31 outubro 2006

“The day after” e fase esotérica

Eu via beleza e Luz em todas as coisas e em todas as pessoas que encontrava pela frente. Assim continuei por horas e horas. Esse estado “alterado” de mente durou todo o resto daquela tarde, e também toda a noite, até a hora de dormir (que foi tarde, já que o sono não vinha). Tudo tinha uma razão, e eu podia perceber. Podia ver como cada folhinha de grama cumpria perfeitamente o seu papel no grande e maravilhoso espetáculo da vida. Nada me perturbava.

No caminho de volta para casa, tudo me parecia perfeito. Dentro do ônibus cheio eu me levantei para ceder meu lugar, não para uma velhinha ou um cara sem uma perna. Eu cedi meu lugar para um rapaz jovem e saudável. Fiz isso apenas porque ele parecia cansado, aborrecido com sua rotina. E eu transbordava alegria! Cada partícula de mim parecia exalar torrentes de energia, e eu me sentia capaz de vencer o mundo... A coisa que eu sinceramente mais desejava naquele momento (dou minha palavra!) era o bem do meu próximo. Como eu gostaria de poder dividir o que eu estava “vendo” e sentindo com o resto da humanidade! Supondo que isto fosse possível, seria o fim da dor e do sofrimento neste nosso planetinha difícil. Um sorriso que parecia permanente estava instalado em minha face, involuntariamente, e eu sei (mesmo!) que naquele momento seria capaz de oferecer a face esquerda, se alguém me mandasse um tapão na direita.

Enquanto eu viver, tenho certeza, nunca esquecerei do dia que eu tentei descrever no post anterior. Mas depois de experimentar essa poderosíssima experiência interior, que os hindus chamam de “Samadhi (iluminação)”, a única coisa que eu então poderia temer me aconteceu: No dia seguinte a este, em que o Universo se descortinou diante dos meus olhos, despertei na minha cama como se fosse só mais um dia comum... Isso não deveria acontecer! Não podia acontecer... Num dia, eu provara o estado de iluminação espiritual mais precioso, uma espécie de super “insight”; aquilo que monges e místicos procuram, suas vidas inteiras, muitas vezes sem conseguir alcançar. No outro, eu simplesmente acordo... normal. Do jeito normal de sempre. O meu mental voltara ao estado ordinário de preocupação com os problemas imediatos, materialistas.

Isso foi muito frustrante. Mais que frustrante. O que eu tinha vivido foi tão intenso, tão espetacularmente incrível, que eu pensei, enquanto acontecia, que nunca mais voltaria para minha vidinha medíocre. Achei que sairia dali pronto para transformar o mundo, que todas as respostas continuariam surgindo diante dos meus olhos, como que por mágica; que eu nunca mais passaria por dificuldades, nem internas nem externas, que estaria apto a salvar e curar todos aqueles que cruzassem o meu caminho, com apenas um toque ou uma palavra. Que pena, isso não aconteceu...

Mas também devo dizer que, depois desse dia, eu nunca mais voltaria a ser o mesmo. A intensidade da Luz ao meu redor diminuiu. Ou melhor, a minha capacidade para ver a Luz diminuiu. Mas só o fato de ter “visto” a Luz, saber que ela de fato existe, foi o suficiente para fazer de mim um novo ser humano, para sempre. E esse assunto não acaba aqui.

Mas a busca teria que continuar. Sabe aquele provérbio popular que diz que para se ter sucesso é preciso 10% de inspiração e 90% de transpiração? Pois é...

Agora era como ter uma base sólida debaixo dos meus pés, para continuar caminhando: Essa base era saber que este mundo é ilusório. Que as dificuldades são ilusórias, e que existe algo maior por trás das aparências deste mundo desumano. Algo por que vale a pena procurar, perseguir. E, se eu já fazia isso antes, agora minhas motivações se redobravam. Claro que há muitos caminhos equivocados para se seguir, como eu já havia descoberto. Ou será que todos os caminhos levariam ao mesmo lugar, e no fim tudo dependeria do estágio evolutivo de cada um? Bem, isso é assunto para se discutir por dias... Que eu vou deixar para quando terminar de contar a história da minha busca.

Agora começaria minha fase esotérica. Gnose, Rosacruz, Sociedade Teosófica, Illuminati(é...), Templários(ooohhh...)... Passei por tudo isso, ou estudei profundamente. E olha, foi muito antes do Dan Brown (Código Da Vinci) descobrir que esses assuntos todos poderiam servir como ótima fonte de renda... Por hora não vou tratar detalhadamente de cada uma dessas instituições, ordens e seitas. Eu pretendo fazer isso no momento oportuno, já que fazer isso agora demandaria espaço demasiado. Por enquanto, vou falar apenas das minhas experiências pessoais, como venho fazendo até aqui. Quero deixar minhas impressões e compartilhar as principais situações que vivi dentro de cada uma delas. Posteriormente, sim, desejo voltar ao assunto com a profundidade que ele merece.

Começarei a partir do próximo post com uma das ordens esotéricas mais antigas que existem: A Gnose.

27 outubro 2006

Samadhi

De uma certa maneira, posso dizer que esse é o mais importante de todos os meus posts até agora. Começo dizendo que, desde que descobri a meditação, nunca deixei de praticá-la. Aliás, “praticar” talvez não seja o termo mais apropriado. Meditação não é algo que se pratica. Na verdade, trata-se de não se praticar nada. É o único momento em que não estamos fazendo absolutamente nada. É o momento para apenas ser. É o momento para simplesmente aproveitar a vida, usufruir em silêncio do fato de fazermos parte da existência.

Eu posso dizer que me “apaixonei” por meditação, mas de um outro ponto de vista, meditar é “desapaixonar-se” de todas as coisas. Tem a ver com desapego e libertação. Somos escravos do mundo, desde o momento em que nascemos. Escravos da sociedade, escravos do tempo, da lei da gravidade... Ultimamente, cada vez mais, somos escravos do dinheiro. Tudo é difícil, aqui neste nosso plano: Nascer, sobreviver, conviver em sociedade... No momento em que entramos em estado de meditação profunda, as dificuldades acabam, uma sensação de completa liberdade toma conta. Cada micro-fração daquilo que entendemos por “ser” se liberta de todos os padrões impostos. A subjetividade de tudo aquilo a que nos acostumamos chamar de eu, dos valores que nos condicionamos a obedecer, se revela de maneira muito clara. Importante dizer que não se trata de um estado relativo, subjetivo: Esse estado pode e já foi demonstrado clinicamente diversas vezes, através da medição das ondas cerebrais. O estado mental atingido nesses níveis profundos de meditação é denominado como “padrão alfa”. Yogues e monges já provaram que conseguem entrar nesse estágio poucos segundos depois de se colocarem sentados, em quietude.

Por que estou falando sobre meditação? Porque é o “pano de fundo” para o relato de uma das experiências mais transformadoras que eu já vivi em toda a minha vida.

Desde muito cedo, nesta minha busca, eu aprendi que a grande base para toda possibilidade de crescimento espiritual é o Amor. Não qualquer amor, estou falando do Amor. Como diz Krishnamurti, a palavra “amor” foi tão maltratada no decorrer dos séculos, que chegamos numa época em que praticamente ninguém mais sabe exatamente o que ela significa. Por isso gosto de grafar Amor com letra maiúscula, quando me refiro ao Amor verdadeiro, aquele proposto por Jesus. Sabendo que o Amor é sem dúvida nenhuma a chave para o sucesso nessa busca a que me entreguei de corpo e alma, tratei de aprender a cultivá-lo, dentro de mim. Ás vezes ouço comentários a respeito da maneira como costumo me comportar em situações de conflito: “Você é um iluminado!” – “Eu não conseguiria me manter tão calmo numa situação dessas!” – Minha esposa ainda se espanta comigo, por eu conseguir sempre (segundo ela) enxergar os dois lados em qualquer situação... Eu comecei este blog dizendo que sou um cara meio estranho... Mas será que eu sou alguém “especial”? Um ser humano “espiritualmente bem dotado”? Honestamente, acho que não. Pra ser mais honesto ainda, tirando alguns talentos importantes com os quais fui agraciado (como qualquer pessoa), eu entendo que todas as minhas virtudes se devem ao fato de eu realmente (mas de verdade, mesmo) tentar viver e evoluir com Amor. Parece piegas, eu sei... Mas o Amor não é piegas, o Amor é tudo. Tudo que você é, tudo que foi e vai ser, tudo o que tem ou vai ter, aconteceu/acontece por causa do Amor. O que não significa passividade. Mas eu não vou enveredar por este assunto agora, ele sem dúvida merece posts exclusivos. Por hora, basta dizer que eu cresci e amadureci cultivando Amor dentro de mim. Amor por todas as pessoas e coisas. Amor pela vida. Eu sinto Amor pelas árvores, pelas formigas... Eu me sinto sempre grato por fazer parte de tudo. E essa capacidade aumentou ainda mais depois que eu fui pai.

E porque estou falando sobre o Amor? Porque se não fosse por essa energia sublime, que eu quis que fosse a dominante, na minha vida, eu nunca teria experienciado o que vou contar agora.



No ano de 1994, eu costumava fazer empréstimos de livros na biblioteca da Mooca, que fica dentro de um grande parque, com uma extensa área verde, cheia de árvores das mais diversas espécies. Um lugar muito aprazível, que hoje infelizmente se encontra decadente, com lixo jogado por toda parte, e muros e bancos quebrados. Mas naquela época era um lugar limpo e muito bonito. Numa bela e ensolarada tarde, eu saía da biblioteca com dois livros debaixo do braço: “Autobiografia de um Yogue Contemporâneo”, e “O Mahabharata”. Para sair da biblioteca e me dirigir até o ponto de ônibus, tinha que atravessar a parte mais agradável do parque, um belo caminho arborizado. Fazia muito calor, e ao passar por entre duas seringueiras gigantes, que me brindavam com sua deliciosa sombra refrescante, de repente fui assaltado por um poderoso sentimento de abstração. Como se a “tomada” que me mantêm ligado ao mundo físico tivesse sido desconectada, de súbito. O ruído suave do vento, soprando por entre folhas, começou a soar como belíssima música. Olhei para cima, e vi que o céu, por trás dos ramos que balançavam delicadamente, parecia mais azul do que nunca... A música do vento se juntou ao canto de pássaros, e o som se tornou um convite irrecusável. Um convite para simplesmente parar um pouco... Fazer uma pausa. Àquela hora, o parque estava completamente deserto, reinava absoluta tranqüilidade. Fiquei parado por um tempo, depois andei mais alguns metros, agora lentamente, e parei diante de uma árvore que parece “grávida”, devido à conformidade do seu tronco (Essa árvore ainda está lá). Ao lado do muro do campo de futebol, também vazio e silencioso àquela hora, sentei-me na grama, para meditar, protegido pela sombra da árvore “grávida”. Posso dizer que fui praticamente “obrigado” a fazer isso. Lembro-me de tudo como se estivesse acontecendo agora, e meus dedos tremem.

Assim que me sentei, e coloquei os livros de lado, senti como se uma imensa “onda” de felicidade me cobrisse, da cabeça aos pés! Uma “força”, uma poderosíssima corrente energética me arrebatou! Senti-me “separado” do meu corpo físico, como se tudo que eu realmente sou estivesse livre dessa prisão de carne e osso que chamamos corpo. Senti que este algo que eu sempre entendi por “eu”, na sua concepção mais verdadeira , apesar de se localizar dentro do meu corpo, não é inseparável dele. E entendi que o ilustre Sr. Henrique, com sua nacionalidade, naturalidade, data de nascimento, número de RG, filiação, profissão, tipo físico, etc, etc, etc... TUDO ISSO NÃO É NADA! Esse cidadão simplesmente não existe, não é real, no sentido mais profundo da palavra. O que existe de fato é algo muito, mas muito maior, indescritível! Algo belo, e livre, muito provavelmente o que as religiões convencionaram chamar “alma”.

Êxtase. Permaneci nesse estado, elevado, que jamais havia experimentado, perdido no espaço e no tempo, que aliás também me parecia (o tempo) “diferente”... Meus membros e sentidos físicos foram superados, transcendidos, por esse "algo" maior. Impossível traduzir em palavras... Eu olho para todas as direções, sem mover minha cabeça, sem usar meus olhos. As cores não me parecem mais as mesmas, os aromas também não. Me sinto sem peso e sem forma! Nada parece igual ao que já foi um dia. Eu entendo o que significa a palavra “Felicidade”, integralmente, perfeitamente, absolutamente! O tempo agora não existe, problemas não existem. A individualidade não existe! Eu sou tudo em todos, e tudo em tudo.

DEUS me sorri, absoluto. E diz: “Olá, filho! Não se preocupe, tudo tem um bom motivo… Eu quero que você cresça, e só quero isso porque é o que você quer. Eu o amo! Eu estou sempre com você, eternamente!”...

Eu sorrio, involuntariamente. Seria impossível não sorrir naquela hora. Me pareceu ver Jesus, sorrindo. E ele era mais como uma criança, pura e travessa, a me observar, do que como um juiz vingador. Seus olhos escuros continham estrelas. Estrelas brilhavam e emanavam de seus olhos, por todas as direções. Eu vejo Buda, eu vejo milhões ao meu redor, e todos são um só. Tudo faz sentido. De uma hora pra outra, não existem mais dúvidas! Mais nenhuma pergunta! Encontrei minhas respostas, encontrei o sentido de tudo! Naquele momento, eu finalmente me vi, não mais como um buscador, mas como um ser realizado, integral e pleno!..

Alguns “flashes” se sucedem, quando minha atenção se volta para o meu corpo, sentado ali na grama. Uma pequena folha de árvore, trazida pelo vento, vem cair no meu colo. Eu a observo na palma da mão. Observo o desenho, os veios delicados. Eles são como o sistema circulatório humano. Sinto a vida que flui por todas as árvores, que explode em todas as folhas, a vida que cria estas formas verdes que não querem nada, não ser, ser. Entendo que as plantas obedecem a algo maior do que elas mesmas; que elas também contêm, dentro de si, o segredo do Universo (ou Pluriverso?). Enquanto isso, dentro de salas fechadas, equipadas com ar condicionado, homens de jaleco branco e óculos de grossas lentes, escorregando por seus narizes engordurados, tentam desvendar esses mistérios.

Mas eu, eu entendo tudo: Eu sou nada. E entendendo isso eu posso ser tudo.
Samadhi (sânscrito) significa, literalmente: “dirigir juntos”. É um estado superconsciente beatífico, no qual o Yogue experimenta a desidentificação com o ego e a identificação da alma individualizada com o Espírito Cósmico.

24 outubro 2006

O V N I ? - conclusão

Não sei até que ponto acho aconselhável misturar conjunturas. Vlad Lestat que o diga, já que ele às vezes até parece uma “voz” dentro da minha cabeça, tal a similaridade entre as coisas que diz e o que grita meu lado racional. Confesso que durante muito tempo eu tentei abafar esses gritos, na época em que achava que ter fé significava aceitar, acreditar cegamente em algo, sem questionar. Felizmente, essa fase durou pouco. Mas demorou muito até que eu entendesse que ser religioso, e por religioso quero dizer ser um buscador autêntico, não precisava significar necessariamente aceitar “um pacote pronto” desta ou daquela instituição, sem questionamentos. A chave está em saber conciliar o racional com o emocional. Razão e emoção/intuição: Enquanto humanos, somos aptos a fazer uso destes dois pólos para entender e lidar com a vida. Então, é razoável supor que devemos usá-los bem, em perfeito equilíbrio.

O que acontece se um questionador por natureza, como eu, rejeita as dúvidas que surgem ao longo do percurso, sem refletir, testar e ponderar muito bem, aceitando cegamente qualquer proposta de fé? Simples: Estas mesmas dúvidas, depois de um tempo e quando menos se espera, voltam para reclamar espaço. Vão perturbar, enlouquecer, e por fim derrubar por terra todas as convicções que foram instaladas “à força”. Eu sei. Já vivi isso, mais de uma vez. Muitas vezes eu desejei ser igual àquelas pessoas que se encontram nos templos de qualquer denominação religiosa, que crêem sem precisar ver. E eu sempre me sentindo “Tomé”, precisando ver, testar, comprovar tudo por mim mesmo. Até mesmo no budismo um questionador se torna uma presença incômoda, como eu descobri por mim mesmo. Um dia percebi que não é de todo justo usar o exemplo de Tomé para condenar todos os que simplesmente não conseguem crer cegamente. Senão, vejamos: Segundo o texto bíblico, Tomé conviveu com o próprio Jesus. Teve muitas provas e viu muitas maravilhas... Até pessoas sendo ressuscitadas! Mesmo assim, precisou ver e tocar para crer. A diferença entre ele e alguém que apenas leu e ouviu falar é imensa!.. Talvez eu pense demais, e penso que penso demais. Às vezes o raciocínio parece inimigo da fé (Mas não consigo entender porque isto é assim). Por que estou dizendo estas coisas? Porque eu não entendo a reação de cultuar/adorar tudo que pareça maravilhoso, mágico. Tudo que é desconhecido leva a reações irracionais, pretensamente místicas. Com a questão dos OVNIs não é diferente.

Depois de ter visto o que vi, e devido aos sonhos que tive, resolvi procurar por respostas. Tomei essa decisão depois que estes sonhos começaram a aumentar, em quantidade, intensidade e principalmente “realidade”. Num destes dias, em que me via remoendo um desses sonhos tão vívidos, assisti na TV uma entrevista com Angela Cristina de Paschoal, fundadora e diretora do instituto de pesquisa Espaço Kroon. Ela era (e é) uma mulher muito estranha, exibindo sempre um calombo na testa, bem na altura do chakra Ajna ou Agnya, chamado popularmente de chakra “da terceira visão”. Segundo seu próprio testemunho, e o de um rapaz que a acompanhava na entrevista, ela mantinha contatos freqüentes com seres extraterrestres, embora nessa ocasião não tenha deixado claro como isso acontecia. E dizia que, justamente nos períodos de contato mais íntimo e constante, esse calombo aumentava de tamanho e assumia uma coloração mais intensa, avermelhada.

Até aí, novidade alguma, entre tantos malucos que contam histórias esdrúxulas sobre ETs e abduções. A não ser o fato de ela afirmar e reafirmar o tempo todo que o seu grupo de pesquisa se valia estritamente de métodos científicos para o estudo dos fenômenos. Que não tinha nada a ver com misticismo. E que o seu objetivo era encontrar evidências cada vez mais incontestáveis da realidade das visitas extraterrestres. Ela afirmava ainda possuir inúmeros documentos (entre fotos, filmes, cópias de documentos oficiais da aeronáutica, etc) e farto material comprobatório da existência dos UFOs e das visitas dos ETs. Mas ela realmente chamou a minha atenção quando começou a narrar uma série de casos de “contatados”, que seriam pessoas comuns, supostamente “escolhidas” por algum motivo que não sabemos avaliar: Contou três ou quatro casos de pessoas que tiveram avistamentos durante a infância e que depois de alguns anos começaram a ter sonhos realistas com naves e abduções. Disse ainda que a maioria dos casos trazia um ponto em comum: O suposto “contatado”, ao acordar, só mantinha a memória até o momento do sonho em que estava prestes a ser capturado por um OVNI, e que lhe parecia acordar logo em seguida, com a sensação de cansaço.

Pra quem leu o post anterior, não preciso dizer que essa parte me tocou. Ela acabara de descrever exatamente aquilo que vinha acontecendo comigo, em detalhes. E resolvi que valeria a pena conhecer este grupo de pesquisa. Embora o “centro operacional” do Espaço Kroon ficasse em outra cidade, e as reuniões acontecessem em dias e horários que me eram bastante inconvenientes, eu nunca deixaria de verificar aquilo de perto. E lá me fui, eterno peregrino em busca da verdadeira Verdade...

Espaço Kroon: Um grande sobrado no inacessível bairro Camilópolis, na cidade de Santo André. Terça a feira à noite. Muita gente reunida. Pessoas esquisitas (pelo menos me senti em casa :P). Fui recebido por uma freqüentadora antiga do lugar, que me apresentou a todos e me levou a conhecer as instalações de perto, contando detalhes das atividades que eram realizadas ali. Conheci a sala de “transcomunicação instrumental", onde se procuram gravar vozes e estabelecer contatos com “entidades” extra-terrestres. Ali haviam alguns monitores de TV conectados a um computador e a gravadores. Havia também uma sala de arquivo, com uma respeitável biblioteca especializada e arquivo de fotos e vídeo, incluindo os registros de alguns dos fenômenos mais importantes ocorridos até hoje ao redor do mundo. Realmente existem, catalogados, casos impressionantes, imagens avaliadas por especialistas em fotografia, de diversas partes do mundo, que permanecem inexplicáveis. Muitas fotos tiradas na década de 70 e antes, quando ainda não era possível realizar fraudes tão convincentes por meio do Photoshop, mostram luzes parecidas com as que eu vi, tendo como referência a Lua, nuvens, montanhas ao fundo, etc. Há imagens impressionantes de UFOs entrando no mar, em sentido vertical, o que nos permite considerar novas teorias, como a de que o fenômeno talvez não tenha origem em outros planetas, enfim, mas sim no interior do globo terrestre ou no mais profundo dos mares. Afinal, o homem ainda não é capaz de chegar nas maiores profundidades dos oceanos (Alguém aí assistiu ao filme “O Segredo do Abismo”? Recomendo...).

Mas o maior e principal intuito do Espaço Kroon era o contato com nossos “visitantes” misteriosos. Este era o objetivo principal. Esses contatos, segundo os participantes, já aconteciam há algum tempo, principalmente através da fundadora, que seria uma espécie de “médium”, capaz de contatar os ETs por meio de “canalização mental”. Entre os freqüentadores do instituto, era comum a idéia de que não só a existência dos OVNIs é um fato, mas também a de que existem alienígenas entre nós, misturados à nossa sociedade, caminhando pelas ruas e trabalhando em repartições públicas, com forma humana, no intuito de nos conhecer de perto e nos ajudar. Acreditam também numa certa hierarquia dos ETs, e fazem uma classificação das suas diversas “raças”. Os mais conhecidos do público leigo, através de filmes e revistas, seriam os “grays” (cinzas), aqueles mesmos, pequenos e com grandes olhos numa cabeçorra desproporcional ao corpinho magérrimo. Hmmmmmm... Já comecei a não gostar. Mas até aí, tudo bem, já que essas crenças todas não eram impostas, em momento algum, apenas havia um “grupo” dentro do grupo maior, que seguia essa linha mais “viagem na maionese”. Conheci uma garota muito interessante dentro do Espaço, com a qual cheguei a fazer amizade. Uma linda loura, que estava cursando o último ano de jornalismo, e se dizia questionadora, mas estava plenamente convencida da realidade dos contatos com aliens, ali realizados. Muito misteriosa (acho que estava tentando fazer um pouco de chame, na verdade), dizia que não podia me contar tudo, mas que podia afirmar e me garantir que os contatos aconteciam mesmo, e que ela já tivera inúmeras provas incontestáveis desse fenômeno.

Já em outras visitas, procurei me aprofundar junto àqueles supostos especialistas, a respeito do meu próprio caso. Me disseram que deveria iniciar um treinamento específico, que com certeza o meu caso trazia todas as características dos casos dos contatados. Colocaram-me numa sala, com um bloco de papel e uma caneta nas mãos, depois apagaram as luzes e me disseram que deveria me concentrar. Ao meu lado, uma “pesquisadora” veterana do Instituto murmurava numa voz suave: “Se há algum visitante de outros planos, por aqui, manifeste-se ao nosso novo amigo” ... “Se vossas senhorias por algum motivo levaram este rapaz para viagens fora do nosso planeta, por favor, manifestem-se”...


Eu dou a minha palavra de que no começo até tentei levar a sério… Mas, depois de alguns minutos, quando ela começou a me pedir que deixasse a mão segurando a caneta “solta” sobre as folhas em branco, para ver se alguma coisa acontecia, eu não pude conter um sorriso. Mesmo assim, eu fiz o que ela pediu. Deixei minha mão o mais solta que pude, sobre a folha, segurando a caneta. Ficamos nisso um bom tempo. Nada. Quando a mulher já fazia menção de se levantar para acender as luzes, eu não resisti (;-P): Comecei a mover minha mão, me esforçando ao máximo para não rir, e rabisquei algumas letras na folha. A pobre mulher se empolgou. “São eles! São eles!” – Depois que terminou a “sessão”, minha folha de papel rabiscada passava de mãos em mãos. Os “especialistas” do instituto franziam as sobrancelhas enquanto examinavam, muito sérios, os rabiscos. Um deles chegou a arriscar: “Pela minha experiência, isto quer dizer que em breve voltarão a falar com você, através de sonhos!”... Foi a gota d´água! Eu não sou um cara encrenqueiro, mas ali, naquele momento, a brincadeira perdeu a graça. Simplesmente estava em busca de uma resposta séria para minhas indagações. E tudo que eu esperava era um “Não sei” verdadeiro, seguido de um “Vamos tentar entender juntos”, e talvez um “O seu caso se parece muito com estes outros, vamos comparar semelhanças...”. Mas jamais esperava encontrar um intrincado e desconexo roteiro de filme de ficção científica, escrito em conjunto por um grupo de pessoas insanas, misturando essa misteriosa realidade com espiritualidade. Ficção por ficção, prefiro “Star Wars”...

Levantei-me e disse: “Fui eu que fiz esses rabiscos. Nenhum ET esteve aqui. Se a sua experiência diz que isso significa que vou sonhar de novo, ou qualquer outra coisa, então sua experiência não serve pra nada, a não ser confundir os ingênuos, o que graças a Deus não é o meu caso. Estou indo, e obrigado pelo seu tempo”. Olhos arregalados me olhavam, quando desci as escadas, irritado. Ainda tive tempo para um olhar pra minha amiga loura, e um erguer de ombros. Ela retribuiu o olhar, envergonhada. Eu nunca mais voltei a vê-la. Àquela altura já tinha percebido que minha pesquisa sobre UFOs não haveria de obter resultados por essa via...

Consideração final: Para encerrar o tema (ao menos por enquanto), gostaria de esclarecer que intitulei esse post como OVNI? - assim, com uma interogação, pelo simples fato de que essa sigla significa Objeto Voador Não Identificado. Acontece que, a respeito desse fenômeno, nós não sabemos o suficiente nem para chamá-lo assim. Afinal, não podemos ter a certeza de que se tratam de "objetos".

20 outubro 2006

O V N I ? - parte 2

No dia seguinte ao que foi relatado no último post, passando numa banca de jornais, pude constatar que a primeira página do "Diário Popular" trazia a seguinte manchete: "Aparição de OVNI Assusta Moradores da Região do Ipiranga, Cambuci, Vila Prudente e Arredores". Se fosse hoje, eu teria comprado um jornal para guardar, até como referência. Na época, eu não pensei nisso.

Estou certo de uma coisa: O que eu vi, nas duas ocasiões que descrevi, não era algo deste mundo(!). Não era algo que faça parte da "nossa realidade". Era qualquer coisa que está completamente fora do conjunto das coisas que entendemos por "normais". Posso afirmar isso com certeza e honestidade, baseado em alguns fatos muito simples:

1º - No caso do primeiro avistamento, de quando eu tinha 6 anos - Os movimentos que o "objeto" fazia no céu seriam absolutamente impossíveis para qualquer avião, helicóptero, balão, satélite ou qualquer tipo de veículo de fabricação humana. Muito menos poderia se tratar de estrela, meteoro ou asteróide, devido à sua forma e, principalmente, movimento. O grau de aceleração e desaceleração, e as curvas que foram executadas, seriam capazes de romper qualquer material terrestre, e nenhum sistema de propulsão seria capaz de chegar nem perto daquilo.

2º - Tanto o primeiro quanto o segundo objetos, eu posso afirmar com certeza que eram dotados de movimentos guiados, provocados "artificialmente", e pareciam estar se mostrando propositalmente aos expectadores em terra. Digo isso baseado nas evoluções espetaculares que faziam.

A quem estiver interessado, deixo o caminho para assistir um filme onde poderão ver algo bastante parecido com o que eu vi quando era criança. A grande diferença é que o OVNI que eu vi parecia muito maior e mais fulgurante do que o que se vê neste filme, e as incríveis manobras, que são a principal evidência de que não se tratava de qualquer fenômeno comum ou natural, também não estão presentes. Mas a cor e a forma são semelhantes. - Entrem no site da TV Infa e cliquem na opção "30/06/2006 - O Filme da Mikson". Depois de uma breve entrevista com o cinegrafista que fez o filme, Heraldo, vocês poderão assistir à filmagem na íntegra e depois uma reportagem do programa "Fantástico" sobre o tema.

Antes e depois dos avistamentos que relatei, eu sempre tive sonhos extremamente vívidos com OVNIs. Um dos que mais me marcou, foi assim:

Eu acordo em minha cama, no meio da noite. Sinto-me desperto, sem sono pra voltar a dormir, e começo a experimentar uma forte atração me impelindo a levantar e caminhar até a janela. Eu faço isso, e vejo uma "frota" de objetos voadores no céu escuro, bem acima da minha casa. Eu saio até o quintal, e continuo observando, em silêncio. Há muitos deles, alguns maiores e outros menores. Eles vêm e vão. Sinto uma compulsão irresistível de seguir estas luzes, elas parecem me atrair a sair de minha casa... Eu saio à rua, sempre olhando para o céu e acompanhando os OVNIs. Ando pela rua até chegar num viaduto próximo. Eu começo a subir o viaduto, sempre atraído pelas "naves", e quando chego no ponto mais alto, paro. Então, a maior delas começa a descer, vindo em minha direção. Ela chega muito perto de mim, como se fosse me "pegar", de alguma maneira. Então, agora sim, eu me assusto. Mas fico estático, sem me mover. A nave chega realmente muito próximo, logo acima de mim, e eu vejo que é muito grande. É fantástica! Não me lembro bem dos detalhes, para descrever como era, apenas me lembro que havia muitas luzes, de muitas cores. E que não se parecia com um disco, era mais como alguma espécie de "máquina", de formato alongado. E se mantinha no ar sem fazer nenhum ruído. O pavor agora toma conta de mim, meu corpo todo fica paralisado.

Então eu acordo em minha cama, e já é de manhã. Sem me lembrar de nada do que aconteceu depois. Estou cansado, com a sensação de que não dormi a noite, mas olhando no relógio vejo que já são 9 horas.


18 outubro 2006

O V N I ?

O ano é 1973. São aproximadamente 21 horas. Estou na sala da minha casa, na Vila Zelina, bairro da região leste de São Paulo. Estou quase certo de que é uma quarta feira e estamos assistindo, eu e meus pais, a mais um episódio da série Kung Fu, com David Carradine. Subitamente, entra meu irmão, esbaforido, olhos arregalados, gritando e gesticulando: "Vem ver! Vem ver!" - "O que foi?" - Perguntam em coro meu pai e minha mãe, mas ele já tinha saído novamente, correndo, em direção ao quintal, e de lá de fora podemos ouvir sua voz eufórica: "Disco-voador!!"


Saímos todos para o quintal, meu irmão já subiu no muro, para ver melhor. Meu pai e minha mãe soltam exclamações desconexas, abismados. Eu olho para o céu, na mesma direção que eles, para o lado oeste. E vejo algo que nunca mais esqueceria (Tanto que estou contando para vocês, trinta e três anos depois): Um luz em forma circular/esférica desfila pelo céu, que está muito limpo nesta noite. Algo como uma "esfera" de cor alaranjada, de um tom muito bonito, semelhante à cor de carvão em brasa. Essa "forma" faz evoluções, vai e volta, sobe e desce, tudo numa velocidade vertiginosa. Faz movimentos elípticos, depois geométricos. Acelera e desacelera de uma maneira completamente impossível. Eu tenho seis anos de idade. Peço ao meu irmão que me pegue, me coloque também em cima do muro, ao seu lado, para poder ver melhor. Ele me atende sob os protestos e pedidos de "Cuidado!" de minha mãe. Por alguns preciosos segundos, talvez um minuto ou um pouco mais, permanecemos os quatro, eu, meus pais e meu irmão, assim, anestesiados, observando aquele "show" surrealista, inesquecível. É uma sensação como a de se estar sonhando, mas estamos todos bem acordados. De repente, de modo ainda mais improvável, a esfera some. Simplesmente desaparece. Lembro-me que isso, o fato de ter desaparecido, me impressionou mais do que a aparição em si. No dia seguinte e durante toda a semana, o assunto preferido nas rodas de conversa do bairro é a aparição do fenômeno. Muitas outras pessoas também tinham visto o que chamavam de "UFO".

O ano é 1984. Eu e meu irmão fomos ao shopping center Iguatemi, aqui em São Paulo, assistir ao filme "Um Tira da Pesada", com o Edie Murphy. E morremos de rir. Na saída, paramos numa cantina italiana para devorar uma "mezza" portuguesa "mezza quatro formaggio". Caminho de volta. Já devem ser algo em torno de uma e meia da manhã (não me lembro o dia da semana, provavelmente uma quinta ou sexta). Estamos passando pela Av. D. Pedro II, no bairro do Ipiranga, mais ou menos no meio dela, quando eu olho pela janela do carro e vejo uma lua cheia extremamente brilhante e muito bela. Eu digo: "Olha como a Lua está bonita! Cheia e enorme!" - Meu irmão responde: "É mesmo..." - Até aí, tudo parece normal, mas quando eu olho pra ele, percebo que está olhando para o lado oposto de onde está a lua que eu vi! Então eu digo: "Mas ela está desse lado!" - E ele: "Não, ela está aqui, olha!" - Eu olho para o ponto que ele mostra, no céu, e me sinto gelar. Ele tem razão! A Lua estava do outro lado, o lado da janela dele, do carro. Só que do meu lado havia uma outra "Lua"! Um objeto(?) prateado, circular, muito brilhante, que poderia mesmo ser confundido com a Lua. Mas agora que eu sabia que não era a lua, observando bem, percebia que não tinha o mapa lunar. Era completamente "lisa", brilhante por inteiro, e mais fulgurante do que o nosso satélite natural. E estava acompanhando o carro!!

Quase posso sentir a incredulidade de muitos que vierem a ler estas linhas. Acho que é porque eu, muito provavelmente, não acreditaria, se alguém me contasse. E se estava difícil acreditar até agora, esperem só pelo final...

Meu irmão também viu o UFO(?). E ficou muito impressionado. Era impressionante olhar para um lado do céu e ver a Lua, e olhar para o lado oposto e ver uma segunda "Lua"! Prosseguimos com o OVNI dando a impressão que nos acompanhava, até a praça do Monumento do Ipiranga (Lá mesmo, onde D. Pedro I deu o famoso grito...). Naquela época, a praça não era cercada, como hoje, era possível parar o carro e ter acesso direto àquela grande área verde. Meu irmão estacionou o carro na praça, apressado, de qualquer jeito. Estávamos afobados, meio sem respirar. Percebemos que já havia uma meia dúzia de carros parados, de pessoas que também passavam por ali e viram o fenômeno. É uma sensação muito curiosa que se experimenta, numa situação tão inusitada, como de se estar "anestesiado"... Lembrei-me das passagens bíblicas que associam "Sinais no céu" ao advento do fim dos tempos.

Descemos do carro. Era uma noite quente, mas havia uma brisa fresca à essa hora, lembro-me bem. Todos olhavam para o céu (óbvio) e lá estava ele... E de repente já não estava mais. Todos continuam procurando, e então... de uma hora para a outra, simplesmente toda a "abóbada celeste", toda a região visível do céu, começa a "piscar", em alta velocidade!! Como se estivéssemos dentro de um quarto escuro e uma criança travessa estivesse pressionando, intermitente, a tecla de acender/apagar a luz! Todo o céu ao nosso redor acendia e apagava, uma vez atrás da outra, num ritmo muito rápido, sem parar. Era como uma série de raios, mas sem trovão, sem nenhum som, iluminando o céu; um após o outro, a intervalos regulares e curtos, matemáticos. Mas não havia nenhum raio, apenas os flashes brancos de luz. Fortíssimos.

Eu vi as pessoas ao meu redor. Olhos arregalados, não mais do que os meus próprios deveriam estar. A sensação que pairava no ar era algo como: "O que vem agora?" Confesso que foi assustador, inquietante. Mas eu não tive medo. Como não tive da primeira vez, quando tinha seis anos de idade. Esse fenômeno, do céu piscando, deve ter durado cerca de um minuto. E do mesmo jeito que começou, parou.

Continua.

15 outubro 2006

De volta ao Espiritismo - conclusão

No post anterior eu disse que o Perseverança é o maior centro espírita do Brasil. Segundo algumas fontes, ele é o maior do mundo(!). Não poderia haver lugar melhor para concluir minha pesquisa. Através de uma visita prévia, fiquei sabendo que haviam atividades todos os dias da semana, em diferentes horários. Quando lá cheguei pela primeira vez, fiquei surpreendido com a excelente infra-estrutura e o tamanho das instalações. O Centro Espírita Perseverança fica no Bairro Santa Clara, em São Paulo, na Rua Pe Maurício, e não seria exagero dizer que mais da metade dessa rua (que não é pequena - algo em torno de 800/900 mts) é ocupada por esse complexo de imóveis interligados, em ambas as calçadas, tudo pertencente ao Centro. Lojas de roupas (Amigos do Bem), lanchonetes (duas, grandes), livraria, um gigantesco salão de palestras, sala de oração/meditação, uma grande loja de conveniências(!)... Tudo isso sem contar o prédio de 5 andares que ocupa praticamente toda uma quadra, onde funciona o complexo principal (Que estava fechado na ocasião da minha primeira visita, devido ao horário). Na segunda vez que fui ao Centro, tive que me dirigir exatamente a este edifício, onde é feita a triagem inicial. E desta vez me impressionei ainda mais, com a organização do lugar e dos trabalhos, a maneira eficiente e correta com que visitantes e freqüentadores são atendidos.

Logo na entrada, sou recebido por monitores uniformizados. Estão na entrada e em todos os pontos estratégicos, usando jalecos de cor roxa, sempre dispostos a ajudar. Eles me pedem que me dirija ao “Salão de Passes”, antes de qualquer coisa, e que deveria tomar uma enorme fila que se formava no grande hall de entrada. Era uma quinta feira, dia de feriado, e havia muitos milhares de visitantes e frequentadores. Mas a coordenação impecável dos monitores organizava essa fila, silenciosa e comportada, por longos corredores até o tal salão. O salão de passes era um lugar imenso, onde eu imagino caibam mais de 800 pessoas sentadas. Eu não chego a ficar 10 minutos na fila. Ela anda muito depressa, o movimento para entrar e sair do salão é contínuo, entra uma grande turma, passa por uma sessão de passes de mais ou menos 5 minutos e sai por outra porta, enquanto a turma seguinte entra. Tudo perfeitamente calculado. No interior do salão reina uma agradável penumbra; há apenas uma fraca iluminação indireta, proveniente de mortiças lâmpadas azuis de algumas luminárias na parte frontal. Essa fraca luz ilumina, relaxante, a grande parede frontal, onde há uma pintura representando Jesus no centro e o Dr. Bezerra de Menezes ao lado direito. Logo abaixo há uma fonte, com rochas e uma suave cascata d'água; um som muito harmonioso, junto com música (Ave Maria) baixa. Alguns monitores, estrategicamente posicionados nos corredores, orientam entrada e saída. Num microfone um senhor repete a cada minuto: “Entidades amorosas zelam por vocês. Vocês estão sendo agraciados ao entrar nesse recinto, com bênçãos de amor, paz e alegria...”.

Depois da sessão de passes, cada participante é encaminhado ao seu destino, conforme seus próprios objetivos no Centro. Em cada uma das muitas salas do edifício, são realizados os mais diversos trabalhos, voltados à necessidades específicas, como vários tipos de tratamentos. No meu caso, como queria conhecer, fui convidado a assistir uma palestra de Dona Guiomar de Oliveira Albanese, a legendária médium fundadora e dirigente do Centro.

Na segunda feira seguinte, lá estava eu, pouco antes do horário do iníco da palestra. Novamente, milhares de pessoas apinham a rua e as dependências do Centro. Ainda tive tempo pra conhecer a livraria, a lanchonete e a loja de conveniências. Só há uma palavra pra descrever todas essas instalações: Excelente! Estrutura de primeiro mundo. Produtos e atendimento de alta qualidade. Fico sabendo que a quase totalidade dos atendentes são voluntários. Trabalham graciosamente, sua única paga é o bem do próximo. E são muito bons no que fazem. Chega a hora do início da palestra, e eu me dirijo ao salão de palestras (ainda maior que o salão de passes, devem caber ali umas 1500 pessoas sentadas). Algo interessante aconteceu nesse dia: Havia fila para entrar no salão, e uma senhora “furou” na minha frente, na maior cara de pau. Imediatamente eu penso: “Que falta de educação!” Lá dentro, até pela ordem de entrada, nos sentamos lado a lado, e acabamos fazendo amizade. Ela acabaria me servindo de cicerone e guia do Centro, nas outras oportunidades em que eu lá retornei, me dando dicas e me apresentando a vários outros membros importantes.

Hora de assistir à palestra. Conhecer Dona Guiomar, que ao lado de Divaldo Franco é um dos maiores nomes do espiritismo brasileiro e conseqüentemente mundial, e suas idéias. Isto seria de suma importância para meus objetivos. Dentro do salão, completamente lotado, com muitas pessoas sentadas no chão, alguns monitores sobem ao palco e começam a entoar canções religiosas. O público canta junto, fervorosamente. Reconheço vários hinos da Missa católica. Várias canções em honra de Nossa Senhora. Há muita fé no ar. Logo ao chegar, senti que havia muita energia positiva. Muitas pessoas com o desejo sincero de evoluir, encontrar coisas boas, fazer a coisa certa.

Depois de alguma espera, ela entra, absolutamente idolatrada. Aplausos frenéticos. Muitos choram. A senhora ao meu lado chora. Lá está Dona Guiomar, comparada por muitos a Chico Xavier. Já idosa, quase 70 anos, sobe ao palco de um pulo. Cheia de energia, saúda a todos. Bem humorada, conta piadinhas. Canta. Todos cantam junto. Depois da música, finalmente, a palestra começa. Ela retira de uma pilha em cima de uma mesa uma folha de papel. E lê. É um bilhete que havia recebido: “Dona Guiomar, eu gostaria de saber se, como espírita, eu faria errado em beber álcool, só um pouquinho, socialmente, numa festa de Natal ou aniversário, por exemplo... Assinado, Fulano de Tal". A palestra seria em cima desse tema, então. Resposta: “Você, Fulano de Tal, como bom espírita, não deve jamais beber nada que seja alcoólico, nem um pouquinho, nem champanhe no Natal. Porquê? Porque quando se tratam de bebidas alcoólicas, o primeiro gole é seu, mas o segundo já não é mais. Tenha certeza que cada vez que você ergue um copo de cerveja, alguém (espírito) já está ao seu lado, pronto para usufruir desse prazer. E ele fará de tudo para que você beba mais e mais. Por isso é que cada um tem uma reação diferente quando fica bêbado. Um fica alegre, outro violento. Isso depende do obsessor que foi atraído. Se for um espírito violento, você se tornará violento. Se for um espírito triste, você se tornará depressivo...” E por aí vai. Ela lê ainda outras cartas, relacionadas a temas parecidos, vícios e fraquezas humanas. Mas a conclusão é sempre parecida.

A palestra chega ao fim. Dona Guiomar pede a benção do espírito do Dr. Bezerra de Menezes e dos espíritos superiores, e se despede com mais música. Uma monitora sobe ao palco e pergunta a todos, pelo microfone: “Quem tem a ‘senha pro abraço?’” A senhora ao meu lado me explica que abraçar Dona Guiomar é sinônimo de benção, além disso é possível aproveitar esse momento para fazer uma pergunta pessoal. Dezenas de pessoas se levantam para a “fila do abraço” – Jovens, velhos, homens, mulheres... Os outros devem sair. A palestra está encerrada. Ainda tenho tempo de perguntar àquela senhora, minha nova amiga: “Você já ‘abraçou’? O que ela disse?” – A resposta veio rápido: “Só coisas boas...”

Finalmente, minhas conclusões:

Espiritismo, eu gosto:

# Espíritas costumam demonstrar boa vontade no sentido de aceitar/conviver com tipos diferentes de fé (Embora esta não seja uma regra geral. Também existem espíritas "fanáticos").

# A história da origem do Espiritismo me agrada. Hyppolyte Leon Denizard Rivail, ou Allan Kardec, parece ter tentado realizar uma pesquisa científica verdadeira, e dentro das limitações da época em que viveu, organizar um sistema moral e ético justo e coerente com suas prerrogativas.

# Existem muitas e fortes evidências comprovadas em favor da teoria da reencarnação. Existem casos registrados em publicações médicas e científicas.

# Existem alegados casos de contatos entre espíritos e médiuns que ciência e parapsicologia não conseguem explicar.

# A pesquisa em T. I. (transcomunicação instrumental) vem se desenvolvendo em todo mundo, e aqui mesmo no Brasil temos um expoente nessa área, a pesquisadora Sônia Rinaldi.

# No caso do Centro Perseverança: Essa instituição mantém creche, programas de auxílio aos necessitados, promove diversas campanhas humanitárias, etc. Em todas as várias vezes que lá estive, em nenhum momento me foi pedido dinheiro. Todas as atividades se mantém por meio do patrocínio de simpatizantes e da iniciativa privada, pessoas que foram ajudadas, espiritualmente, e que agora se propõem a ajudar. Todos os "funcionários" do Centro são voluntários, e todos trabalham satisfeitos e parecem felizes. Isso para mim tem muita importância.

Espiritismo, não gosto:

# Apesar de ter começado com ideais científicos, o Espiritismo hoje é somente religião. Nada além disso. E com seus próprios dogmas. No que se refere aos contatos com o além, por exemplo, somos sempre advertidos de que, se não tivermos fé, não conseguiremos nada(???). Que tipo de ciência depende da fé? Se você pedir a um médium uma prova do seu poder de comunicação com os mortos, ele provavelmente vai exigir que você tenha fé, alguns (que eu conheci) até se ofendem diante de uma postura investigativa. Ora, se um fato é um fato, ele pode ser comprovado por A + B, independente de eu acreditar ou não.

# O Espiritismo, exatamente por esse caráter, da aceitação de princípios ditos científicos mas que não precisam ser comprovados, acaba se tornando um "paraíso" para charlatões. Qualquer pessoa pode sair por aí afirmando que mantém contato com mortos, e sempre vai ter quem acredite. Aqui no Brasil, então, com este nosso povo extremamente crédulo, a coisa vira uma festa. Haja vista minhas próprias experiências. Posso afirmar sem medo de errar que existem, atuando em falsos centros de Espiritismo, muitíssimos falsos médiuns, alguns por malandragem, outros talvez por pura insanidade.

# A teoria da evolução do espírito por meio do processo reencarnatório nunca me convenceu. Primeiro, pelo fato de nesse processo se perder a memória das vidas passadas. Automaticamente fica perdido o sentido de aprendizado. Isto é: Se eu não castigar meu cão logo que ele apronta a travessura, se eu deixar pra fazer isso no dia seguinte, quando ele já não se lembrar mais do que fez de errado, então ele nunca vai aprender. Segundo, pensar que teremos infinitas possibilidades de corrigir nossos erros, fatalmente provoca acomodação.

# Nos cursos que fiz e palestras que assisti, percebi que dentro do Espiritismo existe o hábito de se alterar os textos bíblicos e dos Evangelhos, para adequá-lo aos princípios de Kardec. Isso costuma funcionar com leigos, mas não comigo, que conheço esses textos no original, em hebraico, aramaico e grego (Essa é uma outra história).

# Conheço histórias de pessoas esquizofrênicas. Uma garota que conheci "ouvia vozes" e procurou o Espiritismo, onde foi aconselhada a "desenvolver sua mediunidade". Depois de sofrer por anos a fio, finalmente procurou um psiquiatra. Depois de uma semana tomando o medicamento adequado, todas as vozes desapareceram para sempre, e ela se libertou. Hoje é uma pessoa feliz e livre.

# Essa história de que somos induzidos a fazer o mal por espíritos obsessores... Não desce! Desculpe, Dona Guiomar, mas eu gosto de tomar minha cervejinha, às vezes, um copo ou dois, e tenho certeza de que ninguém "se apossa" de mim naquele momento. Conheço pessoas que tem problemas com álcool, mas posso garantir que isso não acontece por conta da influência de espíritos, mas sim porque eles tem uma predisposição genética a qualquer tipo de vício. São os adictos. A ciência explica...

Eu respeito o Espiritismo. E ainda mais os espíritas. São pessoas especiais, com muitas das quais eu me identifico. Acredito na possibilidade da reencarnação, mas me furto do apego a dogmas humanos. Acredito na possibilidade da comunicação com espíritos, em casos como este e muitos outros. Acredito nos trabalhos de pesquisa sério, como parece ser o caso de Sônia Rinaldi, reconhecido internacionalmente. Sempre acreditei nas melhores intenções do grande Chico Xavier. Mas não é da minha natureza aceitar nada que venha assim, pronto, e os rumos que o espiritismo anda tomando não me agradam.

13 outubro 2006

De volta ao Espiritismo - parte 4

Ainda não havia desistido de conhecer a religião espírita na prática. Na teoria, como já disse, eu conhecia mais que o suficiente. Como também já disse, algumas das pessoas mais interessantes que eu conheço são adeptas da fé espírita. Além disso, a idéia de uma religião que associa ciência e fé era para mim por demais atrativa. Na primeira parte desse post eu narrei minha visita a um centro espírita filiado à FEB, onde vivi uma experiência extremamente desanimadora. Imagino que muitos teriam desistido ali mesmo, formado um conceito negativo e se afastado de uma vez por todas desse caminho. Mas não eu. Na minha segunda incursão por este terreno tão misterioso, conheci um outro centro, dirigido por um “médium” charlatão, o que me fez entender o quanto é fácil usar a fé das pessoas contra elas mesmas. Mas eu ainda não tinha me dado por vencido. Resolvi partir para uma experiência que seria decisiva. Depois dela, eu seria capaz de chegar a conclusões definitivas sobre o assunto. Resolvi conhecer aquele que é considerado o maior centro espírita aqui de São Paulo e um dos maiores do Brasil, em todos os sentidos; fundado e liderado por uma das médiuns mais respeitadas, iniciada por Chico Xavier em pessoa: O Centro Espírita Perseverança, fundado e dirigido por Da. Guiomar Albanese.
Mas, antes de contar como foi... gostaria ainda de tratar de algo importante, que me aconteceu, relacionado diretamente ao tema espiritismo. Sei que eu havia dito que esta parte seria a conclusão do post. Mas existe essa outra experiência importante porque passei, da qual achei que realmente seria relevante falar. Sinto que devo publicar mais esse, antes do post conclusivo de “De volta ao espiritismo”. Pra compensar o atraso, tentarei postar a conclusão amanhã mesmo. Serei o mais breve possível nesse relato, porque pretendo concluir logo esse grande post. Aí vai:

Quando comecei a freqüentar a FEESP (Federação Espírita do Estado de São Paulo), assistindo palestras e fazendo cursos, como o de "Introdução ao Espiritismo" e "Mediunidade" e o de “Estudo do Livro dos Espíritos”, conseqüentemente fiz algumas amizades. Uma destas pessoas, sabendo que eu gostava de escrever e que tinha vários textos prontos sobre assuntos de espiritualidade, me recomendou uma editora espírita, que ficava justamente na região central de São Paulo, próxima a própria FEESP. Por um tempo refleti sobre o assunto. Mas, afinal, ter um livro publicado era um antigo sonho de adolescente, e assim, resolvi conhecer a tal editora. Entrei em contato por telefone e agendei horário para uma entrevista com o editor. No dia e horário marcados, fui até o local levando comigo uma pilha de folhas com textos em formato padrão. Bom, eu sempre escrevi muito, muito mesmo, desde a minha adolescência, e principalmente depois de começar a praticar meditação transcendental; quase sempre sobre temas espiritualistas: pequenos contos metafóricos, relatos de experiências interiores profundas, poesia, etc. Então não foi difícil fazer uma coletânea de alguns desses textos, os que eu achei mais interessantes, pra levar ao editor.

Chegando no lugar, uma grande casa onde funcionavam gráfica, livraria e um pequeno escritório editorial, fui recebido com muita atenção e cordialidade (o que não acontece normalmente em outros tipos de editora, isso eu sei). O tal editor (cujo nome não me lembro, e cujo cartão eu não acho), me pediu alguns minutos para analisar o material. Eu concordei e fiquei esperando. Depois de uns quinze ou vinte minutos, ele retorna com um grande sorriso no rosto e fala: “O material é ótimo! Podemos publicar, com boas chances de lucro! Esses lucros são modestos, a princípio, mas se com o tempo você se tornar um autor conhecido no meio espírita, aí já começa a se tornar possível viver só de escrever...” Eu assenti com a cabeça, animado, mas ponderei que o meu tipo de literatura não era necessariamente espírita, mas sim espiritualista, e que eu não tinha a intenção de me prender a nenhuma corrente religiosa ou filosófica. A resposta foi imediata: “Olha, eu só posso publicar os seus livros se você me disser que eles são psicografados. Eles foram psicografados, certo?”...

Bem, não preciso contar o final dessa história. Eu nunca psicografei nada. Meus textos foram escritos por mim mesmo. Euzinho da silva, e acho que ainda estou bem vivo.

Mas o que eu sinto que preciso dizer aqui, mesmo, é que se eu tivesse dito, ali naquele momento, que sim, que eu tinha "recebido" os livros por meio de psicografia, que o autor era alguém desencarnado há muito tempo... Bem, talvez hoje eu fosse um escritor espírita conhecido, vendendo muito e vivendo desse tipo de literatura. Bastaria eu ter dito: “Sim, esses textos são todos psicografados” (Imaginação para inventar um autor desencarnado interessante não me falta).

Até hoje, quando entro numa bookstore e vejo aquela estante enorme da sessão espírita, repleta de livros ditos psicografados, eu penso nisso. E eu também tento entender: Porque as palavras de alguém que já morreu devem ser consideradas mais importantes do que as de alguém que está vivo, pensando e existindo no aqui-agora? Na prática, é isso que acontece.

No próxima, quinta e conclusiva parte desse post: Dona Guiomar e o Perseverança. Não percam a fé...

10 outubro 2006

De volta ao Espiritismo - parte 3

Claro que eu não deixaria que uma primeira impressão me afastasse assim, de modo tão definitivo, de uma religião seguida por tantos amigos e pessoas interessantes que conhecia. Ainda mais porque essa religião parecia trazer casos importantes, de evidências concretas, da continuidade da vida após a morte do corpo físico. Desde a minha infância a religião espírita me intrigava, e eu não iria me deixar convencer por uma só experiência negativa. Portanto, resolvi seguir a indicação de uma amiga e fui conhecer um outro médium, que segundo me informaram era clarividente e capaz de se desdobrar no plano astral, além de ser um ótimo palestrante. O nome dele era (e é ) Moisés Esagüi. “Haverá uma palestra no Centro, com o Moisés, no próximo sábado, às duas e trinta!” – Disse essa amiga espírita - “Ótimo. Iremos juntos!” - foi a minha resposta.

Chegado o dia, lá estava eu (Não vou divulgar o endereço). O Centro era uma casa, um grande e bonito sobrado antigo, transformado numa espécie de escola, com uma sala de espera na entrada, uma pequena biblioteca e um pequeno salão de palestras logo depois. O lugar estava apinhado de gente. Logo ao chegar, fomos interpelados por algumas moças, que serviam como ajudantes, que nos deram fichas para preenchermos com nossos nomes, endereços e telefones. As palestras aconteciam no salão, agora completamente lotado! Pessoas se espremiam também no corredor que havia do lado de fora da casa, disputando um lugarzinho na janela do salão! Do lado de dentro, todas as cadeiras ocupadas, e muita gente acomodada pelos cantos, no chão, e outras em pé, encostadas na parede do fundo. Minha amiga e eu tivemos também que nos ajeitar em pé, no último espacinho vago, logo atrás da porta. Apesar de apertados, dali teríamos ótima visão e audição da palestra toda.

Depois de algum atraso, entra o tal Moisés Esagüi. Sujeito magro, baixo, franzino, cabelos escuros encaracolados. Óculos com lentes finas, de aros dourados, e um ar tranqüilo. Usava calça social e camisa de flanela xadrez. Cumprimenta a platéia com uma voz suave, e com uma fala pausada e muito mansa, quase sussurrada, ele anuncia que o tema da palestra seria Projeção Extra Corpórea. Ouve-se um coro de “Oooooooohhhhh...” baixinho, ecoando pelo ambiente. Olho para os lados, todos os olhos estão brilhando. O homem é quase idolatrado!

Ele resolve iniciar a palestra dando um exemplo do que é possível se fazer por meio da projeção ou desdobramento astral: Conta que certa noite foi acordado em sua cama por espíritos superiores, que precisavam e pediam a sua ajuda para auxiliar um detento, que se encontrava desesperado em sua cela, se preparando para cometer suicídio. E que então ele, Moisés Esagüi, saiu do corpo físico e se transportou à velocidade da luz até a cela onde o condenado já estava com uma corda enrolada no pescoço, pronto para dar termo à própria vida. Como não sabia o que fazer para demover o homem de sua triste determinação, teve uma idéia brilhante: Tomar uma forma visível, de alguém que o coitado com certeza iria ouvir e respeitar. E assim, o (super) médium se plasmou ali, dentro de uma cela de penitenciária, com a forma física de Jesus Cristo!

Mais uma vez eu ouço um “Oooooooohhhhh...”, dessa vez ainda mais entusiasmado. Os olhinhos dos presentes brilham ainda mais. “Isso explica tudo”, continua o palestrante – “Toda vez que alguém diz que viu santos, anjos ou etês, vocês podem ter certeza que se trata de algum espírito brincalhão pregando uma peça. Lógico que eu só fiz isso pra poder salvar a vida daquele pobre homem. Quando ele me viu, sob a forma física de Jesus, na mesma hora achou que era um Sinal dos Céus e desistiu da idéia de se matar... Hoje ele é evangélico...”

“Aaaaaaaaaaahhhhh...”, fazem todos. Eu olho para minha amiga. Ela me espia de canto de olho. Uma moça sentada numa das cadeiras da primeira fila diz: “Então quer dizer que você pode sair do corpo, tomar a forma que quiser e aparecer pra qualquer pessoa?” – Ao que Moisés prontamente responde, fazendo pose de importante: “Ah, sim... qualquer um pode fazer isso, se souber como! Aliás, a partir deste mês eu vou começar a ministrar um curso sobre desdobramento astral, com um custo bastante acessível. E pra quem já faz o curso de ‘cura por imposição das mãos’, comigo, tem um desconto de 20%! Mais informações com minhas secretárias, no final da palestra”... Todos se mostram super empolgados, e alguns já começam a perguntar pela quantidade de vagas. Eu só observo e penso “Meu Deus, como é fácil enganar tantas pessoas, que, a seu próprio modo, estão buscando, como eu...” Imediatamente algo me diz que não. Estas pessoas não estão buscando como eu. Elas simplesmente querem se sentir confortáveis. Querem eleger como mestre ou guru alguém que lhes diga o que querem ouvir, que morrer não é o fim, e que elas são eternas. Querem alguém que lhes diga que elas têm superpoderes, que não precisam lutar para conquistar coisa alguma, ou trilhar um Caminho estreito. Querem um caminho largo, fácil, agradável... A Verdade? A Verdade pra elas é um fator secundário, de menor importância.

Eu já ia embora, afinal não tenho tempo a perder, e a única coisa que poderia aprender ali seria a arte da enganação. Mas, antes, resolvi provar pra minha amiga que ela estava se iludindo, naquele lugar. O “grande médium” agora falava da presença dos espíritos obsessores, que estão por todos os lados, que eles aparecem em todos os lugares, sempre ao nosso redor, prontos para nos prejudicar, nos “puxar” pra um nível vibratório inferior. Que a maioria das doenças físicas e vícios era provocada por esses espíritos sofredores e blábláblá... Uma senhora no canto da sala disse que sentia fortes dores nas costas, que os médicos não conseguiam diagnosticar, e perguntou se o palestrante podia “ver” alguma coisa. No mesmo instante ele disse que sim, estava vendo uma presença negativa nas costas dela. Novo “Oooooooohhhhh...”. A pobre senhora se apavorou, mas o "nobre" homem rapidamente lhe assegurou que depois iria explicar para ela, em particular, o que teria que fazer para se livrar do espírito inconveniente. Então eu puxei minha amiga e sussurrei ao seu ouvido: “Vou fingir que estou mal”. Ela me olhou, confusa. Entortei o pescoço para o lado direito, e comecei a encenar uma expressão de dor.

Dou minha palavra a vocês, não foi preciso que eu dissesse nada: Em menos de cinco minutos, Moisés Esagüi, observando minha expressão e minha postura, disse: “Por exemplo, tem um rapaz aqui dentro que está com um espírito bem ao seu lado, agora, que o obriga a pender o pescoço para o lado. Isso acontece porque...”

Eu ri alto, endireitei o pescoço e puxei minha amiga pra fora da sala. Chegando na sala de espera, uma das secretárias, uma loura bonita, me perguntou pela fichinha com meus dados, e eu respondi: “Não vou entregar meus dados pessoais pra vocês”. Já do lado de fora, perguntei pra minha amiga: “POR QUÊ? POR QUE VOCÊ É ASSIM TÃO INGÊNUA?”?..

A seguir: Conclusão...

06 outubro 2006

Revelações bombásticas!

Pessoal, estou me esforçando agora em publicar novos posts todas as terças e sextas feiras, no mínimo, para que o blog não fique muito tempo sem atualização. Mas hoje (Sexta feira), exepcionalmente, não será possível postar a continuação das minhas memórias de buscador.

Mas não vou deixá-los na saudade (Me achando...). Resolvi aproveitar a ocasião para fazer duas grandes revelações para vocês, de coisas que eu acho que vocês precisam saber. Já venho pensando nisso há algum tempo, mas hoje tomei a decisão definitiva.
Hoje, finalmente, vocês vão saber!..

Revelação número 1: O "H" do H. K. Merton, é de Henrique! Sim, este é o meu nome! Continuo preferindo não revelar meus dados pessoais, por motivos particulares, mas tenho percebido que muitos têm dificuldade, ou não se sentem à vontade para me tratar por H (Embora tenha sido meu apelido por um bom tempo: Agá), ou H K. Alguns me chamam de Merton, que não é meu sobrenome verdadeiro, é um nick em homenagem a alguém que eu admiro. Então, achei que seria melhor para todos revelar meu primeiro nome real. É isso - Henrique. Podem me tratar assim, a partir de agora.

Revelação número 2: O Darth Vader, general do Império Intergaláctico, é, na verdade... o pai do Luke Skywalker!!


Que foi? Só pra descontrair um pouco, afinal, é sexta feira!! Um ótimo find pra todos!!

04 outubro 2006

De volta ao Espiritismo - parte 2

Quando cheguei ao centro espírita mencionado no post anterior, no Bairro da Mooca, em São Paulo, cujo nome e endereço prefiro omitir, encontrei um alto muro pintado com cal tingido de amarelo, e um portão de ferro por cujas frestas se podia visualizar, no lado de dentro, uma ampla área livre. No papel que eu tinha em mãos, constava um horário de sessões às 15 horas, todas as terças feiras. Toquei a campainha e fui de pronto recebido, por uma moça toda vestida de branco, com grande amabilidade e simpatia. O centro em questão era nada mais que uma antiga casa térrea, bem ao estilão “retrô” típico da década de 70, com esse grande quintal gramado na frente e um jardim muito bem cuidado. Ao fundo do terreno havia um salão que mais parecia uma estufa para o cultivo de plantas, com as paredes da frente todas em vidro, e muitas samambaias e outras plantas ornamentais pendendo do beiral de madeira que ficava rente ao telhado. Essa moça me pediu que esperasse numa ante-sala, uma espécie de quartinho, de onde podia ver, pela janela, o salão principal, e através das suas paredes de vidro podia ver também a atividade das pessoas lá dentro, em volta de uma mesa comprida, com uma toalha branca, vasos com flores e alguns copos com água.

Até então, ninguém havia me perguntado absolutamente nada, apenas me cumprimentaram com um “boa tarde” e depois pediram que aguardasse, que a sessão já ia começar. Também não questionei nada, afinal estava ali para aprender, mesmo... Fiquei sentado aguardando por algo em torno de 15 minutos, mais ou menos o tempo que faltava para o início da sessão. Quando chegou a hora, uma senhora veio até o quartinho onde eu estava e me convidou para entrar no salão de vidro.

Entrei e vi que haviam reservado um lugar para mim à mesa. Estranhei aquela atitude, porque afinal eu não me manifestara com intenção de participar da sessão, nem me declarara espírita, nem nada. Na verdade, como já disse, nenhuma pergunta me foi feita. Apenas me disseram que duas médiuns participariam da sessão: Uma que psicografava mensagens do além, e outra que costumava incorporar (e falar com as vozes de) espíritos desencarnados. E que se eu tivesse algum problema pendente, muito provavelmente não sairia dali sem uma resposta. Imediatamente pensei: “A ocasião é perfeita!” – Como mencionei no post anterior, o meu momento era extremamente difícil, eu me encontrava emocionalmente arrasado, por conta do fim de um relacionamento (Eu estava mesmo muito chateado, irritado, aturdido, procurando uma saída).

Entrei e a sessão começou. Foi colocado num antigo aparelho de som uma fita k7 com a música Ave Maria, de J S Bach, rolando sem parar; terminava e começava novamente a mesma música. As luzes foram apagadas, as cortinas se fecharam e o ambiente foi tomado por uma penumbra suave. A dirigente do centro, sentada à cabeceira da mesa, convidou todos os presentes a rezar um “Pai Nosso”, e logo em seguida uma “Ave Maria”. Depois das orações feitas, ela pediu que todos fechassem os olhos e elevassem o pensamento a Deus. Eu fechei meus olhos, e, depois de alguns minutos, comecei a ouvir um ruído de sussurros ecoando ao redor do ambiente. Todos estavam orando baixo, e o que se podia ouvir era uma profusão de cochichos pelo ar. Estavam presentes à reunião cerca de oito ou dez pessoas, aproximadamente. Chegou um momento em que o tom e o volume das vozes de todas essas pessoas, recitando orações ao mesmo tempo, começou a se elevar, chegando a ficar incômodo. Mais alguns minutos e o ruído voltou a se acalmar. Foi nesse exato instante que eu percebi que aquela senhora que se dizia psicógrafa, que estava sentada bem ao meu lado, começava a puxar folhas de papel sulfite de uma pilha e a rabiscar grandes letras em várias delas, uma após a outra, num ritmo frenético. Logo em seguida, a outra senhora, da qual haviam me dito que incorporava espíritos começou a falar sem parar, primeiro palavras ininteligíveis, e depois algumas frases desconexas. Num dado momento, ela começou a falar com uma voz como que de criança, perguntando pelo papai e pela mamãe. Continuamos todos imóveis, em volta daquela mesa, por cerca de uns quarenta minutos ou um pouco mais. Por fim, a sessão se encerrou e terminamos novamente com orações.

As luzes se acenderam, todos se cumprimentaram, e a senhora que escrevia nas folhas de papel começou a ler em voz alta o que havia escrito. Eram diversas mensagens simples, frases de otimismo e chamados à fé cristã. Numa das últimas folhas, ela me disse que havia recebido uma mensagem dos espíritos superiores que deveria ser lida para mim! Imediatamente pensei: “Será que agora eu vou ter uma prova definitiva da autenticidade dos fenômenos espíritas?” – Um breve momento de tensão, ela ajeitou os óculos sobre o nariz e então começou a leitura. O conteúdo era o seguinte:

O 'moço bonito’ que veio nos visitar atravessa um momento maravilhoso na sua vida, ele não veio procurar respostas para os seus problemas, veio para ajudar. Hoje foi a primeira de muitas visitas, a partir de hoje ele se tornará um freqüentador constante. Nosso conselho é que ele se esforce para manter esse estado de alegria em que se encontra, para que a sua fé seja constante e para renovar-se, diariamente, em festa de amor e luz”.


O que eu achei de tudo:

Bem, posso deixar aqui o meu testemunho de que aquela senhora, que supostamente incorporava espíritos desencarnados, em momento algum falou com uma voz que não fosse a dela própria. E no instante em que começou a falar com voz de criança... Bem, eu posso afirmar sem medo de errar que ela estava na verdade tentando imitar a voz e o jeito de falar de uma criança. Até porque crianças não tentam falar “fino”. Elas falam assim porque suas vozes são naturalmente agudas, devido à conformação física das pregas vocais e da laringe. Portanto, se o espírito de uma criança viesse a falar por intermédio de um corpo físico adulto, a voz sairia com o mesmo timbre da voz desse adulto, falando normalmente. A diferença estaria no modo de se expressar, evidentemente. Além disso, todos os supostos espíritos que incorporaram na suposta médium durante a sessão tinham os mesmos vícios de linguagem da própria médium. Todos esses "espíritos" usaram a palavra “evidentemente", por exemplo. Exatamente a mesma palavra que a suposta médium tinha mania de repetir, em praticamente todas as frases que dizia. Então, só posso concluir que, se pessoas “desencarnadas” realmente falaram por meio desta senhora, por alguma incrível coincidência, todos eles tinham os mesmos vícios de linguagem que ela. Quanto a psicografia... Bem, no que dizia respeito à minha pessoa, não podia estar mais errada. Como já disse, eu atravessava um momento realmente muito difícil, meu espírito se encontrava agitado, ressentido, abalado. Portanto, dizer que eu atravessava “um momento maravilhoso...” nada mais distante da verdade. Dizer que eu não estava ali em busca de respostas, mas sim para "ajudar" também era totalmente equivocado. A verdade era o contrário disso. E talvez o erro maior tenha sido dizer que “Hoje foi a primeira de muitas visitas, a partir de hoje ele se tornará um freqüentador constante...” – Na verdade, eu nunca mais voltaria àquele lugar.

Ainda continua...

03 outubro 2006

De volta ao Espiritismo

Agora que eu havia tomado uma decisão, ainda que provisória, sobre o modo como cuidaria da parte prática da minha vida, e agora que finalmente assumira, para mim mesmo, minhas reais prioridades, encontrei o tempo de que precisava para continuar minha Busca.

Iniciei uma fase muito produtiva. Agora que já tinha bases bem sólidas para usar como parâmetros, resolvi que teria que reiniciar essa Busca como se fosse do "zero". Através das práticas meditativas conquistara uma única certeza: Sou nada e nada sei. O ser humano deixa de aprender e evoluir no exato instante em que começa a pensar que já sabe o suficiente. Manter-se consciente da própria insignificância é condição indispensável para qualquer um que se disponha a aprender. E lá estava eu de volta na "estrada".

Eu já tinha conhecimento sobre muitas religiões e mestres, do muito que lera nos livros e pesquisara pelas bibliotecas da vida. Mas, como eu tenho por princípio não falar daquilo que eu não conheço realmente, só me permitia considerar conhecedor de alguma doutrina a partir do momento em que a conhecesse de fato: Pra formar opinião, precisava conhecer o lugar, o templo, seus líderes ou sacerdotes, o culto, a doutrina e todos os seus rituais. Por isso, naquele momento eu percebia que, sendo eu um brasileiro, havia uma lacuna no meu “currículo” de buscador que precisava ser urgentemente preenchida. Precisava conhecer o Espiritismo. E, se havia verdade nesta doutrina, eu iria descobrir. Com pureza de coração e verdade na alma.

Sobre a história do Espiritismo, sua doutrina e seus fundamentos, eu já sabia praticamente tudo que há para se saber, do muito que pesquisara. Provavelmente eu não tinha me interessado antes em conhecer mais de perto essa religião porque quis conhecer primeiro as mais antigas instituições religiosas do mundo: O Cristianismo; nas formas de Catolicismo, Protestantismo, Pentecostalismo e Neo-Pentecostalismo. Depois, as principais escolas e conceitos de meditação (num primeiro momento, ainda desvinculadas de suas origens religiosas). E então o Budismo. Como já disse, paralelamente à estas experiências, eu ia formando, através do estudo, as bases do meu conhecimento a respeito de outras religiões, entre elas o Judaísmo, o Hinduísmo, Brahmanismo, as religiões ameríndias e outras.

Pois bem. Meu primeiro passo foi procurar a Federação Espírita Brasileira, cujo braço aqui em São Paulo é o FEESP, que fica na Rua Maria Paula, Bairro da Bela Vista. Ali mesmo assisti algumas palestras, com o objetivo de consolidar meus conhecimentos a respeito da religião que vem crescendo tanto aqui no meu país, devagar mas solidamente, ao que parece. Na própria Federação, adquiri alguns endereços de Centros “Kardecistas” filiados. Os outros “tipos” de centros considerados espíritas, como os de Umbanda e Candomblé, realmente nunca me interessaram. Uma seita cujos terreiros alguém pode procurar com o objetivo de fazer o mal ao próximo não merece o título de religião, e também não vale o tempo de se conhecer, a não ser, talvez, por uma questão de pura curiosidade.

O Centro a que fui indicado ficava no Bairro da Mooca, e lá fui eu atrás de conhecimento e Verdade. Como sempre, antes de me dirigir ao local, fiz uma oração pedindo orientação. Pedi que se ali estivesse a Verdade que eu tanto buscava, que eu tivesse a sensibilidade para perceber, e se fosse o caso, fazer daquele o meu caminho definitivo.

Uma detalhe interessante e que tem muito a ver com as conclusões a que eu haveria de chegar: Exatamente no dia em que programara minha visita ao Centro, aconteceu algo muito desagradável: Levei um fora de uma namorada com quem já me relacionava há alguns meses, e fiquei emocionalmente arrasado. Só não desisti de fazer a visita naquele dia porque achei que, além de tudo, seria uma ótima maneira de mudar o foco dos meus pensamentos.

Continua...