência de bem-aventurança total. Com isso, muitas vezes, ele ganha poderes sobre-humanos, como uma espécie de “efeito colateral’, pois se torna senhor de si mesmo e dos elementos; algo como um co-criador da natureza e da sua própria vida (qualquer semelhança com o filme "The Matrix" não é mera coincidência).
Assim, sadhus (os homens “santos” da Índia) de todas as linhas desfilam às margens do sagrado Ganges, em especial nos festivais religiosos, como a “Kumba Mela”, demonstrando seus poderes sobrenaturais. Há os que trespassam seus corpos com todo tipo de objeto perfurante, lanças e pregos, sem demonstrar dor alguma. Há também os que pedem para que seus discípulos os enterrem vivos, dentro de caixões de madeira, sem água ou comida, onde permanecem, por semanas a fio, em posição de “rája padmásana” (lótus), sendo depois desenterrados, quando saem caminhando tranqüilamente, sorrindo e saudando os discípulos com “pujas”*** (Um desses casos está documentado e foi exibido na TV, na década de 90, no famoso programa "I Believe it or not?" - “Acredite se Quiser”). Há ainda muitíssimos casos de yogues que sobrevivem por anos sem se alimentar (muitas vezes vidas inteiras - alguns desses casos foram comprovados, com acompanhamento médico e exames clínicos, feitos por pesquisadores norte-americanos) - Esses fenômenos específicos recentemente ganharam popularidade através do livro "Viver de Luz", da autora norte-americana Jasmuheen. Há ainda os que afirmam não precisar dormir nunca, outros dos quais se afirma serem capazes de levitar, realizar a bilocação de seus corpos (estar em dois ou mais lugares ao mesmo tempo), etc, etc.
O conhecimento científico dos ríshis (os ancestrais dos yogues modernos) era muito grande. O "Kaushitaki Brâhmana" (escritura hindu) consigna fenômenos astronômicos exatos, indicando que, em 3100 a. C. os hindus estavam muito adiantados em astronomia, a qual tinha um valor prático para determinar os tempos favoráveis às cerimônias astrológicas. Eles detinham uma tradição científica que manteve a Índia na vanguarda das nações da antiguidade, e fez dela a "Meca" dos buscadores de conhecimento. "Brahma Gupta", um dos livros do "Jyotish" (astronomia/astrologia), é um tratado astronômico que estuda fenômenos como o movimento heliocêntrico dos planetas em nosso sistema solar, a obliqüidade da eclíptica, a forma esférica da Terra, a luz refletida da Lua, o movimento diário da rotação da Terra em redor de seu eixo, a presença de estrelas fixas na Via Láctea, a lei da gravitação, e outros fatos científicos que só vieram à luz, para o mundo ocidental, no tempo de Copérnico e Newton (!). Os chamados algarismos arábicos, de valor incalculável para o desenvolvimento da Matemática, chegaram à Europa no século IX, trazidos pelos árabes, mas originários da Índia, onde esse sistema de notação fora formulado na antiguidade. Diversos livros acadêmicos podem ser consultados para se conferir informações, em maiores detalhes, sobre a vasta herança científica da Índia.
Muito importante dizer aqui, e ressaltar, que a nação hindu não é tão politeísta quanto parece. A grande variedade de deuses, gênios e demônios citados nas escrituras vedicas, e que podem ser encontrados representados em seus templos, não devem ser entendidos no sentido literal. A maior parte das tradições ensina a interpretá-los apenas como representações da realidade, pura e simples. Apesar de alguns estudiosos chegarem a calcular em mais de trezentos milhões(!) o número de deuses no Hinduísmo, nega-se o politeísmo, pois todo esse panteão divino aponta para as diversas manifestações de um único Deus Maior. Assim, um hindu pode adorar um ou mais deuses, sabendo, porém, que se trata do mesmo princípio ou essência.
A mitologia e a cultura religiosa hindus são vastíssimas. E são muito, muito interessantes para o estudante das religiões. Eu, num primeiro momento, simplesmente me encantei. Essa nova forma de entender a natureza e a existência, como emanações do Sagrado (o que para mim era novidade) me agradou muito.
Passei a freqüentar vários templos hindus, como o Sahaja Yoga, que tem como guru a mestra Sri Mataji Nirmala Devi. Quando o conheci, este templo ficava no Bairro da Bela Vista, em São Paulo, na Rua dos Ingleses. Era um casarão antigo, transformado numa espécie de “áshram” (escola tradicional hindu, para ensino do Yoga integral, especialmente o aspecto religioso). Ali conheci um peregrino hindu antêntico, interessado em disseminar sua fé ao redor do mundo, que me ensinou muito. Esse é o tema do próximo post.
**Embora poucos saibam, há também, dentro do Hinduísmo, a doutrina Dvaita(separação), esta com princípios bem mais próximos aos das religiões ocidentais.
*** Cumprimento com as mãos postas, à altura do plexo solar, muitas vezes acompanhado da saudação “Namastê” = ‘a divindade que há dentro de mim saúda a divindade dentro de você’.
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