23 janeiro 2007

Os Sinais continuam?

O que poderia significar aquilo? Jesus sempre fora meu “mestre” preferido, sempre nutrira pela sua figura um carinho especial. Mas as religiões ditas cristãs, como um todo, haviam me decepcionado demais para que eu pudesse sequer considerar a possibilidade de, assim, de repente, me tornar “cristão”... Será que era isso o que a Sabedoria Infinita havia planejado para minha vida? Tinha que haver alguma outra resposta...

Meditação... A meditação sempre fora uma das ferramentas mais importantes na minha Busca. Nada parecido com isso eu jamais encontrara dentro das tradições cristãs. E sem a meditação eu não teria chegado até aquele ponto do Caminho.

Numa bonita tarde de inverno (quase certeza que era uma sexta-feira), sozinho em casa, pouco depois das 15 horas, eu entrei no meu “quarto de meditação”. Sentei-me no chão, como sempre costumava fazer, na postura de “Vajrásana” (sentado sobre os calcanhares, joelhos sobre o tapete e as mãos sobre o colo), posição em que eu era capaz de ficar por longos períodos de tempo. Algo me dizia que naquele dia eu iria precisar de um bom tempo no estado de “suspensão das agitações mentais”, que tanto bem me fazia. Eu precisava entender o que estava me acontecendo, e qual deveria ser o meu próximo passo.

Eu tinha sempre o hábito de (nada que tivesse aprendido em algumas das escolas por que passei, mas sim uma espécie de “ritual” pessoal meu), antes de iniciar a meditação, me “despir” de todos os “supérfluos”, de tudo que de alguma forma me apertasse ou pudesse provocar qualquer desconforto durante a prática: Anéis, relógio, óculos (eu usava, na época), correntinhas...

E assim fiz, naquele tarde. Tirei meus óculos, o meu relógio e uma corrente de prata que naquela época eu usava no pescoço, com uma pequena medalha também de prata, que tinha alguns símbolos orientais gravados, cujo significado eu nem conhecia. Acomodei esses objetos sobre o tapete, ao meu lado, e fechei meus olhos. Agora que tinha vivenciado o impressionante episódio com o quadro de Jesus, já não usava mais os mantras indianos para o relaxamento mental, estava começando a optar sempre por uma oração, principalmente o Pai nosso. E em todas as vezes, fechado e sozinho no meu quarto, em completo silêncio e livre de preocupações externas, me admirava mais com a absoluta perfeição dessa oração. Tudo que precisamos saber e pedir está ali. Aproveito esse post pra falar um pouco sobre o tema:

Pai nosso, que estais no Céu, santificado seja o Vosso nome...

A começar por chamar ao Deus Todo-Poderoso, Criador do Universo, simplesmente de Pai. Isto, embora a maioria das pessoas hoje não imagine, foi uma das maiores revoluções provocadas por Jesus. Até então, a idéia de usar a expressão “Abba” para se referir ao poderoso e terrível “Senhor dos Exércitos”, o Deus “Vingador de Israel”, soaria como blasfêmia para a maioria das correntes religiosas reinantes entre o povo judeu. Pra ser ainda mais específico, a palavra “Abba”, no hebraico, representa a maneira como as crianças chamam seus pais, significando algo assim como “papai”, ou “paizinho”. Uma demonstração inacreditável de intimidade, por parte de Jesus, para com o Deus absoluto que os Judeus tanto temiam. Antes dele, em diversos escritos do Antigo Testamento, o espaço reservado para se designar a palavra com que chamar Deus era deixado em branco, tanto medo tinham de sequer escrever o Santo Nome. Criaram muitas formas, títulos, ideogramas parar se referir ao Senhor, porque se consideravam indignos de pronunciar o Seu nome ou sequer de escrevê-lo. Aí surge um Galileu iletrado, mas que mesmo assim ensinava os mestres na sinagoga, chamando a este mesmo Senhor temível de “Abba” – Paizinho. Isto é o que podemos chamar de uma profunda revolução espiritual, verdadeiramente; porque é uma revolução interior, do tipo que transforma, de dentro pra fora, o comportamento humano.

...venha a nós o Vosso Reino...

Nos convida à reflexão sobre o significado do termo “Reino de Deus”, algo realmente muito profundo, mas está claro nos evangelhos que ele não se referia (somente) a um plano superior em algum lugar mais elevado, mas sim a um estado interior do ser humano - "O reino de Deus está no meio(ou dentro, conforme alguma traduções) de vós" (Lc 17, 21).

...seja feita a Vossa vontade, assim na Terra como nos Céus...

Assim como na tradição budista e também na hindu, o seguidor é exortado a anular o próprio ego, se despir de todo orgulho e se entregar, com humildade e confiança diante da sabedoria do Criador. A minha própria vontade costuma me levar sempre à destruição e ao engano. Faça-se na minha vida a Tua vontade, meu Pai, porque só Tu é que sabes o que é melhor para mim.

...O pão nosso de cada dia dai-nos hoje...

Viver e permanecer no agora. Nos preocuparmos menos com o dia de amanhã. Parar de fazer tantos planos para o futuro, esquecendo o presente. Confiar em Deus, a cada novo dia, entender que há nessa vida mais do que comer e beber, que representam, aqui, todas as nossas necessidades materiais –

Por isso vos digo: Não estejais ansiosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer, ou pelo que haveis de beber; nem, quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo mais do que o vestuário? Olhai para as aves do céu, que não semeiam, nem ceifam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não valeis vós muito mais do que elas? Ora, qual de vós, por mais ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado à sua estatura? E pelo que haveis de vestir, por que andais ansiosos? Olhai para os lírios do campo, como crescem; não trabalham nem fiam; contudo vos digo que nem mesmo Salomão em toda a sua glória se vestiu como um deles. Pois, se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós, homens de pouca fé? Portanto, não vos inquieteis, dizendo: Que havemos de comer? ou: Que havemos de beber? ou: Com que nos havemos de vestir? Porque vosso Pai celestial sabe que precisais de tudo isso. Mas buscai primeiro o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas. Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã; porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo (Matheus, 6:25 a 34)”.

Segundo uma infinidade de mestres yogues, este é o maior segredo para a iluminação espiritual: Viver o agora!

"...perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores...

Lei do karma. Lei do retorno. Simplesmente justiça. - Chame como quiser, não há Regra mais perfeita do que essa, não há caminho mais perfeito para a paz na Terra, para se alcançar uma vida pacífica e feliz em sociedade. Minhas falhas serão perdoadas, se eu souber perdoar também às falhas alheias. Alguém aí discorda que esse princípio é justo?

"...e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal. Amém”.

No fim, pedimos ajuda para nos mantermos no caminho correto, e proteção contra todos os males. Perfeita. Irretocável. Esta é mesmo a Oração das orações, e além de tudo é uma aula da verdadeira doutrina do Cristo. E eu só tinha voltado a prestar atenção nisto por causa do que tinha me acontecido. Quanto eu estava perdendo, sem perceber!..

Voltando agora ao meu relato de hoje:

Iniciei a minha meditação, e não sei por quanto tempo permaneci ali quieto, sentindo minha mente se libertando, pouco a pouco, da “ciranda” de pensamentos obsessivos, que, infelizmente, é o nosso estado mental normal; e aproveitando a indescritível sensação de entrar num estado de meditação profunda. Me desliguei de tudo, sentindo uma paz incomensurável e preciosa tomando conta de mim. Quando voltei ao estado mental normal, me levantei devagar, ainda meio entorpecido pela experiência. Ao abrir a janela do meu quarto, fiquei surpreso ao perceber que o sol já estava se pondo, tingindo o céu numa composição de cores maravilhosas, em que predominavam os tons em vermelho... Eu devia ter ficado meditando por mais de três horas!

Fazia um friozinho agradável, e eu me permiti ficar por um tempo ali na janela, apreciando a despedida do “irmão sol”, sumindo devagarzinho no horizonte, por detrás dos prédios da Av. Paulista. Que paz profunda eu sentia naquele momento, como se não houvesse problema algum neste mundo...

Dentro do quarto já começava a ficar escuro, então acendi a luz, e recolhi minhas coisas do chão. Coloquei o relógio no pulso, coloquei meus óculos... E... cadê a minha corrente? Eu tinha certeza de tê-la colocado junto com meu relógio e meus óculos. Procurei muito bem, apalpei o tapete com as mãos, num gesto irracional, como se a corrente de prata com a medalha pudesse estar ainda no mesmo lugar, invisível. Nada. Olhei embaixo dos móveis, olhei nos quatro cantos do quarto. Nada.

Eu estava sozinho em casa, trancado no meu quarto. Ninguém tinha entrado, ninguém tinha saído. Eu permanecera todo o tempo ali dentro, sentado no tapete, sem sair para nada. E eu tinha absoluta certeza de que tinha tirado a corrente do meu pescoço e a colocado bem ao lado do meu corpo, junto com o relógio e os óculos. Mas agora ela não estava mais lá! Havia desaparecido!? Como isso seria possível? Voltei a procurar. Vasculhei todo o chão, e até abri todas as gavetas, olhei todas as prateleiras, mesmo tendo absoluta certeza de que tinha tirado a corrente do pescoço e colocado no chão... Nada!

À noite, quando minha esposa chegou, ainda pedi ajuda para procurar. Buscamos em todos os cômodos da casa, em todos os cantos, cada fresta foi vasculhada. Mais uma vez, nada!..

Fiquei desorientado, e um pouco assustado. Lembrei que aquela medalha, que eu carregava sempre no pescoço, trazia gravado um símbolo pagão oriental, e uma série de inscrições parecidas com ideogramas chineses, cujo significado eu desconhecia. Eu a usava porque tinha sido presente de uma amiga, e eu a achava interessante, exótica. Muitas pessoas me perguntavam qual o significado daquela medalha, achavam bonita, mas eu nunca fiz questão de pesquisar sua origem e significado. E agora, ela desaparecera. Para sempre!

E agora? Mais um Sinal? Será que o que acabara de acontecer tinha alguma relação com o evento envolvendo a imagem de Jesus? Eu devia dar atenção ao ocorrido ou continuar a minha vida sem me importar muito com isso?..

18 janeiro 2007

E agora, Henrique?! - conclusão

Krishnamurti nasceu em maio de 1895 ao sul da Índia, perto de Madras. Foi o oitavo filho de uma família de brâmanes e recebeu este nome em homenagem a Krishna. Um menino que, desde muito jovem, aspirava àquilo que está além da simples vida material; dotado de uma natureza excepcionalmente voltada para a busca interior. Nasceu com este dom, desenvolvido ainda mais, segundo seus biógrafos, com a ajuda da mãe. Aos seis anos já estava firmemente consolidado naquele que seria o propósito único da sua vida: A busca pela Verdade.

Por volta de 1904, quando Krishnamurti, então com 9 anos, brincava na rua com seu irmão mais novo, um dos chefes da Sociedade Teosófica (de Madame Blavatsky) de Adyar, que passava por ali, se interessou por ele. Acabou por levá-lo para conhecer a célebre Annie Besant, então presidente da Sociedade Teosófica. Mme. Besant, admirada com suas qualidades, adotou-o e passou a dirigir seus estudos. Em 1910 foi mandado para Londres.

Nessa mesma época os chefes da Sociedade Teosófica fundaram a "Ordem da Estrela do Oriente", cuja finalidade era agrupar espiritualistas do mundo inteiro na espera de um "grande instrutor". Krishnamurti logo foi declarado chefe da Ordem. Foi nessa época que ele escreveu seu primeiro livro, sendo que uma frase deste livro já resumia parte do seu ensinamento futuro:

A superstição é um dos maiores flagelos do mundo, um dos entraves dos quais é preciso se libertar inteiramente”.

É bom lembrar que isto foi escrito por um rapaz de 14 anos(!). Em 1911, com 16 anos, escreveu um segundo livro: "O Serviço na Educação". Ele estava ainda em Londres, e a aproximação da guerra criava um clima tenso na Europa. Consciente da responsabilidade individual de todo ser, escreveu neste novo livro:

Um crime não deixa de ser um crime se for cometido por muitas pessoas”.

Foi também nessa mesma época, ainda criança, que Krishnamurti começou a falar em público. Suas conferências em pouco tempo tornavam-se cada vez mais numerosas. Mas, enquanto todos os chefes da Sociedade Teosófica enxergavam nele o futuro "Grande Instrutor", capaz de agrupar as diferentes correntes espirituais do mundo, Krishnamurti se revelava um “rebelde”. Mais tarde ele mesmo viria a explicar as razões dessa revolta:

Eu me revoltei contra tudo, contra a autoridade dos outros, contra os ensinamentos dos outros, contra os conhecimentos dos outros. Nada queria aceitar como verdadeiro até que eu mesmo pudesse encontrar a Verdade. Eu não me opunha às idéias dos outros, mas não queria aceitar suas teorias e sua autoridade sobre a minha vida... Nada me satisfazia. Eu escutava, observava. Procurava aquilo que está além das ilusões das palavras”.

No décimo-sétimo poema do livro O Amigo Imortal, ele escreveu:

Sim, eu procurei o meu Bem-Amado,
E o descobri em meu próprio coração.

Meu Bem-Amado olha com meus olhos,
Porque agora somos um só.

Eu sorrio com Ele, brinco com Ele.
Essa sombra não é mais minha,

É a sombra do Coração de meu Bem-Amado,
Porque agora somos um só.
"

Krishnamurti explica o que ele entende por "Bem-Amado":

Para mim, o ‘Bem-Amado' é cada um de vocês, ou uma planta qualquer, o pobre e o rico, o cachorro infeliz, as montanhas grandiosas, as árvores magníficas...”.

À luz de sua própria existência, Krishnamurti sacode o torpor de todos que o cercam. Torpor que os fazia aderir a crenças e seguir cegamente seus "guias espirituais". Ele entendia que o erro consiste em aceitar, em vez de compreender... Dizia que “é muito mais fácil seguir cegamente do que compreender e tornar-se assim verdadeiramente livre”. Então, compreendendo tudo isto, ele um dia declarou aos seus seguidores, que já começavam a adorá-lo como um deus, deixando de lado os seus pensamentos: "Não quero espectadores, não quero discípulos, admirações ou louvores de espécie alguma. Quero ser o companheiro e não o mestre”. Assim, em 3 de Agosto de 1929, em Ommen, ele dissolveu a Ordem da Estrela do Oriente, para evitar a formação de uma seita em torno dele. Queria que cada um se sentisse responsável por sua própria vida. Tudo que ele menos desejava era que criassem nele um novo tipo de dependência. Mas os jornais da época já começavam a chamá-lo de “O Messias dos Teósofos”.

Por isso, depois de ter constatado com clareza esses fatos, ele declarou:

A Verdade é um país sem caminho... Ilimitada, incondicionada, inatingível para qualquer caminhante e impossível de ser 'organizada'”. E dissolveu toda a organização que já havia sido criada em torno dele, restituindo todos os bens que lhe haviam sido dados, recusando-se para sempre a ter discípulos, e partindo sozinho em sua própria Jornada. Sem pestanejar, abriu mão da oportunidade de ficar rico. Abdicou da fama, dos confortos, de um belo "futuro garantido" e da admiração do mundo, em prol de realizar a sua verdadeira Busca pela Verdade.

Nas centenas de livros que viria a escrever e palestras e conferências que ministrou, nunca se propôs a "ensinar" coisas, mas somente a "cutucar" o indivíduo humano, tentando fazer com que despertasse do estado de dormência em que se encontra. Criticou duramente a facilidade com que aceitamos, sem questionamentos, as palavras de tantos "mestres" e "gurus" como se fossem expressão da Verdade. Krishnamurti propunha um despertar pessoal, o que ele chamou de "mutação interior". Faleceu em 1986.

Esse breve resumo da história de Krishnamurti é insuficiente para fazer entender a sua grandeza e a importância que suas idéias tiveram no inconsciente coletivo da humanidade. Eu apenas tentei passar aqui uma noção geral do que foi a sua vida e qual a sua mensagem.


Quanto a mim, enquanto tentava entender o que me havia acontecido, digerir a Mensagem que tinha recebido (que contei no post “Sinais”), resolvi me abrigar por um tempo à sombra deste grande pensador e filósofo, procurando reorganizar minhas idéias. Passei a freqüentar o Grupo de Estudos Filosóficos “K”, uma turma que se reúne aos sábados numa biblioteca da Vila Mariana, em São Paulo, para assistir aos vídeos das palestras de Krishnamurti e dialogar e trocar experiências.

Uma experiência válida, sem dúvida nenhuma, que eu recomendo pra qualquer pessoa. Ali pude fazer novas e boas amizades. Esse grupo reunia cerca de trinta e poucas pessoas, desde jovens pós-adolescentes deslumbrados com a sabedoria de Krishnamurti até anciãos com mais de 80 anos de idade. Homens, mulheres, ricos, pobres, professores, intelectuais, artistas, poetas, espiritualistas e “alternativos” de todos os tipos.

As longas conversas que se desenrolavam, começando às 16 horas (após assistirmos em vídeo a alguma das conferências do Krishnamurti) e muitas vezes prolongando-se até à noite, eram muito produtivas para todos, mesmo que a Filosofia seja, por si só, inconclusiva, e qualquer um que procure um grupo como esses com o objetivo de encontrar conclusões definitivas, vai sair decepcionado. Lembro-me de um rapaz que questionava se a mesa em torno da qual nos sentávamos era mesmo real, se ela existia de fato, ou não... Hana, do meu lado, às vezes disfarçava um sorriso involuntário.

Para se discutir alguma coisa com alguém, é necessário que haja pelo menos uma base de concordância mínima, alguma premissa em comum, por onde iniciar o diálogo. Se alguém começa a falar: - “...Pra ser feliz na vida, é preciso...” – Aí o outro interrompe: - “Mas o que é a felicidade? E o que é a vida? Essas coisas existem mesmo, ou serão só ilusões?..” – Aí fica meio impossível de se chegar a uma conclusão sobre qualquer coisa. Esse tipo de situação acontecia, nesse grupo, às vezes...

Mas esse foi o lugar onde, até hoje, eu encontrei a maior concentração de buscadores sinceros, autênticos, independente de credo ou sectarismo religioso. Pessoas dispostas, assim como eu, a não se contentar com menos que a Verdade. Ali ninguém estava preocupado em defender este ou aquele livro considerado sagrado, nem este ou aquele princípio de fé... Para mim foi muito bom saber que haviam outros como eu...

16 janeiro 2007

E agora, Henrique?!


Depois dos acontecimentos que eu narrei no post “Sinais”, eu me tornei ainda mais pensativo do que já costumava ser normalmente (se é que isso é possível, Hana que o diga...). Eu tentava entender o ocorrido, tentava articular na minha cabeça o que poderia significar o Sinal que eu havia recebido. Num primeiro momento, como já relatei, eu tentei encontrar alguma explicação natural, lógica. Mas não pude. Para mim estava claro que eu tinha recebido uma resposta, de Deus ou do Universo, para a pergunta que estivera me angustiando. E agora eu precisava entender essa mensagem.

Uma imagem representando Jesus Cristo destruindo, literalmente, uma imagem representando Krishna... Na verdade, em toda minha vida, eu sempre nutri uma devoção especial por Jesus. Apesar de ter freqüentado tantos templos budistas e hindus, na hora da meditação era sempre o nome de Jesus que me vinha à mente. Enquanto as pessoas ao meu lado, na “Self Realization Felowship”, no templo hindu “Sahaja Yoga” ou nos budistas “Soto Zenshu” e “Shi De Choe Tsog” entoavam mantras em línguas estranhas, eu costumava mentalizar um Pai Nosso. Mas a Busca me havia levado para outros lugares, agora, e voltar ao Cristianismo estava completamente fora de questão.

Mas afinal, será que era isso mesmo que eu devia fazer? Voltar ao Cristianismo? Impossível! Pra ser verdadeiramente honesto, tenho que reconhecer: Àquela altura da minha Busca me parecia simplesmente insuportável a idéia de voltar a ser evangélico. Nunca mais seria um “bitolado”, eu resolvera comigo mesmo. E católico, então? Agora eu já conhecia a Bíblia o suficiente pra entender o quanto os católicos são incoerentes. Nenhuma chance...

Mas então, o que queria dizer aquele Sinal? Jesus de pé, Krishna no chão, despedaçado... E isso acontecendo de modo sobrenatural! A interpretação mais óbvia que se poderia fazer, seria: “Deixar o Hinduísmo e as influências orientais (representados por Krishna) e voltar ao Cristianismo”.

Mas, não. Não podia ser isso. Inadmissível. Devia haver uma outra explicação!.. E eu haveria de encontrar alguma outra maneira de interpretar esse Sinal.

Se é que realmente aquilo tinha sido mesmo um Sinal. Só porque não somos capazes de explicar alguma coisa, não significa que não exista alguma explicação natural, certo? E eu haveria de entender. Mas naquele momento me sentia um pouco saturado de tanto conhecer religiões e filosofias novas, sem conseguir jamais encontrar a certeza que eu queria.

E eu sabia exatamente onde “fazer uma parada” pra colocar as idéias em ordem:

O que procuramos? Procuramos a Verdade, não segundo a crença de vocês ou a minha; porque para encontrar a Verdade em qualquer assunto eu não devo ter crença. Quero encontrar a Verdade. Por isso eu pesquiso, coloco na mesa tudo que diz respeito a uma questão, não me abrigando atrás de nenhuma espécie de preconceito. Diria que eu busco honestamente. Meu espírito é muito honesto, e ao tentar compreender, não me deixaria levar pelo Bhagavad Gita, pela Bíblia ou por meu guru favorito. Eu quero saber e para isso devo ter a intensidade necessária para prosseguir nessa minha tarefa. E o homem que está preso a uma crença, qualquer que seja a extensão da corda que o prende, está retido e por isso não pode explorar. Examinará somente sob o raio da sua servidão e nunca encontrará a Verdade”. - Jidu Krishnamurti.

Voltei a ler Krishnamurti. Considerado por muitos estudiosos como um dos maiores filósofos que já viveram em nosso planeta, em todos os tempos; a altura de um Sócrates, um Platão, Aristóteles, Descartes, Hume, Kant... Seu pensamento influenciou de modo indelével a maneira de pensar da humanidade. E isso não é exagero. Sua principal característica era nunca falar sobre onde está a Verdade, mas sim esclarecer, por meio de raciocínio inapelável, onde ela não está. Eliminadas todas as possibilidades de engano, o acertado surge.

Krishnamurti é o tipo de personagem que, por mais que se fale dele, parece que nunca é o suficiente. Por isso mesmo, não vai ter jeito: Pra não ficar uma coisa muito resumida, pela metade, e nem virar um texto gigantesco, o post sobre ele (e sobre o grupo filosófico que se reúne para discutir seus livros e suas idéias) terá que ser concluído numa segunda parte, que eu prometo pra depois de amanhã, próxima quinta.

15 janeiro 2007

Hare Krishna

Ao publicar minha última postagem, me lembrei de contar uma coisa que aconteceu mais ou menos uns 7 ou 8 anos antes dela: Minha visita ao templo central do Movimento Hare Krishna em São Paulo.

Foi lá que eu adquiri aquela imagem de Krishna, que como eu contei, foi completamente destruída. Acho que acabei me esquecendo de contar essa etapa da minha busca, porque ela não foi assim tão marcante. Por isso, agora, antes de passar à sequência cronológica do post anterior, faço um pequeno resumo de como foi essa experiência:

O templo ficava (acho que não está mais lá) na Avenida Angélica, região da Avenida Paulista, e era uma casa muito grande, com diversas salas bastante amplas. Fui com um amigo, que na época iria ser meu sócio numa empresa de distribuição de incenso (o negócio não deu certo)... Chegando lá, fomos recebidos por um monge muito gente boa (do qual infelizmente não me lembro o nome), usando aquele traje típico, que o pessoal costuma brincar dizendo que a calça parece “cueiro de nenem”...

Não tenho muito a dizer sobre esse dia, a não ser que fiquei mais ou menos umas três horas, ininterruptas, conversando com o monge, e o assunto não acabava. Interesses em comum, sabem como é...

Enquanto conversávamos, outros monges iam chegando, vindo do seu trabalho diário de vender incenso e livros nas ruas, com o qual sobrevivem, e se prostravam diante da imagem de Krishna. Depois que vários deles estavam reunidos, começaram a dançar e cantar alegremente, com pandeiros e chocalhos, entoando seu mantra que nunca termina: "Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare / Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare..."

Os caras procuram seguir os Vedas (escrituras hindus), ao pé da letra, mais ou menos como alguns grupos evangélicos mais radicais tentam seguir a Bíblia, só pra se ter uma noção. A diferença é que os costumes dos hindus são muito diferentes dos nossos, ocidentais, então fica aquela coisa super exótica...

Achei bastante interessante encontrar dentro do templo uma estátua à imagem do fundador do movimento, Sri Bhaktivedanta Swami Prabhupada, tão perfeita e realista que parecia ser o ancião, de verdade, sentado numa poltrona almofadada ali no canto. Chegava a assustar!


Também achei curioso o fato de eles manterem uma comunidade alternativa em diversas cidades do interior do Brasil, chamada “Nova Gokula” onde os devotos procuram seguir a vida monástica; esta sim, bastante parecida com a dos monges católicos ou budistas: Os monges são celibatários, fazem voto de pobreza e de obediência, entregam suas vidas ao seu senhor Krishna e não comem carne em nenhuma hipótese.

O fato mais marcante, que me lembro daquele dia, do meu diálogo com o monge, foi o seguinte:

H K Merton: -Uma coisa que eu gostaria muito de entender melhor, é o porquê dessa forma de representar Krisnha, um ser com a pele azul, sempre ornamentado com muitos adereços e com sua flauta a tiracolo?

Monge: - Isso não é uma forma de representar o Senhor Krishna. Esta é a sua forma real. Ele realmente é assim...”

Esse diálogo eu gravei muito claro na memória porque até então eu achava que aquela forma tão diferente, azul e tudo mais, fosse apenas um jeito poético de representar essa grande encarnação, que eles acreditam ter vivido há 5 mil anos na Índia, e tendo permanecido entre nós por 125 anos.

Como nos últimos posts eu andei falando bastante sobre o Yoga, os Vedas, as Upanihsads, os Yoga Sutras e o Hinduísmo, de um modo geral, vou deixar pra esmiuçar os detalhes sobre essa ordem religiosa num momento oportuno, depois que terminar a primeira fase do Arte das artes. Pra quem quiser conhecer os princípios básicos da organização Hare Krishna no Brasil, basta uma pesquisa no site oficial, que eu deixei linkado no começo do post.

Amanhã, o post-continuação de "Sinais".

11 janeiro 2007

Sinais

A experiência que vou contar agora é extremamente significativa. E muito importante para mim. É algo difícil de se avaliar, ou mesmo entender. E é muito pessoal. Por isso peço sobriedade a todos.

O ano é 2001. Como não poderia deixar de ser, eu andava um pouco decepcionado com essa história de Avatares e grandes mestres (depois de Osho, Sri Mataji, Ramana Maharishi, Sai Baba...). Mas, como já deve ter ficado claro, o orientalismo, em especial o Hinduísmo e as disciplinas do Yoga haviam me marcado profundamente. Eu achava muito sentido e coerência na sua maneira de entender a vida e Deus:

Deus está em tudo - Qualquer forma de adoração é válida - Todos os caminhos acabam levando, inevitavelmente, ao mesmo Lugar - Não há o binômio Criador/criatura, só há Deus, e Deus é tudo - O homem exalta Deus como onipresente, onisciente e onipotente, mas ele ignora Sua Presença nele mesmo! - Cada religião esquece que Deus é todas as Formas e todos os Nomes, todos os atributos e asserções”...

Essa linha de pensamento me soava tão plácida, tão agradável e reconfortante... Diz que não precisamos ter trabalho algum... Bem no fundo, me dizia que toda aquela história de Busca era desnecessária, inútil. Tudo que eu tinha a fazer era relaxar... A vida por si só se encarregaria de me levar ao Caminho que eu tanto procurava... Tudo era permitido, não havia nenhuma necessidade de observância de regras morais de nenhuma espécie, nem disciplina alguma...

Mas algo estava errado... Se o Caminho é assim tão fácil, tão natural, se ele se abre espontaneamente pra todas as pessoas, e a realização é o destino inevitável do homem, então por que há tanta infelicidade no mundo? E principalmente por que, por que quando eu me colocava só e em silêncio, alguma coisa dentro de mim gritava que havia muito a ser feito ainda, que nada é fácil e que o meu tempo estava se esgotando e não havia mais tempo a ser perdido?

Um dia, as palavras saíram de minha boca, quase que contra a minha vontade: “Eu tenho algo a fazer, mas não sei o que é! Eu não encontrei ainda o meu caminho, não sei o que vim fazer aqui, e o meu tempo está se esgotando!..” – Falei isso pro meu amigo Cleber Rocha (se algum dia vier a ler isso, um salve pra você, querido!), uma das (muito) raras pessoas pra quem eu ousei abrir essas minhas intimidades, em toda minha vida. Ele me respondeu: "Mas o que mais você poderia fazer, afinal?"

Essa pergunta ressoou em meus ouvidos por muito tempo... Na hora da meditação, quando a agitação dos pensamentos se acalmava, ela surgia, desafiadora: “O que eu tenho que fazer?”... Já me pegava considerando a possibilidade de desistir de tudo. Toda uma vida buscando repostas, agora já me encontrava além da casa dos trinta, e mesmo assim nunca tinha sentido nem sombra das certezas que eu tanto desejava.

Sei que muitos me consideram maluco, por ter me atirado assim, de corpo e alma, tantas vezes abrindo mão dos prazeres desta vida, em prol de buscar algo que, em última análise, eu nem mesmo sabia se existia. Mas, ao menos vocês, amigos aqui do blog, tentem entender: Este era eu! Este sempre fui eu! Se não podia enxergar qual caminho seguir, ao menos uma coisa eu sabia: Devia continuar. Tive minhas fases de desânimo, e a que estou contando agora foi uma das piores, mas a certeza de que a Busca não seria inútil nunca me abandonou. Está em mim querer encontrar o que há além, o que não pode ser visto do lugar onde nos encontramos.

Uma vez eu disse que, se um dia eu viesse a perder completamente a minha fé na existência de uma Realidade maior, eu me atiraria de cima do edifício mais alto que eu pudesse encontrar. Assim, ao menos poderia realizar o sonho de voar, ainda que por alguns segundos, antes de me despedir deste mundo insano. Isso faz parte da minha natureza, eu fui feito assim. Acreditar que a vida é apenas isso, que não passamos de sacos de carne e sangue, desfilando nossas insanidades por aí, significaria para mim o pior dos tormentos.

Nessa época, logo que fui morar com Hana, havíamos transformado nossa casa numa espécie de templo hindu, com referências budistas e cristãs. Num dos cômodos da nossa casa, retiramos todos os móveis, colocamos um tapete no chão e muitas almofadas espalhadas. No centro, montei um cavalete com um quadro com uma imagem de Jesus místico, e na parede um belo retrato de Krishna sobre uma flor de lótus. Num pequeno altar que montamos, fixo no outro canto da sala, dia e noite queimávamos pequenas velas e incenso suave. A idéia era temos um lugar em nossa casa para nos sentirmos em paz, para meditar e/ou orar. Ficou muito bonito...

Nessa fase, em que andava atormentado pelas questões fundamentais da minha vida mais do que nunca, chegou um dia em que me recolhi para uma oração, e depois permaneci por um longo tempo em meditação profunda, esperando por respostas. E pedi, falando mais ou menos assim:

Onde está a Verdade? Por que não consigo encontrá-la? Já tive em minha vida todas as provas de que precisava para saber que não estou me iludindo, ao persistir na Busca. Mais importante, eu sinto isso em cada fibra do meu ser, em cada uma das micro-partículas que compõem o meu corpo! Eu sei disso plenamente, no mais profundo do meu espírito, seja lá o que signifique ‘espírito’... Mas eu não sei, agora, o que devo fazer. Não sei que direção devo tomar, nessa Busca que parece não ter fim... Não sei mais o que fazer para encontrá-Lo, meu DEUS! Conheci muitos lugares, muitos mestres, muitos caminhos e muitos erros... O entendimento que me deste me ajudou a discernir muitas coisas, me permitiu ver o engano em diversas partes, mas ainda não posso ver o Teu real Caminho...”.

De olhos fechados permaneci ali, prostrado em cima daquele tapete, diante das imagens de Jesus e Krishna, por um longo tempo. "Olhava" com intensidade para dentro de mim mesmo, procurando angustiadamente por um sinal, uma resposta para as minhas dúvidas. “O que eu devo fazer? Qual é o meu caminho?”...

Finalmente me levantei e me retirei. Era uma tarde de sábado. Na sala vizinha, sentei no sofá e liguei a TV. Estava um pouco frustrado porque nada havia acontecido, nenhuma resposta havia surgido na minha mente, como muitas vezes me acontece após as sessões de meditação. E aí...

Não haviam se passado ainda 5 minutos, quando ouvi o ruído de alguma coisa caindo, e algo como vidro se quebrando, na “sala de meditação”! Hana não estava em casa, eu estava sozinho. Nessa época, eu não tinha nenhum animal de estimação, que pudesse provocar algum ruído no outro cômodo. Desliguei a TV e apurei a audição: Tudo quieto. Pensei em esquecer e voltar a ligar a TV, mas algo me dizia: “Vá ver...”

Levantei do sofá e voltei para a sala de meditação. E devo ter ficado pálido:

O cavalete com o quadro da imagem representando Jesus havia caído, tombando para o lado, e parou apoiado na parede. Acontece que o quadro de Jesus, ao cair para o lado, bateu exatamente em cima do retrato de Krishna, derrubando-o. Este caiu e se desfez no chão, em vários pedaços. Não só o vidro se espatifou como também a bonita moldura dourada havia se quebrado em muitas partes...

Fiquei estático. Seria minha resposta chegando, mais claramentede do que eu jamais poderia sequer imaginar?


Mas o que aconteceu, afinal?

Segue a minha análise, tão fria quanto possível:

1. Eu estava sozinho em casa, estava no outro cômodo e as portas estavam trancadas, portanto, não existe a menor possibilidade de alguém ter derrubado o cavalete com a moldura de Jesus.

2. Naquela sala, que eu usava para fazer meditação, não passava nenhuma corrente de ar, que pudesse ter derrubado o cavalete com a pesada moldura.

3. O cavalete onde o quadro de Jesus estava colocado era bastante firme, pesado e seguro. Além disso, a moldura do quadro era de madeira maciça bastante grossa, revestida de metal, além do vidro de proteção, um conjunto também pesado. Portanto, posso dizer que nunca, jamais, essa estrutura iria cair apenas pela ação do vento ou algo do tipo (isso se houvesse vento no local, o que, como já expliquei, não era o caso).

4. Pra quem não sabe, eu sou artista plástico, pinto telas e às vezes fabrico minhas próprias molduras. Sei que elas são fortes. Mas todo o quadro com a imagem de Krishna, a base, a moldura e o vidro, se quebraram de uma maneira que não poderia mais ser consertado.

Depois de recolocar o cavalete com o quadro de Jesus na posição normal, fiquei parado por um tempo, com o que restara do quadro de Krishna na mão, tentando compreender o que havia acontecido, tentando racionalizar, mas não havia como explicar aquilo de um modo racional!

Então era isso? O Caminho definitivo a ser seguido era mesmo Jesus? será que chegava a hora de abandonar as minhas influências hindus?..

09 janeiro 2007

Outro recomeço, outra tentativa... - conclusão


O homem que se chama Sathya Narayana Raju, ou simplesmente Sai Baba, é uma figura extremamente controversa, para os que se dedicam a estudar espiritualidade, disso não resta a menor dúvida. Muitos o consideram como um grande sábio ou santo. Outros ainda acreditam piamente que ele seja de fato uma encarnação divina, um Avatar (na verdade um Purnavatar**) comparável ao que representa Krishna para o hinduísmo ou Jesus para o cristianismo, encarnado na Terra para reconduzir a humanidade ao caminho correto. Mas também não faltam aqueles que o vêem como um charlatão, que usa truques de salão para ludibriar os ingênuos.
**Haveriam dois tipos de avatares: Os 'Amshavatares' e os 'Purnavatares'. Amshavatares seríamos todos nós, seres humanos que não deixam de ser, de certo modo, encarnações divinas(parcialmente), porém ainda presos às ilusões de Maya, vivendo vidas mundanas e escravos de apegos e vícios. Os Purnavatares seriam os que já transcenderam as ilusões mundanas, manifestando sua divindade para o mundo. Estes últimos estão completamente livres das dificuldades e limitações do mundo físico.

Não há como negar que as palavras de Sai Baba nos trazem grande conforto e são imbuídas de grande sabedoria e beleza, como se pode observar nos exemplos que eu transcrevo abaixo:

"O amor não age com interesses; o egoísmo é falta de amor. Amor vive de dar e perdoar e o egoísmo vive de tomar e esquecer".

"Deixem que existam diferentes religiões, deixem que floresçam, deixem que a glória Divina seja louvada em todos os idiomas do mundo. Respeitem as diferenças entre religiões e reconheçam-nas como válidas, sempre que estas diferenças não tratem de extinguir a chama da irmandade do homem e a paternidade de Deus".

"A verdadeira finalidade da educação é a formação do caráter".

A alma nasce neste mundo e viaja através dos reinos da experiência sensorial para adquirir a consciência de Deus”.

Sejam seu próprio Guru, seu próprio mestre, a lâmpada existe dentro de vocês mesmos. Acendam-na e prossigam sem temor”.

Toda a história da sua vida, como contada por seus devotos, está repleta de acontecimentos misteriosos e sobrenaturais. Conta-se que já o seu nascimento foi precedido por fatos extraordinários: Quando sua mãe estava para lhe dar à luz, ouviu uma música maravilhosa, “não produzida por mãos humanas”. Depois que ele nasceu, sua mãe encontrou uma serpente em seu berço, sendo que a serpente para os hindus é um símbolo da divindade. Desde pequeno, mesmo a sua família sendo carnívora, ele, por conta própria, tornou-se vegetariano. Ainda criança, começou a demonstrar grande amor ao próximo e piedade para com os menos afortunados; vivia trazendo mendigos das ruas para se alimentarem na sua casa. Ainda durante sua infância, afirmava que era acompanhado por um misterioso "espírito amigo", que estava sempre com ele, o alimentava e ajudava em tudo. Ele organizava cultos de adoração na escola onde estudava, reunindo seus colegas em frente a uma imagem divina, sendo que depois desses rituais distribuía a todos o Prasada (alimento abençoado) que tirava, inexplicavelmente, de uma bolsa vazia que sempre levava pendurada no pescoço. Seeeerá??

Aos 14 anos foi picado por um escorpião. Ficou dois dias inconsciente, e quando acordou, começou a comportar-se de maneira estranha. Um feiticeiro foi chamado, e submeteu o garoto aos mais dolorosos processos pra tirar espíritos. Os pais então desistiram de tentar "curá-lo", e após algum tempo ele manifestou o seu real potencial, passando a apresentar-se como Sai Baba.

Interessante observar também que o profeta Maomé, num de seus discursos (intitulado ‘O Oceano de Luz’), previu a chegada de um grande “Mestre Prometido”, cujas descrições combinam bastante bem com Sai Baba:

"Seus cabelos serão espessos, sua fronte será alta e côncava, seu nariz será pequeno com uma ligeira curva, seus dentes da frente serão abertos entre si, não terá barba, mas estará sempre perfeitamente barbeado, terá um sinal lunar na face esquerda, sua vestimenta terá a cor do fogo e usará sempre duas, uma sobre a outra (Sathya Sai Baba usa sempre o "dothi" sob Sua túnica de cor laranja). A cor de seu rosto mudará com freqüência e será luzidia como o bronze, amarela como o ouro, radiante como a lua. Seu corpo será pequeno e Seu ventre será mais evidente com o passar dos anos. Todos os ensinamentos das religiões do mundo estarão em Sua mente e em Seu coração, desde o nascimento. Todas as coisas pedidas a Deus por Seus devotos, o Mestre do mundo as concederá. Todos os tesouros do mundo estarão a Seus pés. Ele presenteará com objetos que terão a forma da luz. Seus devotos se reunirão debaixo de uma árvore. Ele se aproximará de Seus devotos colocando Sua mão sobre a cabeça de cada um deles e, poder vê-Lo, os fará bastante felizes. Ele sairá desta Terra aos 95 anos".

Como se não bastasse, Maomé ainda previu que esse grande mestre viveria sobre uma pequena colina. E previu também que, para que as pessoas não se deixassem enganar, ele faria sair objetos de Suas mãos. - Só pra constar: O Ashram, em Puttaparthi, onde Sai Baba vive, se situa sobre uma pequena colina. Quanto aos objetos saindo das mãos, bem, isto é uma das coisas que Sai Baba mais fez (e faz) durante sua vida, e é também o principal motivo de controvérsia entre os que acreditam nele e os que não...

A principal e mais freqüente materialização realizada por Sai Baba, considerada por devotos e até por alguns pesquisadores como “milagrosa”, é a da “cinza sagrada” chamada “vibhuti”, que supostamente sai de suas mãos nuas, inexplicavelmente. Em diversas ocasiões, como em certos eventos e festas espirituais da Índia, esse material chega mesmo a “jorrar” de suas mãos, como torrentes de água saltando de uma cascata (apesar de que, nesses casos, sempre é colocado um jarro sobre suas mãos, o que impede uma completa visão do fenômeno...).

Além do caso que eu contei no post anterior, o da suposta cura de um câncer maligno por intermédio direto do Sai Baba (que eu pretendo investigar pessoalmente), existem inúúúúmeros casos de acontecimentos inexplicáveis envolvendo seu nome. Se eu resolvesse relatar esses casos aqui, acho que iria precisar de uns cem posts. Pra quem tiver maior interesse no assunto, uma breve pesquisa no Google será mais do que suficiente.

No site “Saindo da Matrix”, Acid Zero descreve dois casos bem interessantes:

Lá em Campina Grande soube de duas histórias de pessoas que foram visitar Sai Baba. A primeira é a de um bebê que gostava de ingerir o Vibhuti. Diariamente ela comia um pouquinho. Hoje ela já é adulta e permanece a mesma quantidade de cinzas no potinho (?). A segunda é mais perturbadora: Em uma excursão que saiu do Brasil, um dos integrantes perdeu seu relógio de ouro inglês. Óbvio que ele ficou P da vida e nem teve ânimo pra ficar junto das outras pessoas que foram ver de perto Sai Baba. Só que, no meio daquele concorrido evento, Sai Baba pede pra falar exatamente com o cara. Surpreso, ele vai até lá e Sai Baba lhe pergunta se ele perdeu o relógio. A pessoa diz que sim, e Baba retira do manto um relógio igualzinho, só que novo. O cara, incrédulo (e desconfiado) diz que não pode aceitar, pois não poderia passar pela alfândega do aeroporto sem a nota desse relógio. Então Sai Baba retira do manto uma nota fiscal de uma loja inglesa. Ainda mais desconfiado, o cara resolve, no outro dia, ir para a Inglaterra, atrás dessa loja. Ela de fato existia, e ao ser questionado sobre a venda do relógio, o vendedor disse que ontem (na mesma hora em que o rapaz estava falando com Sai Baba) veio um homem esquisito, do cabelo grande, comprar o relógio. E que quando saiu, parou e voltou para pedir a nota fiscal”. - Fonte: “Saindo da Matrix.

Claro que essas histórias todas são extremamente difíceis de se comprovar, e aqui eu prefiro citar um ditado que minha mãe costumava dizer: “O que dizem eu não afirmo!”. Ou seja, eu realmente acho que nesses casos um pouquinho (ou muito) de “pé atrás” é sempre bom.

Eu já tinha ouvido falar muito de Sai Baba, é claro, muito antes de Hana aparecer na minha vida, cantando seus mantras e contando a história da sua ex-professora. Mas, como tudo acontece no momento devido (eu realmente acredito nisso), foi a partir daí que eu resolvi me dedicar a estudar o assunto mais profundamente.

Conhecemos (eu e Hana) o templo da Organização Sathya Sai em São Paulo, que fica no bairro Santa Cecília, na rua Jesuíno Paschoal. Lá, encontrei pessoas um tanto quanto bem intencionadas, e embora eu não seja místico, acho que posso dizer que senti uma energia muito boa ali. A responsável pelo local, Sra. Regina, nos recebeu e apresentou aos devotos brasileiros residentes em São Paulo. Me chamou bastante a atenção o fato de que um dos freqüentadores, rapaz muito novo, dos seus 17 anos, que dizia sonhar com Sai Baba todas as noites, mesmo sendo louro, usava o cabelo (um tanto quanto peculiar) igual ao do seu mestre: Enorme, despenteado e muito armado, uma das principais características de Sai Baba. A Sra. Regina ainda nos mostrou um quadro que fica na parede principal, representando aquela que seria a encarnação anterior de Sai Baba, sendo que a parte interna do vidro que recobre o retrato, encontrava-se com uma parte completamente tomada por um estranho material cinzento, semelhante a uma espécie de cinza, que ela dizia se tratar de vibuthi, materializado ali milagrosamente. Nesse local os devotos se reúnem, trocam idéias e impressões, compartilham experiências e aprendem sobre a vida, obra e ensinamentos do seu guru. Observação: Sai Baba não se refere a Deus na 3ª pessoa. Ele não diz "Deus é...". Ele diz "Eu sou...".

Mas o fator mais decisivo na formação da minha opinião pessoal a respeito de Sai Baba, foi ter assistido a uma palestra do profº Nelson Marchetti, na “Universidade Livre Holística Casa de Bruxa”, (cidade de Santo André) sobre o tema. Nesta palestra foi contada toda a história da vida de Sai Baba, desde antes do seu nascimento, além de diversos casos de “milagres” realizados por ele, muitos deles envolvendo brasileiros. Foram passados diversos vídeos de alguns desses milagres, além de informações detalhadas a respeito das obras assistenciais de Sai Baba, em especial as Universidades (isso mesmo!) e obras de saneamento que ele mantém em diversas partes carentes da Índia, África e outros países em desenvolvimento. Todos os participantes dessa palestra receberam o vibuthi, inclusive um pequeno pacote cheio da “cinza sagrada” pra levar pra casa. Eu, claro, cheirei e provei o material, que me pareceu muito parecido com pó de incenso queimado, com um leve perfume, e o gosto era de cinza, mesmo.

Mas, sem dúvida, havia um problema: No meio do caminho havia uma pedra. Eu disse que assistir a essa palestra foi decisivo na formação da minha opinião a respeito de Sai Baba, e agora vou explicar porque...

Foi nessa ocasião que primeiro pude assistir a um dos vídeos de um dos supostos “milagres” de Sai Baba. E agora eu preciso contar uma coisa pra vocês, que ainda não sabem sobre mim: Eu já trabalhei como assistente de mágico... Alguém já ouviu falar em Marco o Mágico?” – pois é, o cara até que é bom, já andou se apresentando em programas como Ana Maria Braga, Gugu e outros do tipo. Ele é um mágico profissional, ou, como prefere ser chamado, um “ilusionista”. E eu, num dos meus muitos períodos de desemprego, me prontifiquei a trabalhar com o cara, auxiliando-o nos shows que faz em buffets, empresas, escolas, condomínios, churrascarias... Meio "micão" mesmo, aquela coisa de ficar todo vestido de preto, fazendo cara de paisagem atrás do mágico, ajudando a guardar os aparatos e disfarçar a atenção da galera na hora de esconder os truques, e coisas do tipo... Nos shows mais elaborados, como os que ele fazia (e faz) em empresas grandes, eu também cuidava da parte de iluminação e sonoplastia. E daí? Bem, já dá pra imaginar. Baseado nos meus conhecimentos em ilusionismo, posso afirmar que boa parte dos supostos “milagres” de Sai Baba são de fato truques de salão. O vídeo em que ele “vomita” um lingam (jóia em formato oval) de ouro, que cai num pano branco que ele tem nas mãos, por exemplo. Pra mim é muito claro que aquilo é um truque de salão muito simples. Basta observar que ele leva o pano à boca, e quando o retira, o ovo já apareceu.

Estou deixando aqui o link de alguns vídeos que comprovam o que estou falando, pra que não me chamem de caluniador.

Abaixo, o vídeo que mostra claramente que não há nenhuma "materialização milagrosa" de vibuthi, surgindo “do nada” nas mãos de Sai Baba, mas sim uma pequena cápsula contendo o pó, que depois de quebrado entre seus dedos, é distribuído entre os crédulos seguidores, que o saúdam de mãos postas... Cliquem para ver em tamanho ampliado.


Vlad, você deve estar se divertindo... Observem bem, no final do vídeo, a pequena cápsula contendo o pó compactado, que ele desfaz entre os dedos e depois despeja sobre as mãos de algumas pessoas, fazendo parecer que fora por ele materializada.

Bem, na verdade acho que fiquei um pouco decepcionado ao constatar a realidade de que Sai Baba, ao menos no que diz respeito aos seus alegados milagres, não passa de um picareta. Essa constatação aconteceu há quase seis anos, e Hana até hoje prefere não comentar nada sobre o assunto... Imagino que pra ela tenha sido ainda mais triste.

Mas, quanto a mim, eu continuava buscando a Verdade.

Sabem aquela cena do filme “The Matrix” em que o personagem Cypher pede ao agente Smith para voltar à Matrix, mesmo sabendo que ela é apenas uma grande ilusão criada por computador, porque prefere viver na agradável tranqüilidade da ignorância do que encarar a dureza da realidade? Pois é. Eu vejo, todos os dias, que essa é a escolha de muitos. E vejo também que nunca será a minha escolha. Qualquer coisa menor que a Verdade é insuficiente.

"Encontrareis a Verdade, e a Verdade vos libertará". (João, 8:32)

Apenas ela, a Verdade.

04 janeiro 2007

Outro recomeço, outra tentativa...


De volta à estrada, mas agora não mais sozinho. Agora eu tinha Hana do meu lado, algo muito importante pra mim. Ela me apareceu num momento em que eu já começava a acreditar que seria um solitário por toda minha vida. Perguntava-me se isso acontecia como uma espécie de “efeito colateral” por ser um buscador tão ávido. Depois de tanto me decepcionar com o ser humano e me desencantar com a falta de seriedade das (poucas) pessoas que conheci que se aventuravam nos mesmos caminhos que eu, honestamente já não contava mais com um encontro com o que chamam de “alma gêmea”. E embora eu quisesse e tivesse pedido muito por ela, já não tinha muitas esperanças de encontrá-la. Foi exatamente aí que ela surgiu na minha vida.

Essa é uma história muito interessante, o modo como as coisas aconteceram entre nós, a maneira como tudo parecia conspirar em nosso favor... Nossa história está repleta de acontecimentos interessantes, uma interligação sem fim de conjunturas e coincidências que nos levaram a ficar juntos. Imagino que vocês gostariam de saber, e eu também gostaria de contar, mas isso vai ficar pra uma outra vez.

O fato é que nós éramos iguais em quase tudo. Não aquele igual chato, aquele relacionamento do tipo em que um só concorda com o outro o tempo todo. Tínhamos discordâncias e também nos desentendíamos, às vezes. Mas os nossos interesses e objetivos eram muito parecidos. Nosso jeito de encarar a vida, o mundo e as pessoas era muito igual. Hana demonstrava ter certas qualidades que eu um dia também tivera, mas que havia perdido ao longo do caminho. Ela me lembrava de coisas muito importantes que eu tinha esquecido. Depois de três meses de namoro, resolvemos e fomos morar juntos (e assim estamos até hoje, cinco anos e nove meses depois, cada vez mais felizes).

Sabem aquela velha história, “os opostos se atraem”? Na física pode ser, e na verdade nos relacionamentos eu sei que isso também acontece. Só tem um porém, atração é uma coisa, convivência é outra, muito diferente. Passei toda minha vida me relacionando com “opostos”, e posso dizer que já cumpri a minha cota de viver em “inferno astral”. Quando finalmente encontrei alguém que gostava das mesmas coisas que eu e que seguia uma mesma escala de valores, finalmente descobri o que significa felicidade num relacionamento. Posso dizer que isso existe e é possível. Ao menos foi assim comigo. Acho que é uma questão de escolha… Mas enfim, esse post não é sobre relacionamentos.

Hana vivia cantando um mantra específico, em sânscrito. Era um mantra suave e melódico, muito agradável de ouvir. Ela sabia a recitação completa, que era bastante longa e complicada. Um dia perguntei onde tinha aprendido e ela me disse que esse mantra era de autoria de um mestre que era para ela muito querido. Ela me disse também que sua antiga professora de expressão corporal, chamada Lídia Zózimo, havia sido curada de um câncer maligno no estômago, em estágio avançado, por este grande “homem santo” da Índia.

Essa tal professora Lídia, que eu não cheguei (ainda) a conhecer, segundo Hana vinha se submetendo há meses a tratamento quimioterápico, sem resultados. O câncer no estômago se alastrava para outros órgão internos, e ela encontrava-se já com seus dias contados. Foi aí que resolveu se desfazer de boa parte de tudo que tinha para angariar fundos para uma viagem à Índia, e para morar e se sustentar lá por alguns meses. Mística como ela só, seu objetivo era pedir ajuda ao “grande avatar”: O autor daquele mantra, do qual Hana tanto gostava. E assim ela fez. Conheceu pessoalmente esse famoso mestre e guru, considerado por milhões de pessoas ao redor do mundo como uma encarnação divina. Foi por ele recebida, conviveu com ele por um período, e... Por ele foi curada, completamente, do seu câncer maligno.

Até dois anos depois dessa experiência, período em que minha esposa concluiu o curso de teatro e as duas perderam contato, nenhum sinal de retorno da doença. Lídia possui e apresenta, como um troféu, exames da doença, datados de antes e depois do seu encontro com o grande mestre. Antes: completamente desenganada pela medicina, o único conselho dos médicos era para que tentasse aproveitar o resto do tempo que tinha da melhor maneira que pudesse. Comprovadamente. Depois: 100% curada. Comprovadamente.

Nesse exato instante estou movendo esforços para tentar localizar essa moça. Na verdade, eu já tinha esquecido essa história, e só agora que resolvi contá-la aqui no Arte das artes, minha curiosidade foi novemente aguçada. Quero muito entrevistá-la pessoalmente. Na verdade, esta é uma idéia antiga, mas devido às dificuldades eu acabei me esquecendo. Pra complicar ainda mais, "Lídia Zózimo" é um nome fictício. Coisas de uma professora de expressão corporal que dá aulas para alunos de teatro. Mas agora surgiu uma nova esperança: Recentemente, através do encontro de Hana com uma amiga antiga, surgiram notícias da antiga professora. E uma pista quente para encontrá-la. Estarei indo ao seu encontro em breve, e as minhas impressões, podem contar que vou divulgar por aqui.

Mas afinal, quem é esse grande guru e mestre, que cura doentes terminais e que supostamente é capaz de realizar inúmeros e incríveis milagres? O nome é Sai Baba.

02 janeiro 2007

Fim do grupo

Aos poucos eu e Hana íamos nos afastando do nosso grupo de estudos e vivências, o “Satsanga Guruji”. As diferentes maneiras dos membros interpretarem a espiritualidade começavam a se tornar diferentes demais, se é que me entendem. E as escolhas de caminhos diferentes, obviamente, nos levavam a lugares diferentes. Pouco a pouco, começamos (eu e Hana) a nos afastar. Comecei a me ausentar das reuniões, e Hana começava a preferir ficar comigo.

Beatriz gostava de estudar, ler, pesquisar, fazer cursos. Ela tinha grande interesse em aprender novidades, técnicas para “sair do corpo” ou conseguir poderes sobrenaturais. Mas não me parecia preocupada em encontrar a Verdade ou praticar o Amor ao próximo no seu dia-a-dia - E esta era a única prática que eu, pessoalmente, tinha constatado como realmente útil na Busca. Pouco a pouco eu me tornava cético com relação às suas reais intenções, mas a gota d’água veio no dia em que ela apareceu com um folheto de divulgação de uma “vivência” que seria realizada num hotel-fazenda caríssimo no interior de São Paulo, ministrada por um suposto “mestre swami”.

Nessa vivência, o “mestre” estaria ensinando suas “técnicas especiais para iluminação espiritual” a preços módicos. ;-) Algo em torno de R$ 800,00 por 2 dias de convivência com um autêntico “guru iluminado” indiano. Uma pechincha! Engraçado que na foto do panfleto dava pra ver que a figura tinha a pele super clara, usava uma barba meio ruiva e tinha olhos azuis de ator hollywoodiano. Na boa, a gente sabe que indiano de olhos azuis é uma coisa que simplesmente não existe... Ela fez questão de participar da tal vivência e voltou achando que tinha encontrado a Verdade. Mas quando percebeu que o restante do grupo não estava muito a fim de saber o que tinha aprendido por lá, se mostrou muito irritada. Acho que não tinha se iluminado o suficiente...

Roberto, como eu disse antes, era um praticante seríssimo do Yoga. Formado em ciência da computação e professor de educação física, abriu mão de uma carreira profissional e até dos confortos materiais para viver uma rotina de ascetismo digna de um monge. Observava rigorosos jejuns todos os meses, às vezes por mais de uma semana seguida(!) Acordava praticando Yoga e ia dormir praticando Yoga, desde a parte física postural e de limpeza corpórea até as práticas de meditação, passando por um rigoroso treinamento respiratório e etc. Ele realmente acreditava que poderia alcançar a felicidade e a realização através da prática sistemática do Yoga. Era o tipo do cara que nunca dizia “postura”, mas sim “ásana”, nem falava em processo respiratório, dizia sempre “pranayama”. Fazia questão de se expressar sempre usando os termos em sânscrito, sabia de cor os nomes originais de milhares de ásanas, conhecia profundamente todos os textos védicos e tinha os Yoga Sutras decorados do princípio ao fim... E se sentia infeliz na maior parte do tempo.

Uma vez, no alto da cobertura do luxuoso apartamento de Beatriz (onde costumávamos nos encontrar), logo após uma sessão de meditação, ele se aproximou de mim e perguntou: “Qual é o seu segredo, Henrique? Pelas coisas que me conta eu percebo que você está mais adiantado do que eu, embora eu saiba que eu pratico mais do que você. Não entendo...” – Bem, eu nunca tinha encontrado, até então, oportunidade para lhe falar sobre essas coisas profundas. Embora nos conhecêssemos e convivêssemos já há algum tempo, nossa relação de amigos nunca tinha ido além de conversas superficiais sobre a parte puramente técnica do Yoga e filosofias orientais, e a troca esporádica de livros sobre esses mesmos temas. Isso acontecia porque Roberto fazia a linha “professor”, um cara que já sabe tudo e mais um pouco sobre os assuntos que lhe interessam. Sabe aquela pessoa pra qual você tem receio de tentar dar uns toques, ensinar alguma coisa, porque parece que, subliminarmente, ela está sempre dizendo: “Eu já sei tudo que preciso saber. Eu sei mais até do que você, então, o que você poderia me ensinar?”

Pois é... Beatriz se deslumbrava com essa postura dele, do grande sábio, mas para mim parecia que estava fazendo tudo errado. Pra falar a minha opinião sobre ele de um jeito bem resumido, eu diria que a sua atitude se parecia com a de alguém que valoriza mais o papel do que a bala, sabe como é? O tempo todo preocupado em aprender o jeito certo de se pronunciar as palavras, a posição correta em que o dedo mindinho deve ficar na hora das práticas posturais... Mas, da mesma maneira que nossa amiga Beatriz, que ensinava sua filha de 5 anos a se curvar diante de estatuetas de deuses hindus, nada de pensar no mais simples: o Amor!

Mas então, Roberto me perguntava qual era o meu segredo. E eu imagino que vocês já saibam qual foi a minha resposta:

“Eu sinto e cultivo o Amor, dentro de mim. E tento praticar esse Amor. Só isso! Não acho que o Yoga seja um fim em si mesmo. Eu o vejo como apenas um meio para chegar onde quero. Quando pratico, me concentro apenas em elevar meus pensamentos. Concentro todas as minhas energias em DEUS, e dissolvo todas as minhas expectativas e preconceitos num sentimento de Amor fraternal por todos os seres e todas as coisas...”.

Ele me olhou com uma expressão de absoluta surpresa, por um longo instante. Depois de uma pausa, respondeu com um “Ahh...” pensativo. Ficou por um bom tempo sem falar nada, refletindo no que eu acabara de dizer. Depois de um longo tempo soltou um profundo suspiro, e finalmente me respondeu: “Eu nunca tinha pensado por esse lado...”.

Fiquei estupefato tentando imaginar como um homem tão culto, que estudava Yoga há tantos anos e o praticava tão seriamente podia não ter idéia do que eu estava dizendo! Então era isso!! Ele sabia tudo de práticas físicas, respiratórias, conhecia o sânscrito e a história da Índia profundamente. Sabia de cor os Yoga sutras e a biografia completa de diversos “grandes mestres”. Praticava ascetismo nas 24 horas do seu dia, mas... não sabia amar! Acho que naquele dia eu o ajudei muito mais do que jamais poderia imaginar, apenas com uma palavra. A minha preferida: Amor.