Novos rumos até o Yoga
No Brasil, como em outros países da América do Sul, a maioria das pessoas, mesmo as espiritualmente bem esclarecidas, não têm muita idéia do significado e da importância do Hinduísmo, não só para o desenvolvimento da espiritualidade mundial, mas também para a própria História da humanidade, como um todo.
O Hinduísmo, não no sentido de religião organizada, mas com o seu modo particular de interpretar a existência, me fez entender a vida de uma maneira muito mais agradável. Foi através do Hinduísmo, por exemplo, que eu entendi a experiência de auto-transcendência que eu havia experimentado. Os hindus sorriram quando eu contei minha experiência, dizendo que eu tinha vivenciado o que eles chamam de “samadhi” (sânscrito: literalmente, ‘dirigir juntos’; estado beatífico transcendente no qual se experimenta um estado de união com o Divino). Alguns deles me diziam, admirados: “Você deve ter vindo ao mundo com um propósito especial; muitos praticantes procuram por uma experiência como essa suas vidas inteiras, e não conseguem encontrar”. - Mas isso era tudo que não me importava ouvir. Esse tipo de "elogio" é uma espécie de tentação muito sutil. Se o indivíduo começa a acreditar nisso, quaisquer progressos feitos na busca (tão duramente conquistados) acabam se perdendo. A “soberba espiritual” é um dos maiores crimes que podemos cometer contra nós mesmos, uma das "ciladas" mais perigosas neste Caminho. Achar-se “o máximo”, é como cair num abismo; é esquecer, perder tudo. E, pra reaprender, depois, só escalando tudo de novo, centímetro por centímetro. Auto obervar-se é preciso - “Vigiai e orai...” - Sempre.
Eu já contei porque deixei o meu primeiro ashram, ao perceber que os alunos eram crédulos demais e presos demais a misticismo e dogmas, pra minha cabeça. E olha que eu nem contei, no post anterior, o que o Prassad Rao, aquele meu “chegado” indiano me contou uma vez. Me disse ele que, aqui mesmo no Brasil, há alguns anos, devotos de Shri Mataji fizeram uma experiência insólita com o objetivo de comprovar, empiricamente(...), que o retrato de Shri Mataji concentra poderes sobrenaturais:
Escolheram alguns bairros “barra pesada” do Rio de Janeiro, onde o crescimento da violência vinha aumentando muito. Pesquisaram dados nas delegacias desses bairros, montaram um registro detalhado das ocorrências e chegaram a uma estatística da criminalidade local nos meses anteriores: Números médios de assaltos à mão armada, assassinatos, furtos, etc. Então deram início ao experimento: alugaram um helicóptero e levaram o retrato de Shri Mataji para sobrevoar os lugares analisados, por aproximadamente uma hora. Enquanto voavam, posicionavam o retrato de frente para as ruas violentas, entoando mantras, enquanto pediam mentalmente a Shri Mataji que abençoasse a todos os moradores. Resultado: nos meses seguintes, a criminalidade diminuiu enormemente em toda a região onde a experiência foi realizada. Achou forçado? Eu também. Acredito no poder da mente e ainda mais no da oração, mas eles acreditam que o fenômeno aconteceu por influência direta do poder do retrato emoldurado. Aí complica...
Como já dito, foi esse tipo de crença cega que me fez ver que o Sahaja não era o que eu esperava... Mas, por outro lado, vejam algumas palavras e máximas de Shri Mataji:
# O Amor é uma fonte de energia que faz as coisas crescerem de uma maneira viva. O Amor não significa que você precise abraçar alguém. Ele é a energia viva que faz você nascer e o alimenta.
# O homem, na sua busca da felicidade, está se afastando de seu próprio Si - que é a única fonte verdadeira de paz e felicidade.
# Não deixe haver dois tipos de vida, uma interior e outra exterior. Quando o exterior se funde com o interior, então tudo ocorre sem esforço.
# A sua Alegria não consiste em você rir alto ou em estar sempre sorrindo. Ela é a tranqüilidade e a quietude do Si interior, a paz de seu ser e de seu espírito.
# Você não poderá conhecer o significado da sua vida enquanto não estiver conectado com o Poder que a criou.
# A realização do Si é um direito seu e não pode ser comprada.
Não posso negar que eu concordo com tudo isso. São maneiras profundas e sublimes de se entender a vida. E eu não queria esquecer nem desconsiderar uma grande parte do Hinduísmo, na minha busca, que eu sabia que poderia ser muito proveitosa. Por isso comecei a me dedicar ao estudo das escrituras clássicas e ler diversos livros de autores hindus. Li o clássico "Mahabharata" (o poema épico máximo hindu), que contém o "Bhaghavad Ghita" (a ‘canção do divino mestre’ - a revelação de Krishna diante de Arjuna, que depois virou música de Paulo Coelho, cantada por Raul Seixas), li os "Devas" e as "Upanishads", e os "Yoga Sutras" de Patânjali. Também li, depois da autobiografia de Yogananda, muitas obras de Ramana Maharishi, Ramakrishna, Deepak Chopra, Swami Prabhupada e outros; além de um retorno agora abalizado às obras do Krishnamurti (naquela época ainda não havia despontado o gênio Amit Goswami).
Atraía-me o jeito “bhakti” (amor devocional) de viver o dia-a-dia, entender cada pequeno detalhe de nossas rotinas diárias como muito importante, como mais um passo na direção do Divino. Yoga é isso, buscar a União com o Transcendente em cada pequeno ato, em cada detalhe de nossas vidas. Eu me identificava com isso. E sabia que dentro deste universo havia ainda muito para aprender; chaves para abrir portas nesse caminho que eu escolhi.
E foi assim que eu cheguei até a minha escola definitiva de Yoga. Um ashram não-devocional, onde eram privilegiadas as técnicas de depuração mental e corpórea, e onde eram ensinados os princípios morais e éticos da tradição yogue, mas excluindo-se o culto aos deuses ou gurus. Toda a face religiosa-dogmática era deixada de lado em prol dessa premissa mais "pé no chão". Assim, cada praticante, tendo sua saúde física, mental e espiritual cuidadas primorosamente, era livre para seguir sua própria opção religiosa. Esta experiência é o tema do próximo post.
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