29 junho 2006

Encontrei meu caminho?


Continuação de “A descoberta do Protestantismo”
Então era isso: Eu comecei a freqüentar a Igreja Cristã Evangélica. Os dias se passavam e eu me sentia, cada vez mais, fazendo parte desta congregação. Esta não era e não é uma igreja protestante, mas sim pentecostal, ou seja, uma derivação das protestantes. Foi ali que eu primeiro tomei conhecimento das principais “novidades” instituídas por Martinho Lutero, como a supressão do culto à Virgem Maria e aos santos, e a censura às imagens e esculturas, de qualquer tipo. Eu não perdia nenhum culto, nem os de sábado, nem os de domingo, e estava sempre nas reuniões às quartas-feiras. Também comecei a freqüentar a escola de estudo bíblico dominical, pela manhã, e o grupo de jovens. Estava realmente muito empolgado, porque agora tudo havia mudado, na minha Busca, e para melhor. Tudo era muito diferente do que na Igreja Católica. Tudo era baseado exclusivamente na Bíblia, tudo muito compreensível e lógico. E essa nova interpretação me parecia muito mais coerente que a dos católicos. Agora eu podia entender que absurdo era usar imagens de escultura no ofício! Como podiam usar imagens para devoção, ornamentação e até adoração, se a Bíblia explicitamente as condena? E por que render culto aos santos, se Jesus é o único intercessor entre Deus e os homens? tsc, tsc... Agora estava tudo claro. Tudo fazia sentido. Eu era chamado de irmão, e me tratavam como tal. Encontrara finalmente a minha família verdadeira. Duas lembranças desta época são muito claras em minha memória:

A primeira é a de uma “irmã” que tinha mais ou menos a mesma idade que eu, muito bonita e sensual. Não chegamos a fazer amizade, e que me lembre, nem mesmo fomos apresentados. Mas, algumas vezes, durante o culto, na hora da oração, ela se aproximava de mim, me abraçava forte e acariciava meu peito, enquanto pedia ao Senhor que me guiasse pelos Seus Caminhos. E tudo sem nenhuma maldade, de ambas as partes! Ela tinha o costume de orar assim, pelas pessoas com que tinha mais afinidade; fazia o mesmo com todas as suas amigas. Por quê eu achei isso digno de nota? Porque eu tinha 15 anos de idade, meus hormônios estavam em ebulição, e ficávamos os dois lá, eu e uma garota linda, por vários minutos, abraçando-nos muito apertado (ela faltava sentar no meu colo) e mesmo assim o meu pensamento, nem por um milésimo de segundo, se desviava da atenção total a Deus. Dou minha palavra: Nunca houve o menor vestígio de segunda intenção em nossos corações. Como era verdadeira minha fé, irrepreensível a minha disposição! Eu só sei e disse que a menina era “sensual” porque me lembro dela, muito vívidamente: Tinha um belo corpo e cabelos longos e pretos. Mas eu garanto, durante os cultos, nunca senti por ela absolutamente nada diferente do que um amor de irmão. Porque tudo que eu buscava naquele lugar era a Verdade, e sinceramente acredito que ela também.
A segunda lembrança que trago muito forte é a da vez em que saí de casa escondido, de madrugada, como um ladrão, pela janela do meu quarto, deixando uma fileira de almofadas debaixo do cobertor, para simular o meu corpo deitado na cama, caso meus pais resolvessem checar o meu descanso. Estava indo para a vigília de oração, que iria durar toda a noite, até o raiar do dia. Tinha que sair escondido porque meus pais eram totalmente contra minha nova fé. Quando souberam que estava freqüentando “igreja de crente”, todos em minha casa foram contra, em especial minha mãe e meu irmão dez anos mais velho. Por isso, acabava freqüentando aos cultos, muitas vezes, escondido, sem dizer exatamente para onde estava indo. Enquanto meus colegas começavam a fumar e freqüentar festinhas, escondido, eu freqüentava escondido os cultos e eventos da igreja.

Foi assim por alguns meses. A religião era a realização, a coisa que mais me dava prazer na vida. Era amigo do pastor, era amigo de todos. Todos me explicavam a Bíblia com todos os detalhes, todos me faziam entender, ao seu modo, as passagens mais difíceis. E eu realmente acreditava que tinha encontrado a Verdade das verdades. Um belo dia, na escola, descobri que um dos meus melhores amigos de classe era evangélico (como já explicado, há alguns anos, os evangélicos eram minoria. A quase totalidade das pessoas que eu conhecia e com que me relacionava eram católicas, pr isso esse encontro foi totalmente inesperado). Ele me disse que era um “cristão batista”. Fiquei surpreso, porque ele parecia ser um dos mais "malucos" da classe. O moleque simplesmente era terrível, um bagunceiro de 1ª linha! É que eu , na minha inocência, acreditava que todos os evangélicos eram exemplos de comportamento ético e correção. Ele me falou que uma tia sua freqüentava a mesma igreja que eu, que tinha me visto por lá. Então fiquei sabendo que ele era membro da "Igreja Batista da Paz", de linha tradicionalista (Esta sim, considerada
protestante – embora por vezes os próprios batistas repudiem este rótulo). Eles, os batistas, eram chamados por muitos dos representantes de outras comunidades evangélicas de “católicos disfarçados”, por causa de sua postura tranqüila, sua maneira mais calma de praticar a fé.

Aceitei o convite para conhecer a sua igreja. Fui uma vez, e me encantei. Os freqüentadores eram em tudo tão "bons" quanto os da minha congregação, mas com uma diferença que me pareceu imperativa: Eles não gritavam nem pulavam na hora das orações. Louvavam e apresentavam pedidos a Deus em silêncio, cada um em si mesmo, frontes baixas, todos em pé - isto sim, à maneira católica. A
contece que, para muitas denominações evangélicas, ser chamado de católico era sinônimo da pior ofensa. Eu nunca pude entender o porquê disto. Afinal, ainda que por meios e de modos diferentes, todos buscavam o mesmo Deus. Se cometiam equívocos, a ordem principal de Jesus não tinha sido no sentido de perdoar setenta vezes sete? E não foi o próprio Cristo quem disse que "Quem não é contra nós, está a nosso favor"? Será que ninguém conseguia enxergar isso? Queria que todos compreendessem, mas só encontrava radicalismo.
continua...

27 junho 2006

Isso aconteceu mesmo!

O segundo homem mais rico do mundo, W. Buffett, doa 85 % do seu patrimônio líquido, cerca de US$ 30,7 bilhões, para instituto de caridade!!!!
Faço agora uma pausa na narrativa da história da minha Busca, para um breve comentário à essa notícia, que parece quase impossível, utópica. Alguém aí tem idéia do que é possível fazer com sessenta bilhões e setecentos milhôes de DÓLARES? Esse é o valor de que vai dispor, a partir de agora, a Fundação Bill & Melina Gates, para ajudar necessitados ao redor do mundo. Esta cifra é maior do que o produto interno bruto de muitos países, como por exemplo o Kuweit.
Bem, eu só fiz questão de publicá-la porque não pude deixar de imaginar o que aconteceria, se todas as pessoas "podres de ricas" deste mundo fizessem o mesmo que Warren Buffett. Tipo Antônio Ermírio de Morais, Señor Abravanel ou o próprio Bill Gates, só para citar alguns (não estou com tempo para checar a lista da Forbes agora, e penso que o que importa aqui é a idéia). Imagine, como queria John Lennon. E pense: Este cara não vai ter que abrir mão de nada daquilo à que está acostumado, absolutamente. Com os 15% que restaram do seu patrimônio líquido, algo em torno de R$11.000.000.000,00, ele vai poder continuar mantendo o mesmíssimo padrão de vida. Ele vai poder manter a sua coleção de carros de corrida, vai continuar viajando de primeiríssima classe ao redor do mundo duas vezes por ano, e o futuro dos seus dois filhos homens continua mais do que garantido, em cargos de gerência em algumas de suas empresas. Esse homem não ficou 85 por cento mais pobre. Ele apenas se desfez da maior parte de um montante sobrenatural de dinheiro que estava parado, apodrecendo e sendo roído por traças em cofres pelo mundo afora... Também não é difícil imaginar com que velocidade um homem com esta experiência e estas posses vai conseguir construir novamente uma pilha de dinheiro igual ou maior que a anterior.
O que seria se todos os grandes bi e mi-lionários do planeta fizessem o mesmo? Fácil. O fim da miséria no mundo. Desde que esse dinheiro todo fosse bem empregado, isso representaria o princípio do fim de desiguldades sociais tão discrepantes. Sonhar é permitido, e às vezes acontece um fato tão incrivelmente extraordinário como esse, para nos lembrar que, talvez, para que os sonhos se tornem realidade, só precisemos de um pouco de coragem e loucura.

26 junho 2006

A descoberta do Protestantismo

Eu lia e lia a Bíblia. A todo instante, o volume sagrado era aberto e orações eram feitas. A Bíblia foi minha primeira biografia, os Judeus meu primeiro povo e as palavras de Jesus, assim como as de Moisés e os outros profetas, eram as coisas mais importantes para mim. Eu lia muitas outras coisas também (sempre fui um leitor inveterado, da bula do remédio ao panfleto deixado na caixa de correio), mas todas as outras coisas eram apenas sonhos e pensamentos humanos, enquanto que na Bíblia estava a sagrada Verdade das verdades. Era assim que eu pensava no tempo da minha adolescência. Exatamente nessa fase da minha vida, quando concluía a leitura dos Evangelhos, com quatorze para quinze anos, eu atravessava um momento muito difícil em minha vida. Meus pais enfrentavam uma dura crise conjugal, os negócios iam mal para o meu pai , o clima estava mais do que pesado na minha casa, e os reflexos me afetavam diretamente. Minha mãe, com quem fui sempre tão ligado, por toda minha infância, de repente parecia ter se tornado minha pior inimiga. Fase adolescente, sabe como é... Você começa a achar que o mundo inteiro está contra você. O fato é que, dentro de minha casa, tudo que havia eram brigas. Meu pai começou a freqüentar bares e chegar alterado em casa, tarde da noite. Daí, mais quebra pau. Foi uma fase barra pesada, mesmo. Só estou dando estes detalhes para justificar o início desse post:

Eu (magérrimo, como era nessa época), sentado, deprimido, numa noite chuvosa de quarta feira, à porta da frente de minha casa, folheando minha pequena Bíblia, como sempre. Em meus pensamentos divagava sobre o quanto eu gostaria de encontrar minha egrégora, a minha turma, minha tribo... Quando chegaria o dia em que finalmente iria encontrar outras pessoas que pensassem como eu, interessadas nas mesmas coisas, preocupadas em encontrar Deus, antes e acima de tudo? Meus amigos da escola só estavam preocupados com futebol e namoradinhas. Eu até que tinha uma vida social interessante, para alguém que está cursando a oitava série. Era um garoto popular, gostava duma bagunça, o rei dos correios elegantes nas festinhas. Meu espírito de liderança fazia de mim “o cara” a ser seguido pela turminha da escola. Mas minha preocupação, na verdade minha obsessão, era bem outra. Ia muito além das trivialidades da vida comum. Eu nascera diferente, e não conseguia fugir disso, mesmo que às vezes tentasse. Estava dentro de mim pensar mais, muito mais do que todos à minha volta. Impossível ignorar um desejo irreprimível, uma necessidade crescente de querer ver além. Voltando das aulas, sentava em silêncio para meditar, Bíblia em meus braços, olhos fechados, tentando enxergar respostas para as perguntas que me martelavam a mente, sem piedade: “Quem sou eu? De onde vim? Para onde vou?” (Um abraço, Neo_Cortex! Provavelmente teríamos feito uma boa dupla...).

Como já mencionei antes, nesta época eu freqüentava as missas de domingo, participava de alguns encontros da igreja e até freqüentava reuniões da FTP (Um dia ouvi de dentro de minha casa um coro de vozes juvenis que bradavam em tom vigoroso: “Viva Nossa Senhora!!” – saí para ver o que acontecia e me deparei com um grupo de rapazes de cabeça raspada marchando pela rua, ostentando estandartes com a cruz e diversos símbolos cristãos. Pensei logo que poderiam ser a minha galera. Saí correndo atrás dos caras e pedi informações...). Mas não me sentia completo. Minha sede por conhecimento, minha desesperadora necessidade de buscar os caminhos do espírito não estavam, de modo algum, sendo supridas completamente. Eu já estava disposto a abdicar de uma série de coisas que gostava, se fossem me impedir de avançar neste caminho. Por exemplo: Eu, que sempre fui apaixonado por Rock´n Roll, me obriguei a parar de ouvir Iron Maiden, uma das bandas prediletas, depois de entender o significado da letra de “6-6-6 The Number of The Best”. Black Sabbath também deixou de constar na minha lista de favoritas, quando soube que até o nome da banda significava “o sábado negro”, em outras palavras, a missa negra, celebrada em consagração à satã, nos rituais de magia negra da idade média. Nenhum dos meus amigos sabia destas coisas, simplesmente curtiam o som sem pensar em nada, mas eu já estudava História Antiga, apaixonadamente; com enfoque na história das religiões, claro (Será que as semelhanças são meras coincidências, Whocares??).

Bem, então era esse o panorama: Eu, muito disposto, obstinado em encontrar Deus, para encontrar a Vida e a Verdade. Possuidor de muita fé. Memória e QI (falsas modéstias à parte) privilegiados. Mas não conseguia me encontrar. Sentia-me solitário. Não podia encontrar mais ninguém que se importasse, assim como eu. As baboseiras adolescentes não me satisfaziam. Não me conformava com a alienação dominante no meu mundo. Todos os meus amigos e familiares, todas as pessoas que eu conhecia, pareciam conformadas demais com tudo que não sabiam. O que todos eles faziam me parecia muito mais um vegetar do que viver verdadeiramente. Nas palavras dos Evangelhos, Jesus parecia me desafiar: “Conhecereis a Verdade, e a Verdade vos libertará...” – Se eu pudesse conhecer a Verdade, então seria verdadeiramente livre...

Voltando àquela noite chuvosa de quarta feira: Eu sentado à porta da minha casa, deprimido, olhando para o vazio, a rua deserta: Acho que são aproximadamente dezenove horas e trinta e tantos minutos. Dentro de mim, arde, mais intensamente que nunca, o desejo de encontrar o meu lugar, a minha família verdadeira. E simplesmente saio andando pela rua, passeando sob a fina garoa e a luz dos postes. É um caminhar meditativo, mente elevada... Desço a rua da casa onde morava, sem direção certa, simplesmente porque para lá havia caminhos que eu não conhecia, ainda. Acho que era o meu desejo inconsciente de descobrir coisas novas. Andei por cerca de pouco mais de um quilômetro, depois que saí do perímetro conhecido. Ganhei o bairro vizinho, que eu nunca antes tinha visitado. Passei por ruas novas, lugares desconhecidos, imaginando como poderia um lugar tão próximo parecer tão diferente. De repente, a chuva começou a engrossar, e eu precisei me abrigar sob uma marquise para não me encharcar. Dali iria voltar, esta caminhada meditativa já havia se prolongado o bastante, eu supunha. Como tinha andado, o tempo todo intensamente absorto em meus devaneios, ora olhando para o chão e ora para o cinza do céu carregado, só naquele momento me permiti nivelar o olhar e realmente enxergar onde estava. E poderia também dizer, porquê estava. Eu simplesmente olhei para frente, e ali estava ela! Ali, exatamente à minha frente, do outro lado da rua molhada, uma casa simples, térrea, pintada de branco, com portões e uma porta no corredor lateral abertos. Por esta última eu podia ver uma suave claridade que saía do interior, denunciando que havia atividade lá dentro. Bem acima da porta de entrada frontal, que estava fechada, palavras pintadas em arco me sorriam: IGREJA CRISTÃ EVANGÉLICA.

Um arrepio percorreu minha coluna. Eu havia saído da minha casa, caminhando sem direção, desejando mais do que tudo encontrar o meu caminho e a minha “verdadeira casa”. Simplesmente caminhei por ruas desconhecidas sem saber para onde estava indo, pensamentos materialistas ausentes. De repente, a chuva me obriga a parar, e o que vejo? Bem diante de meus olhos está um templo, do qual eu nunca ouvira falar! Atravessei a rua, passei pelo portão, ganhei o corredor e entrei pela pequena porta lateral. Algo parecido com uma igreja católica, só que menor e muito mais simples. Havia um altar, mas não haviam imagens esculpidas nem pintadas. Não haviam crucifixos. Apenas um altar, com um púlpito á frente de uma pequena assembléia. Na parede do fundo, uma pintura representando um rio ladeado de árvores e um céu muito claro, com raios de sol descendo de nuvens brancas. Arranjos de flores para enfeitar. Bancos de madeira com genuflexório, iguais aos católicos. Mas aquilo não era uma igreja católica, com certeza. No púlpito, um rapaz bem jovem comentava alguma passagem do evangelho, e cerca de oito ou nove outros jovens ouviam atentamente. Entrei um pouco tímido, um rapaz de barba e olhar bondoso me sorriu. Sentei num dos muitos bancos vazios. A palestra não demorou nem cinco minutos para terminar. Eu tinha chegado no final... Todos se levantaram, eu também. O moço de barba se aproximou e me disse: “Seja bem vindo! Você pertence à alguma congregação?” - Eu disse: “Eu sou católico...” – E ele tornou: “Seja muito bem vindo! Às quartas feiras temos esse encontro para oração e estudos bíblicos. Aos sábados e domingos temos cultos. Volte para nos visitar!” – Um outro rapaz se aproximou e também me deu as boas vindas. Por alguns minutos conversamos, os três, eu comentei que morava ali perto e da maneira incomum como chegara ali. Ficaram todos impressionados, foram extremamente simpáticos e disseram que, se eu estava procurando por Deus, aquele certamente era o meu lugar. Senti uma força muito positiva no lugar, e naqueles que me recepcionaram. Encontrei tudo que eu não tinha na igreja católica: Uma recepção calorosa, pessoas empenhadas em encontrar Deus verdadeiramente e o desejo de partilhar e ajudar outras pessoas nessa mesma busca. E o pouco que eu ouvi da palestra, foi muito bom! O preleitor era claro e objetivo, diferente dos padres lituanos que eu até então conhecia. Voltei para casa pensando que o rapaz de barba poderia muito bem interpretar João, o discípulo amado de Cristo, em qualquer filme holywoodiano. A aparência tranqüila, o olhar amoroso, o desejo transparente de ajudar o próximo. Sim, eu iria voltar.

§§§

Nota: Há vinte e poucos anos, a cena religiosa brasileira era completamente diferente da atual. Os assim chamados “evangélicos” (na verdade, esse termo ainda nem existia), eram uma pequena minoria, perdidos em meio à massa da maioria predominantemente católica. Havia pouquíssimos templos de igrejas protestantes, e todas as menções que eu até então ouvira a respeito dessas pessoas, eram críticas, ferozes e preconceituosas. A vaga idéia que eu tinha dos assim chamados “crentes” era aquela caricatura do “bitolado”, de terninho e bíblia debaixo do braço, para o qual tudo é pecado. Daí o meu espanto ao conhecer aquelas pessoas jovens e descontraídas, todos de jeans e camiseta, praticando uma maneira, para mim, totalmente nova de buscar a Deus.

19 junho 2006

Luz!!


Esta é a continuação de “O Primeiro Pilar”. Eu interrompi a sequência dos posts para contar minha pequena aventura como candidato ao seminário. Antes de qualquer coisa, gostaria de esclarecer o porquê de considerar a Bíblia como um "Pilar", mesmo com a dureza do Antigo Testamento e todas as suas aparentes contradições. A leitura da Bíblia, na íntegra, numa fase tão delicada de minha vida (a transição infância/ adolescência), destruiu em mim a inocência. Abriu meus olhos, definitivamente, para o Conhecimento que eu buscava, embora isto tenha se dado de uma maneira que eu jamais poderia supor. Hoje, eu sei que é assim que Ele age. DEUS (é apenas um modo de chamar – pretendo falar mais sobre isto) nunca é previsível. Mesmo que conheçamos certas “regras” Suas, nós nunca conseguimos prever Seus movimentos. Ler o Antigo Testamento por pouco não me destruiu. Foi algo que me feriu profundamente, provavelmente a experiência mais traumática de toda minha vida, até hoje. Tudo que eu era foi abalado. O Antigo Testamento, ou a Torá judaica, é livro sagrado para as três principais religiões monoteístas do mundo (Judaísmo, Cristianismo e Islamismo). Também é considerado sagrado por grupos hindus e para um sem número de seitas espiritualistas around the world. E foi através dele que eu entendi o que significam humanidade e transcendência. Sim, de um jeito muito duro. Porém, era o que eu precisava para despertar de vez deste mundo/sonho ilusório, que nos cerca e cega, e transforma almas belas em zumbis. O choque me separou de vez desta ilusão de Maya/Matrix. Mas não é só por isso que considero a Bíblia como um dos Pilares que sustentam todo o conjunto de meus princípios e convicções...

Quando estamos tão aprofundados num túnel, tão perdidos que já não podemos enxergar nenhum vestígio de luz, e a treva parece não ter fim, é porque chegamos ao pior ponto, o mais fundo. Mas é um fato, que, daí, só podemos avançar para a luz. E assim foi para mim. Depois da Antiga Aliança, a Nova e Eterna Aliança! Cheguei ao Novo Testamento, e finalmente, ele surgiu em minha vida. Poderoso, destruidor e consolador: O Rei dos reis, o Príncipe da paz. Filho de Deus e Filho do homem... Imenso, majestoso, mas o menor entre os pequeninos. O menor e o maior, o de fora e o de dentro, o Alfa e o Ômega. Jesus, de Nazaré.

A maioria das pessoas não tem noção da importância de se ler o Antigo Testamento antes do Novo. Isto só é tão importante porque é assim que conseguimos entender a dimensão da importância da mensagem do Cristo. Quem lê o Antigo Testamento é transportado para aquele lugar e aquela época, onde homens apedrejavam outros homens até à morte por discordarem de seus pontos de vista. Quando mulheres grávidas e crianças de peito eram assassinadas ao fio da espada por pertencerem a um outro povo que não fosse o “escolhido” por Deus. Você fica sabendo que pais sacrificavam seus filhos, em homenagem ao Deus que acreditavam habitar a abóbada celeste. E que espancar esposas era permitido. O ódio era permitido. E o peso de todo mal praticado, se aliviava, degolando-se animais no templo. Você entende que estas pessoas realmente acreditavam que o DEUS magnânimo, Criador e Regente Supremo, de todo o Universo, nutria uma predileção incondicional por um povo irracional e duro de coração. Foi nesse ambiente que Jesus nasceu. Pobre e simples. E foi para essas pessoas que ele proferiu discursos como os que ficararam registrados em

Matheus C. 5. Por fim, ele se deu em sacrifício por uma humanidade desumana, que ria enquanto ele agonizava pendurado numa cruz. Conhecer o Antigo Testamento antes da história de Jesus faz ampliar, mil vezes, a importância das coisas que ele fez e disse. Faz perceber que este salvador foi, sem dúvida, o maior de todos os revolucionários. O mundo nunca mais seria o mesmo, depois dele, tanto para crentes quanto para céticos. Encontrar o Mestre foi encontrar a claridade do sol, depois de uma terrível noite de pesadelos.

Um novo mandamento vos dou: Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei.

Amar a DEUS sobre todas as coisas, e ao próximo como a si mesmo. Isto resume toda a Lei e tudo que disseram os Profetas.

E conhecereis a Verdade, e a Verdade vos libertará.

12 junho 2006

Meu caminho foi outro...

Em 1981, na parte direita da imensa porta frontal da Catedral da Sé, em São Paulo, foi colocado um cartaz. Feito caprichosamente à mão, com letra de mulher, palavras coloridas e muito caprichadas, com canetinha hidrocor. O título dizia: "Nossas paróquias precisam de padres. Jovens, ingressem no seminário... entreguem suas vidas para N S Jesus Cristo! - se você tem entre 14 e 21 anos, procure informações na secretaria. "Fiquei encantado ao encontrar minha chance! Estava ali a oportunidade de que eu precisava. Fui até a secretaria e perguntei pela senhora cujo nome estava no cartaz. Descobri que se tratava de uma freira muito simpática e comunicativa, que me recebeu com carinho quase maternal. Depois de me explicar, resumidamente, certas bases acerca do noviciado, me deu uma data para retornar, e me entregou um pequeno convite em papel sulfite, impresso no mimeógrafo(alguém se lembra disso?), num quadradinho de papel cortado com régua. Uma semana depois, eu estava de volta, mamãe orgulhosa à tiracolo, para assinar alguns documentos, como responsável por mim. , A propósito, ela ficara feliz ao saber da minha decisão. Mas no interior da igreja logo fomos separados, e fui levado para uma espécie de "hall" ao fundo do imenso salão da catedral, ao lado da sacristia. Um aposento espaçoso e mal iluminado, para onde fluía, apenas, um estreito facho de luz vindo de uma pequena clarabóia há uns 4 metros de altura(na Catedral, todos os tetos são sempre muito altos!). Este halo iluminava parcialmente uma escultura representando a figura de um querubim meio triste, segurando sobre a cabeça um disco que poderia servir como mesa, tudo entalhado numa peça de mogno muito bem lustrada. Ao redor, várias cadeiras de madeira, encostadas numa parede toda revestida de mármore de Carrara. Num canto, um melancólico confessionário, daqueles bem antigos, e do lado oposto um grande crucifixo na parede. Fiquei ali, sozinho na penumbra, pensando sobre o importante passo que estava prestes a dar. Do meu lado esquerdo havia uma outra porta, toda em pinho maciço, beirais ricamente entalhados com sisudas figuras, e uma plaquinha em metal dourado que dizia: "Clausura". Brrrrr.... calafrios! Todo o interior da Catedral da Sé, por cujos corredores já me havia esgueirado, curioso, quando pequenino, compõe um ambiente gótico tão belo quanto sombrio e melancólico, que remete a um passado mais austero, em que a religião católica dominava as mentes com sua doutrina de expiação e culpa, tornando a vida mais triste e também mais contemplativa. Por fim, a porta se abriu e uma outra freira, não tão simpática quanto a que me recebera no primeiro dia, entrou. Nem sinal de minha mãe. Esta nova freira sentou-se bem à minha frente, me olhou de cima a baixo, e por fim, abriu um sorriso. Eu, um garoto de 14 anos, um quê assustado, me desarmei e sorri de volta. Ela deveria ser legal, também, e, afinal, o que eu queria era algo que estava muito além do que tinham pra me oferecer simples seres humanos. Eu queria encontrar Deus. E servi-Lo. A senhora dentro daquele hábito cinza-claro realmente acabou se mostrando tão gentil quanto sua colega de uma semana atrás, apenas seus modos eram mais severos. E eu logo entendi o porquê da severidade: Era ela a incumbida de explicar aos garotos que, se quisessem ser padres, teriam que abandonar quaisquer expectativas de fama, fortuna e mulheres. Sim, foi essa senhora quem me explicou pela primeira vez, que se quisesse ser padre, precisaria fazer, diante de Deus, três votos: Pobreza, Obediência e Castidade!

Foi muito desagradável, para mim, tomar conhecimento de que, para ser um sacerdote, eu simplesmente teria que abrir mão de todas as outras coisas desta vida. Algo não parecia certo, para mim. Alguma coisa como que estava fora do lugar, não se encaixava. Então, minha suposta vocação iria exigir de mim tudo, tudo que eu pudesse sonhar para minha vida, mesmo que eu fosse um homem puro, simples e piedoso? Voto de pobreza?? Esse foi o que mais me chocou... É que, na minha mente, o sacerdote era apenas um cara que detinha o privilégio de uma intimidade grande com Deus e que tinha uma maior obrigação de ajudar o próximo, ser uma referência para a comunidade. Fora isso, seria um homem normal. Em todo caso, sem receber chance de argumentar, fui dispensado para pensar, em casa, sobre os meus novos conhecimentos acerca do que eu estava procurando. E foi marcada uma nova data para o meu retorno à igreja, dali a quinze dias.

Já em casa, meu irmão me ridicularizava: "Só o mano aqui vai poder ter namorada!.." - E sabe que até então eu não tinha pensado nisso? Na verdade, eu era ainda um menino casto, minha proximidade máxima com uma garota se dera na quarta série, um beijo selinho na boca de uma coleguinha de sala chamada Marilza. É, eu sei que hoje um garoto de quatorze anos já anda pelas domingueiras da vida, cansado de beijar muitas meninas, e muitos até já perderam a virgindade bem antes. Mas "no meu tempo" as coisas realmente eram um pouco diferentes. E, além disso, como já disse, eu realmente ainda era puro. Mas, daí a saber, assim, de uma forma tão definitiva, que nunca na minha vida poderia conhecer mulher... De qualquer forma, voltei depois de quinze dias. E lá estava eu, de volta à penumbra daquela sala, no interior da majestosa Catedral da Sé. Mas dessa vez não estava só. Mais quatro outros garotos que compartilhavam do meu desejo de ser padre ali estavam, aguardando pela freira orientadora vocacional. Fomos deixados esperando por um bom tempo(hoje eu sei que tudo fazia parte de um processo para se descobrir quem tinha verdadeira vocação)... Começamos a conversar entre nós, cinco meninos candidatos ao seminário. Um dos que ali estavam, um mulato com carinha de muito esperto, era visivelmente mais velho que os demais. E dizia: "Vocês acham que depois de padres formados, teremos mesmo que cumprir todos estes votos que nos obrigam? Não é bem assim, não! Eu conheço vários padres que tem propriedades... E o celibato, então? Você não é obrigado a ser celibatário! Que mal há em ter mulher? Eu, por exemplo, depois que for ordenado padre, não vou deixar de ter as minhas namoradas! O que eles estão fazendo com a gente aqui é só para nos assustar..." De repente a freira aparece e nos pede para voltar na próxima semana.
Esse ritual se repetiu algumas vezes. Só ou acompanhado de outros meninos, eu era deixado por um longo tempo esperando pela volta da orientadora vocacional, que de repente simplesmente aparecia e dizia: "Está dispensado! Volte semana que vem!" - e me dava dia e horário para voltar. Era toda semana a mesma coisa, eu pacientemente retornava, e era colocado para esperar naquela sala soturna, olhando para as paredes, por horas e horas... Como Bodhidharma na porta do templo Shao Lin, esperando que os portôes se abrissem, assim eu voltava, semana após semana, sonhando com o dia em que finalmente seria iniciado como noviço. Até que um dia... eu simplesmente não voltei. No decorrer do processo, graças a Deus, as irmãs responsãveis pela seleção dos vocacionados conseguiram cumprir, em mim, suas melhores intenções, de não permitir que um rapazinho illudido tomasse equivocadamente uma decisão tão radical em sua vida.

Eu sei que não foi a idéia de ter que fazer um voto onde declararia, perante Deus, que permaneceria, por vontade própria, pobre por toda minha vida nessa Terra. Nem o fato de que teria que me manter virgem até a morte. Nem mesmo as palavras daquele garotinho mulato, já com idéias tão falsas, que mesmo dentro de um templo sagrado incitava seus colegas ao erro. Muito menos o desânimo com a aparente desfeita das religiosas diante dos meus frequentes retornos ao templo, para informações mais concretas. Não foi nada disso que me demoveu da minha idéia e vontade de ser um sacerdote. O que me fez mudar de idéia, definitivamente, foi saber daquele outro voto que eu teria que prestar: O da obediência. Que significaria dizer que, por toda minha vida, teria que ser fiel e obediente à autoridade da Igreja. Uma coisa eu tinha, já bem resolvida, dentro de mim: Eu não tinha nascido para deixar que ninguém, mas ninguém mesmo, pensasse por mim. Eu não poderia, nunca, abrir mão de ouvir minha consciência, e tomar minhas próprias decisões, simplesmente por dever obediência cega a algum padre superior, ou bispo, cardeal ou mesmo o papa. Assim, da última vez que voltei da Catedral, fechei-me no meu quarto, ajoelhei e fechei meus olhos: "Perdoe Jesus, mas encontrarei meu caminho de outro modo...".

Foi aí que resolvi comprar uma Bíblia e lê-la na íntegra, por mim mesmo (sim, tudo isso aconteceu antes). Esse seria o primeiro passo nas minhas investigações pessoais do Grande Mistério da vida. E seria minha primeira providência para realizar aquilo que me resolvera fazer aos quatro anos de idade: encontrar Deus!

06 junho 2006

Terror!


Como tinha me resolvido efetuar a leitura da Bíblia a partir do Antigo Testamento, começando pelo Gênesis e daí para diante, assim eu fiz... E os efeitos disto na minha psique foram devastadores. Por quê? Continue a leitura...

O livro do Gênesis me pareceu repleto de incongruências, mas que sob uma ótica mística, isomorfa (contar um fato a partir de analogias, como utilizando parábolas), pode fazer todo sentido. O problema é que na época eu não tinha estrutura intelectual para interpretar o texto desse modo mais profundo - eu simplesmente não estava abalizado para decifrar aquelas palavras sob outra ótica, que não fosse a literal. E literalmente, fica tudo muito complicado... Caim matou Abel por inveja, esta que é, sem dúvida, uma das maiores ferramentas à disposição do “Inimigo” – Satanás, sinônimo de todo mal sobre a Terra. Mas eu não entendia bem o porquê de Deus ter preferido a oferta de Abel à de Caim. “Porque Abel era puro de coração!” – me explica o padre. Mas isso não estava explicado claramente na Bíblia... Um pai não amaria a todos os seus filhos de igual maneira? Além disso, não foi o próprio Deus que fez Caim daquele modo, com todas as suas qualidades e defeitos? Mal sabia eu o que viria a seguir - A história de Abraão e do povo hebreu... O “Senhor dos Exércitos” comanda os Judeus em batalhas sangrentas contra os povos vizinhos. O “Senhor dos Exércitos?? Mas... na missa sempre se falava no Deus do Amor, o Deus do perdão e da misericórdia...

Mas no Antigo Testamento, a visão de Deus não era exatamente a de um Pai amoroso, e isso me afetou. Eu procurava salvação, procurava a Verdade, e estava convencido de que este caminho passaria necessariamente pelo Amor incondicional, mas o que encontrei foi isto:

Matai velhos, mancebos e virgens, criancinhas e mulheres, até exterminá-los. - Ezequiel 09:06

Então ele lhes disse: Assim diz o Senhor, o Deus de Israel: Cada um ponha a sua espada sobre a coxa; e passai e tornai pelo arraial de porta em porta, e mate cada um a seu irmão e cada um a seu amigo, e cada um a seu vizinho. - Êxodo 32:27

Agora, pois, matai todo o homem entre as crianças, e matai toda a mulher que conheceu algum homem, deitando-se com ele. Porém, todas as meninas que não conheceram algum homem, deitando-se com ele, deixai-as viver para vós. - Números 31:17,18

Mas, das cidades destes povos, que o Senhor teu Deus te dá em herança, não permitirás que alguém fique vivo, mas passá-los-ás todos ao fio da espada; - Deuteronômio 20:16,17

E o Senhor nosso Deus no-lo entregou, e o ferimos a ele, e a seus filhos, e a todo o seu povo. Também naquele tempo lhe tomamos todas as cidades, e fizemos perecer a todos, homens, mulheres e pequeninos, não deixando sobrevivente algum; - Deuteronômio 2:33,34

Por fora devastará a espada, e por dentro o pavor, tanto ao mancebo como à virgem, assim à criança de peito como ao homem idoso. - Deuteronômio 32:25

O Senhor é um guerreiro; o Senhor é o seu nome. - Êxodo 15:3

Também lhes dei estatutos que não eram bons, e juízos pelos quais não haviam de viver; deixei-os contaminar-se em seus próprios dons, nos quais faziam passar pelo fogo tudo o que abre a madre, para os assolar, a fim de que soubessem que Eu sou o Senhor. - Ezequiel 20:25-26

Cairão à espada, seus filhos serão despedaçados, e as suas mulheres grávidas serão abertas pelo meio. - Oséias 13:16


Proclamai isto entre as nações: Santificai uma guerra! (...) Forjai espadas das relhas dos vossos arados, e lanças das vossas podadeiras. - Joel 3:9-10

Vai agora e fere a Amaleque, e destrói totalmente a tudo o que tiver. Nada lhe poupes; matarás a homens e mulheres, meninos e crianças de peito, bois e ovelhas, camelos e jumentos. - I Samuel 15:3

Vede agora que eu, eu o sou, e não há outro Deus além de mim; eu faço morrer e eu faço viver; eu firo e saro; e não há quem possa livrar da minha mão. - Deuterômio 32:39

Porquanto do Senhor veio o endurecimento dos seus corações para saírem à guerra contra Israel, a fim de que fossem destruídos totalmente, e não achassem piedade alguma, mas fossem exterminados, como o Senhor tinha ordenado a Moisés. - Josué 11:20

Todavia, porquanto com este feito deste lugar a que os inimigos do Senhor blasfemem, o filho que te nasceu certamente morrerá. Então Natã foi para sua casa. Depois o Senhor feriu a criança que a mulher de Urias dera a Davi, de sorte que adoeceu gravemente. - II Samuel 12:14,15

Então enviou o Senhor a peste sobre Israel, desde a manhã até o tempo determinado; e morreram do povo, desde Dã até Berseba, setenta mil homens. - II Samuel 24:15

Se nem ainda com isto me ouvirdes, mas continuardes a andar contrariamente para comigo, também eu andarei contrariamente para convosco com furor; e vos castigarei sete vezes mais, por causa dos vossos pecados. E comereis a carne de vossos filhos e a carne de vossas filhas. - Levíticos 26:27 a 29

E, virando-se ele para trás, os viu, e os amaldiçoou em nome do Senhor. Então duas ursas saíram do bosque, e despedaçaram quarenta e dois daqueles meninos. - II Reis 2:24

Sucedeu, pois, que naquela mesma noite saiu o anjo do Senhor, e feriu no arraial dos assírios a cento e oitenta e cinco mil deles: e, levantando-se os assírios pela manhã cedo, eis que aqueles eram todos cadáveres. - II Reis 19:35

A espada do Senhor está cheia de sangue, está engordurada da gordura do sangue de cordeiros e de bodes, da gordura dos rins de carneiros; porque o Senhor tem sacrifício em Bozra, e grande matança na terra de Edom. - Isaías 34:06

Samaria levará sobre si a sua culpa, porque se rebelou contra o seu Deus; cairá à espada; seus filhinhos serão despedaçados, e as suas mulheres grávidas serão fendidas. - Oséias 13:16

E também não entendia porque os filhos deveriam pagar pela maldade dos pais:

¥ Preparai a matança para os filhos por causa da maldade de seus pais, para que não se levantem e possuam a terra... - Isaías 14:21
¥ Pois eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a maldade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração. - Êxodo 20:5
¥ Ao culpado não tem por inocente; castiga a iniquidade dos pais sobre os filhos dos filhos até a terceira e quarta geração. - Êxodo 34:7

Outro pensamento me perturbava: Deus criou o mal?

¥ Eu formo a luz, e crio as trevas, eu faço a paz, e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas essas coisas. - Isaías 45:7
¥ Não é da boca do Altíssimo que saem o mal e o bem? - Lamentações 3:38
¥ Assim diz o Senhor: Olhai! Estou forjando mal contra vós, e projeto um plano contra vós. - Jeremias 18:11

Sacrifício humano?

¥ E Jefté fez um voto ao Senhor: Se totalmente entregares os filhos de Amom nas minhas mãos, qualquer que, saindo da porta da minha casa, me vier ao encontro, voltando eu vitorioso dos filhos de Amom, esse será do Senhor, e o oferecerei em holocausto. (...) Assim Jefté foi de encontro aos filhos de Amom a combater contra ele, e o Senhor os entregou nas suas mãos. (...) Vindo Jefté a Mispa, à sua casa, a sua filha lhe saiu ao encontro com adufes e com danças. Era ela filha única. Não tinha ele outro filho nem filha. (...) E deixou-a ir por dois meses. (...) Ao fim de dois meses, ela voltou a seu pai, o qual cumpriu nela o voto que tinha feito. - Juízes 11:30-39
¥ ... de seus filhos nos dêem sete homens, para que os enforquemos ao Senhor em Gibeá De Saul, o eleito do Senhor. (...) ... e os entregou na mão dos gibeonitas, os quais os enforcaram no monte, perante o Senhor. - II Samuel 21:6-9

Hoje eu entendo que o sentido de todas essas passagens, bem como o de muitas outras, só pode ser apreendido levando-se em consideração o seu contexto histórico, cultural, linguístico, etc. Porém, tenho que dizer que, para chegar a essa compreensão, precisei de anos de estudo de História antiga, filologia e teologia, além de muitas (mesmo!) horas de meditação. Registro esses trechos para fazer entender o que sentiu um adolescente amoroso, sedento por Deus e pela Verdade, ao ler estas coisas.

De novo, em minha busca, eu me deparava com o medo. Só que agora, de uma maneira superlativa. Era um "megamedo", eu simplesmente me vi tomado por um terror absoluto. Eu buscava salvação e refúgio em Deus, mas agora, era Ele mesmo o que eu mais temia. Nessa época comecei a sofrer de alguns terríveis sintomas, dos quais a causa só muito mais tarde viria a conhecer: Transtorno Obsessivo Compulsivo(TOC), e outros transtornos de ansiedade generalizada.

01 junho 2006

O primeiro Pilar

Aos meus 14 anos retomei, com maior intensidade, minha Busca por alguma coisa que eu não tinha a menor idéia do que seria, e que por falta de um termo melhor, chamava apenas Deus. Nessa época voltei a freqüentar missas, com maior frequência; todos os domingos, sem falta. Embora nunca tenha feito o cursinho da Igreja, para entender exatamente o que estava fazendo, eu participava da comunhão, com todo o fervor. Comungava e assistia à missa com muita fé, queria porque queria encontrar Deus, e o único caminho que conhecia era aquele. Então, eu persisti. Orava com freqüência. Entrei no catecismo da minha paróquia. Haveria de persistir até conseguir uma resposta. Era um pouco frustrante não encontrar essas repostas de imediato, mas eu entendia que deveria ter paciência, que um dia o próprio Senhor, em pessoa, haveria de me responder. Passei por todas as dificuldades e experimentei as mesmas dúvidas que a maioria dos católicos nos primeiros passos: Não entrava na minha cabeça a idéia de Deus Pai e Jesus serem um só e o mesmo. E eu não fazia a menor idéia de o que viria a ser o Espírito Santo. Só ouvia falar nEle quando o padre dava a benção: “Em nome do Pai...” Nessa época, eu li a biografia de São João Bosco, que ganhei de um tio (marido daquela do centro espírita...), o que fortaleceu ainda mais a minha determinação em ser padre. É, eu ainda queria! Fiquei mais ou menos um ano nessa, de ir à missa todo domingo, participar da Eucaristia, frequentar ocasionalmente o grupo de jovens da paróquia, ler os livrinhos do catecismo... Bem, o tempo foi passando, e conforme passava, e eu não obtinha os resultados desejados (nada menos que um contato direto com Deus), eu desanimava... Deveria estar faltando algo. Constantemente me perguntava: onde estará a Verdade? Existem outros caminhos neste mundo... será que os espíritas, enfim, não estariam com a razão? Afinal, eles tinham provas do que diziam. Eu mesmo tinha visto as fotos. Aquelas, das materilaizações ectoplásmicas... E as outras tantas religiões do mundo, das quais esporadicamente ouvira falar? Bem, o fato é que, por alguma razão, eu tinha ao menos uma certeza: Jesus era a resposta. Não me perguntem o porquê da certeza. Essa convicção simplesmente estava dentro de mim. Lembram dos posts anteriores? Pois é. Desde a mais tenra infância eu estabeleci uma espécie de intimidade com esse tal Jesus Cristo, algo especial, como se ele tivesse de fato me soprado ao ouvido: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida...”. Realmente não sei explicar, mas eu sabia que o meu caminho, fosse qual fosse, teria que ter a ver com ele. Sentia por esse Homem, Deus ou seja lá o que fosse, uma amor ardente, incondicional, arrebatador. Não sei explicar a razão, não sei mesmo, mas só olhar sua imagem representada já me emocionava. Orava para ele com tanta fé que quase podia sentir sua presença, literalmente, ouvir sua voz... Mas, eu comecei aos poucos a entender que no rumo em que estava não alcançaria a Deus. Definitivamente não estava chegando aonde desejava, apenas assistindo missas. Parecia-me apenas um senta-levanta sem fim, o padre falando com um sotaque (lituano – Vila Zelina = colônia lituânica) tão forte que eu não podia entender quase nada do que falava... E depois, voltava pra casa, freqüentemente frustrado. Apenas isso não estava me ajudando muito, não era o suficiente. Precisava de mais. Tinha que avançar, dar o próximo passo na Busca.

Foi quando tomei uma decisão: conhecer a Bíblia. Minha família não tinha uma, então eu peguei o meu dinheiro de mesada e tomei o primeiro ônibus para o centro da cidade. Passeando pela Rua Benjamin Constant, encontrei uma das lojas das Edições Paulinas, e entrei. Havia lá um sem número de edições: As grandes, as enormes, as com capa de couro preta ou marrom, as ricamente ilustradas com obras dos mestres renascentistas, as decorativas, aquela tradicional, com gravuras do Gustave Doré... Tinha também alguns modelos com capa protetora, com zíper em volta, e as com acabamento em ouro. Mas o meu dinheiro só dava para comprar uma das edições em formato de bolso... Procurei e procurei, até que encontrei uma que me agradou, com uma capa de curvim de cor café com leite, e as palavras “Bíblia Sagrada” impressas em branco, na capa. Paguei e saí da loja sentindo uma felicidade incontida. No meio da rua mesmo, caminhando, me pus a ler as primeiras páginas. Não, ainda não o livro do Gênesis, eu não queria perder nada, por isso comecei pelas primeiras notas introdutórias.

Eu sabia que no livro em minhas mãos estava o cerne da religião cristã, a maior do planeta, a religião dos meus pais. E sabia que a íntegra do texto, ali contido, representava, na opinião de muitos, nada mais nada menos que a própria “Palavra de Deus” escrita. Como pude ter demorado tanto para adquirir um exemplar? Dentro do ônibus me acomodei e fixei meus olhos naquelas pequenas e finas páginas, sobrecarregadas de letrinha muito miúda. Já tinha resolvido de antemão que a leria do princípio ao fim, como se fosse um romance, e não aleatoriamente, como a maioria das pessoas. Mas a realidade é que eu nem de longe desconfiava, nem nas minhas mais desvairadas fantasias poderia imaginar o efeito que aquelas palavras haveriam de provocar em mim...