30 novembro 2006

O Terceiro Pilar

Depois que entrei para o Vidya Yoga Ashram, iniciei uma fase muito produtiva para minha busca. Quando criança, eu meditava de um jeito espontâneo, inconsciente. Toda minha vida era meditativa, de uma forma perene. Depois que eu cresci, esqueci como viver assim, “perdi o jeito”, e tive que reaprender a Arte, como qualquer adulto que venha a se reinteressar por essas coisas.

Me entreguei totalmente a esse trabalho diário, dedicado e intensivo, de reconquista das capacidades perdidas. E o sucesso veio. Começei a me sentir muito bem em minha nova vida. Eu já tinha tentado ser vegetariano antes, sem muito sucesso, eu sentia falta da carne. Agora, sob a orientação carinhosa e profilática dos professores, eu conseguia me manter na dieta vegetariana sem problemas. Esse período coincidiu com uma fase bastante particular da minha vida: O fim de um relacionamento afetivo de anos, o que acabou por me levar, também, à abstenção sexual por um tempo bastante prolongado (algo tido como benéfico pela maioria das linhas do Yoga); uma coisa inédita em minha vida adulta.

Minha concentração no trabalho e em todas as tarefas diárias aumentava sensivelmente. Eu me sentia desperto, ao mesmo tempo em que experimentava uma grande serenidade. Resumindo, me sentia equilibrado. A prática da meditação, que eu nunca abandonei, agora era mais intensa, e os seus benefícios cada vez mais perceptíveis, em todas as horas do meu dia-a-dia. Eu me sentia profundamente realizado, como se a minha vida fosse perfeita, perfeitamente encaixada no grande contexto cósmico. E aqui cabe dizer que eu não tinha razões aparentes para me sentir assim. Minha situação financeira era sofrível - eu ocupava um cargo modesto numa pequena empresa de comunicação (o salário era uma piada), estava sem namorada e o meu lazer praticamente se resumia a levar minha filha de 10 anos para passear no parque aos finais de semana. Sendo assim, por que, exatamente, estou dizendo que "Tudo estava ótimo"?

Estou me referindo a um profundo estado interior de tranquila satisfação. Totalmente "ilógico", mas muito bom, e trazia resultados. Eu podia comprovar, na prática, que os estados de felicidade e alegria independem dos fatores externos. Quem se importa com o que é ou não lógico, quando se está feliz? As pessoas ao meu redor percebiam esse bem estar, essa serenidade, algo tão raro na nossa sociedade. Colegas no trabalho me perguntavam a respeito, queriam saber qual o “segredo”. Teve até quem viesse me pedir conselhos! No Ashram, eu me realizava. Ao final de cada aula, pouco antes do encerramento, eu me sentia como se me transportasse para alguma dimensão muito melhor do que a comum. Experimentava uma profunda consciência de unidade com o Universo (Pluriverso?), sentia uma paz que não podia simplesmente nascer de uma sequência de posturas e processos respiratórios. Era algo maior! E eu progredia rápido nas práticas. Penso que aprendemos rápido tudo de que gostamos muito, mas meu professor se impressionou, queria saber mais, e um dia me chamou para uma conversa, logo após a aula. Perguntou como estava me sentindo. Eu respondi que sentia harmonia interior e uma paz profunda ao fim de cada aula. E também um sentimento de Amor incondicional, arrebatador, por todas as pessoas e todas as coisas. Algo que eu já sentira antes, mas agora vinha acompanhado de grande serenidade.

(Eu já tivera experiências assim antes, de ser invadido por uma torrente de felicidade e amor incondicionais, ao meditar. Mas, depois de retornar ao estado mental ordinário, eu ficava desesperado, ansioso para contar pra todo mundo o que eu descobrira, o que eu "vira". Não me conformava em ver alguém sofrendo, porque eu sabia que não havia razão para isso, que havia um propósito maior para tudo, e que sofrer não fazia sentido. Eu queria gritar pra todo mundo, que se desapegassem de seus brinquedos ilusórios, temporários, fossem quais fossem, e que se dedicassem a amar cada vez mais, porque esse é o único caminho para a felicidade real!!!! - E o que acontecia? Uns me ignoravam, outros ouviam sem ouvir, outros ainda me achavam louco. Muito frustrante...)

Agora, essas experiências transcendentais maravilhosas continuavam acontecendo, cada vez com mais frequência, mas eu não mais me desesperava na tentativa de convencer os outros do que eu tinha "visto". Entendia que cada um vive em seu próprio tempo. E eu tinha que respeitar isso.

Eu vi os olhos do meu professor se encherem de água (ele era um cara tímido), e ele me disse: "Isso é muito bom! Que bom que você está conosco, e continue trabalhando!" Ele e sua esposa, os responsáveis por aquela unidade do Ashram Vidya Yoga se empenharam para eu me matricular no curso para professor (yogachária), o que me permitiria, depois de concluídos os estudos, me tornar o responsável por uma unidade. Mas o meu destino seria outro, como verão.

Comecei a ter “insights” impressionantes. Numa certa ocasião, eu me encontrava terrivelmente dividido, ao ter que fazer uma opção profissional, sem saber qual. Tentava fazer duas coisas ao mesmo tempo, e me desgastava demais com isso, sacrificando inclusive minhas horas de sono. A resposta veio da seguinte maneira: Depois de alguns minutos mergulhado em meditação profunda, pude “ouvir” claramente, dentro de mim, a seguinte afirmação: “Você não pode estar em dois lugares ao mesmo tempo – escolha onde vai querer estar, e faça o melhor que puder!”. Esta afirmação soou tão forte, que eu levei como que um “choque”! Anotei esta frase num caderno, para não esquecer nunca mais.


Devo deixar claro, aqui, que o Yoga me ajudou nesse processo, mas praticar não é como aprender uma espécie de “magia” que nos torna super-humanos. O Yoga é apenas mais uma ferramenta a ser utilizada na Busca, como qualquer outra. Os fatores que fazem a diferença são a sinceridade, a seriedade e a total entrega. Se encontrar a Verdade for realmente a coisa mais importante na sua vida, você alcançará resultados. Mas se você estiver preocupado com os imediatismos, com a grana, as glórias do mundo, as satisfações ou os prazeres carnais, mais do que com a Busca, então você continuará achando que só alguns caras especiais, superdotados, conseguem alcançar alguma coisa. O verdadeiro “dom” é querer. Enquanto isso não for possível ao buscador, ele só conseguirá continuar vivendo uma existência medíocre, cheia de sofrimentos por causa de ilusões ridículas, caindo e voltando a se levantar, para depois cair de novo, sempre nos mesmos erros... Quando a Busca é encarada como um “hobbie” ou um tipo de distração, algo pra se fazer nas horas vagas, o indivíduo tende a se perder em algum dos muitos desvios que aparecem nesse Caminho. Talvez ele se torne um pseudo-místico, um pseudo-esotérico ou simplesmente uma piada. Mas nunca encontrará a realização.

Este foi o terceiro Pilar que eu descobri: A sinceridade e a seriedade na Busca. Querer encontrar as respostas, mais do que qualquer outra coisa. Ter a sua escala de valores bem definida, pra você mesmo. Encontrar a Verdade deve ser, de verdade, a coisa mais importante de todas.

28 novembro 2006

"Vidya"

A maneira como vim a conhecer aquela que se tornaria a minha escola definitiva de Yoga foi emblemática. Tendo resolvido que o meu caminho realmente passaria pela prática do Yoga, como preparação física e mental na minha busca, parti para uma pesquisa das principais escolas clássicas**. Participei inclusive do “1º encontro internacional de Yoga”, evento que durou duas semanas e que juntou mestres e praticantes de todas as linhas, inclusive as mais recentes, como o “Power Yoga”. Nesse encontro, promovido pelo SESC e realizado na unidade Consolação, uma das maiores de São Paulo, foi dada ao público a oportunidade de participar de diversos "cursos-relâmpago", com professores especialistas nas escrituras clássicas hindus, Yoga Sutras e outros, além de palestras com gurus indianos, aulas práticas das diversas modalidades, apresentação de danças folclóricas da Índia e etc. Um verdadeiro evento “dos sonhos” para quem se interessa pelo assunto. Isso foi no ano de 1998.

Não demorei muito a perceber que a maior rede de escolas de Yoga aqui no Brasil é a Uni Yôga, do mestre De Rose. Cheguei a ler livros dele, e a visitar algumas unidades suas. Mas não me identifiquei. Aquela egrégora não tinha muito a ver comigo: Logo de cara, ao entrar na sala de práticas, vi aquele bando de garotas lindas e saradas (por algum motivo que eu ainda não consegui entender, parece que todas as ‘gostosas’ que se interessam por Yoga procuram a rede De Rose), todas usando mini tops e colants cavados, entrando no bumbum, fazendo “saudação ao sol” (saudação ao sol, pra quem não sabe, é uma seqüência de movimentos e posturas onde por diversas vezes fica-se ‘de quatro’ e em posição de ‘gatinha se espreguiçando’, com o peito rente ao chão e arrebitando o traseiro ao máximo)... Eu olhei bem praquilo e... sabe, posso ser um buscador, mas dentro das minhas veias corre sangue. Logo vi que ali eu iria conseguir tudo menos a depuração físico-mental-espiritual que eu queria. A começar porque não conseguiria me concentrar nas aulas. :-P Também havia um clima de “azaração” no ar, bem ao estilo “malhação”, sem falar no culto ao "mestre" De Rose, um homem cujo maior sonho é um dia poder se tornar o detentor absoluto do direito de dar aulas de Yoga no Brasil. Algum tempo depois eu cheguei a ler, pessoalmente, um "estatuto" dele, que teria sido enviado para todas as outras escolas de Yoga do Brasil, em nome da Uni-Yoga, convidando (quase intimando) todas a se afiliarem, ou então, “sofrer as consequências”. Havia até essa frase, escrita textualmente: “Para os que não quiserem se afiliar à Uni-Yoga, as chances de crescimento são mínimas. Mas, se mesmo assim, você não quiser se afiliar, mantenha-se discreto. Você não vai me querer como inimigo!”. Ameaça explícita, um horror... E ainda se acha um mestre espiritual (ele até adotou o termo ‘mestre’ como prenome para assinar os livros)...

No entanto, por uma questão de pura justiça, devo dizer que a qualidade técnica das aulas na rede Uni Yoga são de primeiríssima linha. Conheci intimamente pelo menos dois praticantes sérios da verdadeira filosofia do Yoga, e que são alunos nessa rede. A além disso, tenho que reconhecer que o De Rose, mesmo tendo um ego maior do que ele mesmo, por outro lado, sabe tudo e mais um pouco. Ele não entrou de “laranja” na história, é um professor excelente. Conhecimentos práticos e teóricos não lhe faltam. Pelo contrário, isso ele tem de sobra. Usando o que aprenderam com ele, alguns dos seus melhores alunos se desligaram da rede e se tornaram grandes expoentes do Yoga em nosso país, como é o caso do profº Pedro Kupfer, responsável pelo ótimo site Yoga Pro.

Mas eu ainda tinha que encontrar a minha própria escola. Primeiro visitei algumas pequenas, de linhas desconhecidas, com professores duvidosos. Caras que dominavam ásanas (posturas) incríveis, intrincadíssimas; capazes de tocar a própria nuca com o dedão do pé, equilibrar o peso do corpo inteiro em cima do dedo mindinho da mão esquerda, fazer e desfazer nós nas próprias tripas, assobiar e chupar cana ao mesmo tempo, etc, etc (exagerando um pouquinho)... Mas que não conheciam "lhufas" da parte filosófica, não sabiam nem pronunciar direito a palavra Yoga - a pronúncia mais correta, próxima do sânscrito, é com o ‘o’ fechado = Yôga. De Rose, como eu disse, um profundo conhecedor do assunto, até adotou o uso do acento circunflexo, na palavra, numa tentativa de acabar, de uma vez por todas, com a mania dos brasileiros de falar ‘ióga’. Não conseguiu. Recentemente até foi fundada uma nova escola que, meio assim, só pra provocar, inventou um acento agudo no ‘o’ = "Yóga Clássico"! Coisas da vida... guerra de egos. E eu devo dizer que conheci ótimos e autênticos professores, inclusive com vivência internacional, que pronunciam “Yóga”. Então concluo que esses detalhes certamente não são o mais importante. E assim fui conhecendo diversas escolas, enquanto procurava a minha. E fui exigente nessa procura. Cuidar da saúde é coisa séria.

Mas eu disse no começo que a maneira como conheci a minha escola foi emblemática. Agora vou explicar o porquê: Eu havia coletado na Internet (finalmente chegamos à era da internet, nos meus relatos), o endereço de uma escola que ficava no bairro da Mooca, próximo ao lugar onde eu morava na época. No caminho para essa escola, que se localizava numa rua pequena, meio “escondida”, tomei um caminho errado; então tive que voltar à avenida principal mais próxima, para me localizar, (a av. Paes de Barros), e quando voltava, tentando encontrar um novo acesso... eu a encontrei!!
Lá estava ela, bem no meio do caminho! Lembro-me como se fosse hoje; eu parei numa padaria que existe ali na esquina da rua Guaimbé, para pedir informações, e aí... Percebi que o imóvel vizinho à padaria era um belo sobrado em amarelo e azul, muito bem cuidado e com uma porta de vidro espelhado, protegido por uma grade toda trabalhada em metal. Bem no alto da bonita fachada, uma placa com um emblema ao estilo indiano me chamou a atenção. Olhei e li: “Vidya Yoga Ashram – Sacred Filosofy”.

Não pude deixar de pensar que, se eu não tivesse me perdido, nunca teria ido parar naquele lugar. Meu objetivo era chegar num outro endereço, e só por não conseguir encontrá-lo, fui descobrir o lugar que, mesmo sem saber, eu estava procurando. Essas coisas acontecem, eu sei, e se começarmos a discutir se coincidências existem ou não, teremos assunto pra dias. Esse não é o meu propósito. Apenas entendo que a maneira como ali cheguei foi simbólica, até porque o que aconteceu depois me fez ver que a minha procura estava encerrada.

Encontrei o que estava procurando, sem querer. Cheguei ao meu destino sem saber sequer que ele existia. "Atirei no que vi, e acertei no que não vi", e o que não vi era o exatamente o que eu procurava.

O assunto Yoga já rendeu demais, por isso vou deixar maiores detalhes sobre essa excelente escola para o futuro. Por enquanto digo apenas que ali, desde o primeiro dia, encontrei a “minha turma”. Quando apertei o botão do interfone, fui saudado por uma voz agradável. Entrei e vi que aquela casa, por dentro, era tão primorosamente cuidada quanto por fora. Decoração ao estilo indiano, como não poderia deixar de ser. Cores suaves, grossos e macios tapetes pra se pisar. Um cheiro delicioso de incenso no ar (um que eu ainda não conhecia). Fui recebido por um sorridente casal, na recepção; mas ela, depois dos cumprimentos iniciais, teve que se ausentar para a primeira aula noturna. Ficamos, eu e o rapaz, Maurício, conversando, e então descobri que eles eram um casal de fato, marido e mulher. Ali era mesmo um "ashram", ou seja, a escola é também a residência dos professores. Suas vidas dependem do Yoga, literalmente, e eles o vivenciam 24 horas por dia. Pelo sotaque, percebi que Maurício era do Sul do Brasil, mais especificamente, Santa Catarina. Primeiro ponto em comum. Começamos a conversar, eu perguntando e ele respondendo. E a nossa conversa até parecia uma entrevista de emprego, onde ele era o candidato e eu o entrevistador. E ele respondeu exatamente tudo que eu gostaria de ouvir. Se fosse um exame, ele teria tirado um “A”, isto é, Vidya*** Yoga era exatamente o que eu estava procurando, era tudo que eu queria. Depois do final da nossa conversa, ele me disse que, no decorrer do nosso diálogo, eu fazia, inconscientemente, diversos mudrás (gestos simbólicos com as mãos, com significados diversos), mesmo sem saber o que estava fazendo; coisa que ele nunca tinha visto acontecer (??).

Assim me tornei um praticante de Yoga, definitivamente. Ah! ali todos usavam camisetas do ashram e calças de algodão, brancas e bem folgadas, na hora das aulas. Que bom, ninguém preocupado em exibir o “corpicho” bonito... Virei vegetariano. Deixei de sofrer com uma insônia que me atormentava há meses. Me tornei um ser humano muito mais calmo e centrado. Soube de casos de pessoas que se livraram de diversas fobias, através das práticas. Aperfeiçoei minhas técnicas meditativas e aprendi a me auto-observar melhor do que nunca. E também a ver o mundo com olhos mais calmos e atentos.

** Essas escolas são 7: Raja yoga, Hatha yoga, Jnana yoga, Karma yoga, Bhakti yoga, Mantra yoga e Tantra yoga. Todas elas surgiram como caminhos para um mesmo fim: habilitar a aquisição do conhecimento libertador do ego (atman).

*** Vidya, do sânscrito, significa "conhecimento:".

24 novembro 2006

Novos rumos até o Yoga

No Brasil, como em outros países da América do Sul, a maioria das pessoas, mesmo as espiritualmente bem esclarecidas, não têm muita idéia do significado e da importância do Hinduísmo, não só para o desenvolvimento da espiritualidade mundial, mas também para a própria História da humanidade, como um todo.

O Hinduísmo, não no sentido de religião organizada, mas com o seu modo particular de interpretar a existência, me fez entender a vida de uma maneira muito mais agradável. Foi através do Hinduísmo, por exemplo, que eu entendi a experiência de auto-transcendência que eu havia experimentado. Os hindus sorriram quando eu contei minha experiência, dizendo que eu tinha vivenciado o que eles chamam de “samadhi” (sânscrito: literalmente, ‘dirigir juntos’; estado beatífico transcendente no qual se experimenta um estado de união com o Divino). Alguns deles me diziam, admirados: “Você deve ter vindo ao mundo com um propósito especial; muitos praticantes procuram por uma experiência como essa suas vidas inteiras, e não conseguem encontrar”. - Mas isso era tudo que não me importava ouvir. Esse tipo de "elogio" é uma espécie de tentação muito sutil. Se o indivíduo começa a acreditar nisso, quaisquer progressos feitos na busca (tão duramente conquistados) acabam se perdendo. A “soberba espiritual” é um dos maiores crimes que podemos cometer contra nós mesmos, uma das "ciladas" mais perigosas neste Caminho. Achar-se “o máximo”, é como cair num abismo; é esquecer, perder tudo. E, pra reaprender, depois, só escalando tudo de novo, centímetro por centímetro. Auto obervar-se é preciso - “Vigiai e orai...” - Sempre.

Eu já contei porque deixei o meu primeiro ashram, ao perceber que os alunos eram crédulos demais e presos demais a misticismo e dogmas, pra minha cabeça. E olha que eu nem contei, no post anterior, o que o Prassad Rao, aquele meu “chegado” indiano me contou uma vez. Me disse ele que, aqui mesmo no Brasil, há alguns anos, devotos de Shri Mataji fizeram uma experiência insólita com o objetivo de comprovar, empiricamente(...), que o retrato de Shri Mataji concentra poderes sobrenaturais:

Escolheram alguns bairros “barra pesada” do Rio de Janeiro, onde o crescimento da violência vinha aumentando muito. Pesquisaram dados nas delegacias desses bairros, montaram um registro detalhado das ocorrências e chegaram a uma estatística da criminalidade local nos meses anteriores: Números médios de assaltos à mão armada, assassinatos, furtos, etc. Então deram início ao experimento: alugaram um helicóptero e levaram o retrato de Shri Mataji para sobrevoar os lugares analisados, por aproximadamente uma hora. Enquanto voavam, posicionavam o retrato de frente para as ruas violentas, entoando mantras, enquanto pediam mentalmente a Shri Mataji que abençoasse a todos os moradores. Resultado: nos meses seguintes, a criminalidade diminuiu enormemente em toda a região onde a experiência foi realizada. Achou forçado? Eu também. Acredito no poder da mente e ainda mais no da oração, mas eles acreditam que o fenômeno aconteceu por influência direta do poder do retrato emoldurado. Aí complica...

Como já dito, foi esse tipo de crença cega que me fez ver que o Sahaja não era o que eu esperava... Mas, por outro lado, vejam algumas palavras e máximas de Shri Mataji:

# O Amor é uma fonte de energia que faz as coisas crescerem de uma maneira viva. O Amor não significa que você precise abraçar alguém. Ele é a energia viva que faz você nascer e o alimenta.

# O homem, na sua busca da felicidade, está se afastando de seu próprio Si - que é a única fonte verdadeira de paz e felicidade.

# Não deixe haver dois tipos de vida, uma interior e outra exterior. Quando o exterior se funde com o interior, então tudo ocorre sem esforço.

# A sua Alegria não consiste em você rir alto ou em estar sempre sorrindo. Ela é a tranqüilidade e a quietude do Si interior, a paz de seu ser e de seu espírito.

# Você não poderá conhecer o significado da sua vida enquanto não estiver conectado com o Poder que a criou.

# A realização do Si é um direito seu e não pode ser comprada.

Não posso negar que eu concordo com tudo isso. São maneiras profundas e sublimes de se entender a vida. E eu não queria esquecer nem desconsiderar uma grande parte do Hinduísmo, na minha busca, que eu sabia que poderia ser muito proveitosa. Por isso comecei a me dedicar ao estudo das escrituras clássicas e ler diversos livros de autores hindus. Li o clássico "Mahabharata" (o poema épico máximo hindu), que contém o "Bhaghavad Ghita" (a ‘canção do divino mestre’ - a revelação de Krishna diante de Arjuna, que depois virou música de Paulo Coelho, cantada por Raul Seixas), li os "Devas" e as "Upanishads", e os "Yoga Sutras" de Patânjali. Também li, depois da autobiografia de Yogananda, muitas obras de Ramana Maharishi, Ramakrishna, Deepak Chopra, Swami Prabhupada e outros; além de um retorno agora abalizado às obras do Krishnamurti (naquela época ainda não havia despontado o gênio Amit Goswami).

Atraía-me o jeito “bhakti” (amor devocional) de viver o dia-a-dia, entender cada pequeno detalhe de nossas rotinas diárias como muito importante, como mais um passo na direção do Divino. Yoga é isso, buscar a União com o Transcendente em cada pequeno ato, em cada detalhe de nossas vidas. Eu me identificava com isso. E sabia que dentro deste universo havia ainda muito para aprender; chaves para abrir portas nesse caminho que eu escolhi.

E foi assim que eu cheguei até a minha escola definitiva de Yoga. Um ashram não-devocional, onde eram privilegiadas as técnicas de depuração mental e corpórea, e onde eram ensinados os princípios morais e éticos da tradição yogue, mas excluindo-se o culto aos deuses ou gurus. Toda a face religiosa-dogmática era deixada de lado em prol dessa premissa mais "pé no chão". Assim, cada praticante, tendo sua saúde física, mental e espiritual cuidadas primorosamente, era livre para seguir sua própria opção religiosa. Esta experiência é o tema do próximo post.

21 novembro 2006

Sahaja Yoga e Shri Mataji


No ashram (escola) Sahaja Yoga foi que (depois dos livros) primeiro tomei contato, diretamente, com a religião e a cultura hindus. Ali conheci as práticas ancestrais, antiqüíssimas, para se promover a ascensão da "Kundalini", a energia vital divina que habita cada ser humano, e que se encontra “adormecida” na região do osso sacro ou cóccix, no "Muladhara Chakra". Fazer essa energia subir, serpenteando pelos três canais energéticos chamados “nádis” até uma área no topo do crânio, denominada "lótus de mil pétalas", significaria alcançar a total "conexão" com o Universo e com a Verdade absoluta. Desde tempos imemoriais, os que desejassem alcançar essa conexão seriam obrigados a buscá-la por meio de técnicas muito difíceis, permanentes. Meditação (muita), treinamento físico e mental, auto-observação perene e a prática constante dos Yamas e Nyamas (preceitos morais e éticos) - na Índia, todo esse conjunto de coisas é o que se chama de Yoga. Shri Mataji, a instituidora do Sahaja Yoga, teria vindo ao mundo com a missão de facilitar, enormemente, todo esse trabalho - por meio da sua intervenção, se tornaria possível, a todo buscador, alcançar a liberação do jugo dos sentidos físicos, independente de disciplinas rigorosas. Mas, como ela faria isso? Através exatamente da abertura deste sétimo e último chakra, o "Sahastrara", localizado no topo da cabeça, o único que ainda se encontrava fechado antes da sua vinda. Há milhares de anos, todos os chakras estavam fechados, impedindo a evolução humana (daí tanta dificuldade); mas, no transcorrer da História, grandes avatares vieram ao mundo para abri-los, um por um, a intervalos regulares. Shri Mataji seria a última dessa "linhagem".

A história de Sri Mataji Nirmala Devi, segundo seus devotos

Shri Mataji Nirmala Devi nasceu em 21 de março de 1923. Seus pais eram Prasad e Cornelia Salve, descendentes diretos da dinastia real Shalivahana. Vendo a beleza da criança, eles a chamaram Nirmala, que significa Imaculada. Mais tarde ela tornou-se conhecida pelo nome de Shri Mataji Nirmala Devi, a mãe reverenciada, que nasceu com sua completa Auto-Realização e sabia desde a infância que possuía um dom único que deveria ser repassado para toda a humanidade. Shri Matataji, que quando criança viveu no ashram de Mahatma Ghandi, era freqüentemente procurada por ele, para consultas espirituais. Isso mesmo: Ghandi pedia orientação para essa menina (então com 14 anos)... Mais tarde, Shri Matataji casou-se com Sir C. P. Srivastava, que era secretário da ONU para assuntos marítimos. Valendo-se da oportunidade que tinha, devido à profissão do marido, de viajar pelo mundo inteiro, Shri Matataji iniciou o trabalho de divulgação da sua doutrina por diversos países. Conforme já mencionado, ela nasceu para trazer ao mundo a possibilidade da completa realização do “Si”, a evolução para um novo estágio humano, e esta missão seria realizada através da abertura do sétimo chakra, coisa que só ela seria capaz de fazer. Na linhagem de grandes avatares que vieram antes dela, com o trabalho de abrir os sucessivos chakras e liberar os mortais das suas limitações (incluindo, entre outros, Lao-Tsé e Confúcio), Shri Matataji seria a “sucessora” imediata de Jesus Cristo: Ele teria vindo para realizar a “abertura” do sexto e penúltimo chakra, na via do “despertar” ou elevação da Kundalini, o "Agnya Chakra". Este é exatamente o chakra no qual se cruzam os três canais energéticos por onde ocorre a elevação da Kundalini; o que justificaria a frase de Cristo: “Ninguém vem ao Pai, senão por mim” – já que é impossível se chegar ao último chakra sem passar por este, aberto por ele. Sem ele, nada seria possível. Nem a missão de Shri Matataji, que veio para consumar Tudo em todos.

A abertura do último chakra, por Shri Matataji, segundo seus devotos

No ano de 1970, Shri Matataji compareceu a um dos grandes encontros que eram então promovidos por Osho (na época conhecido com Bhagwan Shri Rajneesh) em grandes campos a céu aberto, na Índia. Ao chegar no local, viu as multidões de seguidores do polêmico “guru” se comportando, segundo ela, como porcos. Muitos andavam de quatro no chão enlameado, sacudindo seus corpos e gemendo. Outros tantos rastejavam e/ou rolavam na lama, urrando alto o “grito de guerra” ensinado pelo seu mestre: “Hooh! hooh! hooh! hooh!..” Também ocorriam orgias e sexo grupal, pelos cantos, no chão mesmo, aqui e ali (Osho pregava a total “não repressão” dos sentidos, e seus discípulos o seguiam ao pé da letra). Vendo em que se tornavam as pessoas, em suas buscas pelo sagrado, quando lideradas por um falso mestre, Shri Matataji se consternou e resolveu que naquele dia mesmo tomaria uma atitude. Osho, que a viu e reconheceu de imediato como uma encarnação divina, tentou convencê-la a passar para o "lado negro" (qualquer semelhança com Darth Vader... desculpem, não resisti) - Disse-lhe que, juntos, eles poderiam ganhar o mundo. Mas ela respondeu que a hora tinha chegado, e que agora nada mais iria impedi-la. Dali mesmo ela se retirou para uma praia deserta e se colocou em postura de meditação. Meditou por toda à noite, implorando para que a sua tarefa finalmente pudesse se consumar. Quando o dia já estava nascendo, e os primeiros raios de sol despontavam no horizonte, ela sentiu dentro de si o poder de sua colossal Kundalini se elevando. Pôde ver uma imensa explosão de energia, brilhando de maneira semelhante ao metal em brasa, atravessando todos os chakras dentro de si, um após outro, até que por fim, com um grande estrondo, que pôde ser ouvido a quilômetros dali, o último chakra se abriu, no topo da sua cabeça, iluminado e multicolorido, na forma de um lótus de mil pétalas. Nesse instante, os céus se abriram diante dela, o Universo se transformou num imenso portal, e todas as divindades surgiram e vieram tomar suas posições, cada uma em uma das pétalas desse Lótus incomensurável. Estava feito. A partir desse momento, ninguém mais precisaria perder tempo com as complicadas e difíceis técnicas do Yoga tradicional. Hoje, basta aprender e praticar a meditação Sahaja Yoga, em qualquer dos centros estabelecidos em mais de 85 países mundo afora, para alcançar a iluminação e libertar-se de todas as fraquezas e limitações humanas.

Bonita história, né?.. Vlad Lestat e Roberto devem ter gostado (rs)... Como meus companheiros aqui do blog já devem estar imaginando, eu não duraria muito tempo como membro dessa escola. Foi muito interessante e muito instrutivo enquanto durou, mas depois de pouco tempo eu peguei meu bonezinho e procurei a porta de saída. Eu ainda procurava a Verdade, e não tinha me esquecido disso.

Prassad Rao

Mesmo com todas as incompatibilidades, eu sempre tentei aprender o máximo em cada uma das ordens, seitas e religiões que eu conheci. Através do ashram Sahaja Yoga eu vim a entender realmente o significado do Hinduísmo e da sua proposta de vida. A maior parte destas coisas, eu aprendi diretamente de um indiano autêntico, nascido hindu, que se fez peregrino pelo mundo. O seu nome é Prassad Rao, e ele presidia a maior parte das reuniões e encontros no ashram. Profundo conhecedor das tradições do seu país, apesar de reverenciar muitos deuses, se considerava o mais fiel dos monoteístas, e não via nisso nenhuma contradição. Mas Prassad Rao não é uma exceção, grande parte dos hindus têm esse mesmo modo de pensar, que eu até tentei explicar no espaço dos comentários, mas reconheço que é uma tarefa complicada.

Os hindus praticantes são muito hospitaleiros. Eles não vêem problemas em conviver com pessoas de outras religiões. Como acreditam, por princípio religioso, que Deus está em tudo, para eles não há dificuldades em aceitar que Jesus é manifestação de Deus, que Maomé tenha sido um grande profeta de Deus, ou que Buda tenha sido “o Iluminado”, por graça desse mesmo Deus... Sempre que eu chegava no ashram, era muito agradável entrar na grande sala de meditação, me sentar numa das muitas e muitas almofadas espalhadas sobre os macios tapetes orientais, e então permitir que minha atenção fosse calmamente levada pelos “bhajans” (suave e relaxante música tradicional indiana) que sempre se podia ouvir, em volume baixo, naquele ambiente tranqüilo. A iluminação suave, o perfume do incenso no ar e a chama de uma vela acesa diante do retrato de Shri Mataji, ladeado por arranjos de flores e pétalas, num pequeno altar ao centro, eram capazes de fazer um cara ansioso como eu relaxar por completo. Depois das práticas, lá vinham as yoguinis (moças residentes do ashram), todas vestidas com “saris” (vestidos tradicionais indianos) coloridos, rostos sorridentes e bhindis colados na testa; servir um delicioso chá feito à base de canela e menta. Tenho saudades do clima de amizade entre os frequentadores, da paz e da "energia positiva" reinantes... Foi lá que eu me habituei a usar o termo “buscador” para chamar a todos aqueles que, como eu, buscam a Deus e à Verdade nessa vida.

Observação: Segundo o Hinduísmo, existem milhares de chakras, espalhados pelo corpo humano, com funções diversas. Os sete chakras citados no post e representados na figura no topo, seriam os chakras maiores ou "principais", por onde se daria, diretamente, a passagem da Kundalini.

17 novembro 2006

A descoberta do Hinduísmo


Conhecer Yogananda e sua história, por meio da qual me foi possível tomar conhecimento da verdadeira essência do Yoga, enquanto caminho de vida, fez despertar em mim um interesse realmente vivo pela religião e pelas tradições hindus.

O termo “Hinduismo” se refere ao conjunto das tradições religiosas dos povos que constituiram uma grande civilização na região do Vale do Indo, em cerca de 6 000 a C. Esse termo passou a ser mais utilizado a partir da instalação do império britânico, como forma comum para se designar todas as (muitas) religiões oriundas principalmente do subcontinente Indiano. Há muito a ser dito sobre Hinduísmo, a terceira maior religião do mundo, com aproximadamente 1 000 000 000 de adeptos, e a mais antiga do planeta. Penso mesmo que cem posts não seriam suficientes.

O que mais me chamou a atenção, é o mesmo que costuma agradar aos buscadores criados na nossa tradição religiosa ocidental: A doutrina “Advaita” (literalmente, "não dois", ou "não dualidade"), que significa “não separação”**. Falando a grosso modo, a doutrina Advaita ensina que não há separação entre o “criador” e suas “criaturas”. O ser humano e toda a criação são entendidos como “parte” da Divindade, e não como elementos criados, separados dela. Assim, todo ser humano poderia ser considerado, em última análise, "uma parte" de Deus.

Esse modo de entender a vida está perfeitamente representado na imagem do “deus dançarino” Shiva. Enquanto dança, o deus mantém o Universo “em funcionamento”, já que, dentro da trindade hindu, ele é o responsável pela constante renovação cósmica. Análogamente, se ele parasse de dançar, seria o fim da vida, como a conhecemos. O universo é a “dança” do deus. Assim como a dança não existe sem o dançarino, o dançarino também não existiria, enquanto dançarino, sem a dança; portanto, nesta intrincada analogia, Deus, “é um” com a sua criação. O conceito da separação entre “criador e criatura”, conforme entendido pelas religiões monoteístas, não existe, mas sim uma única Existência Maior, Una e Maravilhosa.

Mas então, sendo assim, como explicar a existência do mal e da desarmonia? Simples: É que estaríamos, todos nós, seres humanos, sob a influência de "Mara", o demônio da ignorância e do apego, cegos para essa Realidade Maior, inefável. Nossas vistas encontram-se encobertas pelos “véus” de "Maya" (o mundo ilusório dos fenômenos), o que cria em nossas mentes a noção enganosa de separação da Realidade divina, a única que de fato existe. Por meio da prática diligente, o yogue pode conseguir retirar o véu de Maya da frente de seus olhos, e a partir desse momento ele passa a viver num mundo de beatitude, uma existência de bem-aventurança total. Com isso, muitas vezes, ele ganha poderes sobre-humanos, como uma espécie de “efeito colateral’, pois se torna senhor de si mesmo e dos elementos; algo como um co-criador da natureza e da sua própria vida (qualquer semelhança com o filme "The Matrix" não é mera coincidência).

Assim, sadhus (os homens “santos” da Índia) de todas as linhas desfilam às margens do sagrado Ganges, em especial nos festivais religiosos, como a “Kumba Mela”, demonstrando seus poderes sobrenaturais. Há os que trespassam seus corpos com todo tipo de objeto perfurante, lanças e pregos, sem demonstrar dor alguma. Há também os que pedem para que seus discípulos os enterrem vivos, dentro de caixões de madeira, sem água ou comida, onde permanecem, por semanas a fio, em posição de “rája padmásana” (lótus), sendo depois desenterrados, quando saem caminhando tranqüilamente, sorrindo e saudando os discípulos com “pujas”*** (Um desses casos está documentado e foi exibido na TV, na década de 90, no famoso programa "I Believe it or not?" - “Acredite se Quiser”). Há ainda muitíssimos casos de yogues que sobrevivem por anos sem se alimentar (muitas vezes vidas inteiras - alguns desses casos foram comprovados, com acompanhamento médico e exames clínicos, feitos por pesquisadores norte-americanos) - Esses fenômenos específicos recentemente ganharam popularidade através do livro "Viver de Luz", da autora norte-americana Jasmuheen. Há ainda os que afirmam não precisar dormir nunca, outros dos quais se afirma serem capazes de levitar, realizar a bilocação de seus corpos (estar em dois ou mais lugares ao mesmo tempo), etc, etc.

O conhecimento científico dos ríshis (os ancestrais dos yogues modernos) era muito grande. O "Kaushitaki Brâhmana" (escritura hindu) consigna fenômenos astronômicos exatos, indicando que, em 3100 a. C. os hindus estavam muito adiantados em astronomia, a qual tinha um valor prático para determinar os tempos favoráveis às cerimônias astrológicas. Eles detinham uma tradição científica que manteve a Índia na vanguarda das nações da antiguidade, e fez dela a "Meca" dos buscadores de conhecimento. "Brahma Gupta", um dos livros do "Jyotish" (astronomia/astrologia), é um tratado astronômico que estuda fenômenos como o movimento heliocêntrico dos planetas em nosso sistema solar, a obliqüidade da eclíptica, a forma esférica da Terra, a luz refletida da Lua, o movimento diário da rotação da Terra em redor de seu eixo, a presença de estrelas fixas na Via Láctea, a lei da gravitação, e outros fatos científicos que só vieram à luz, para o mundo ocidental, no tempo de Copérnico e Newton (!). Os chamados algarismos arábicos, de valor incalculável para o desenvolvimento da Matemática, chegaram à Europa no século IX, trazidos pelos árabes, mas originários da Índia, onde esse sistema de notação fora formulado na antiguidade. Diversos livros acadêmicos podem ser consultados para se conferir informações, em maiores detalhes, sobre a vasta herança científica da Índia.

Muito importante dizer aqui, e ressaltar, que a nação hindu não é tão politeísta quanto parece. A grande variedade de deuses, gênios e demônios citados nas escrituras vedicas, e que podem ser encontrados representados em seus templos, não devem ser entendidos no sentido literal. A maior parte das tradições ensina a interpretá-los apenas como representações da realidade, pura e simples. Apesar de alguns estudiosos chegarem a calcular em mais de trezentos milhões(!) o número de deuses no Hinduísmo, nega-se o politeísmo, pois todo esse panteão divino aponta para as diversas manifestações de um único Deus Maior. Assim, um hindu pode adorar um ou mais deuses, sabendo, porém, que se trata do mesmo princípio ou essência.

A mitologia e a cultura religiosa hindus são vastíssimas. E são muito, muito interessantes para o estudante das religiões. Eu, num primeiro momento, simplesmente me encantei. Essa nova forma de entender a natureza e a existência, como emanações do Sagrado (o que para mim era novidade) me agradou muito.

Passei a freqüentar vários templos hindus, como o Sahaja Yoga, que tem como guru a mestra Sri Mataji Nirmala Devi. Quando o conheci, este templo ficava no Bairro da Bela Vista, em São Paulo, na Rua dos Ingleses. Era um casarão antigo, transformado numa espécie de “áshram” (escola tradicional hindu, para ensino do Yoga integral, especialmente o aspecto religioso). Ali conheci um peregrino hindu antêntico, interessado em disseminar sua fé ao redor do mundo, que me ensinou muito. Esse é o tema do próximo post.

**Embora poucos saibam, há também, dentro do Hinduísmo, a doutrina Dvaita(separação), esta com princípios bem mais próximos aos das religiões ocidentais.

*** Cumprimento com as mãos postas, à altura do plexo solar, muitas vezes acompanhado da saudação “Namastê” = ‘a divindade que há dentro de mim saúda a divindade dentro de você’.

14 novembro 2006

Yogananda - parte 2

O valor de “Autobiografia de um Yogue” é muito maior pelo fato de ter sido o primeiro (e por muito tempo, o único) livro escrito em idioma inglês sobre a religião, a filosofia e o modo de vida hindu, não por um jornalista ou pesquisador estrangeiro; mas por alguém da raça hindu, criado dentro da tradição, e que passou pelo verdadeiro treinamento yogue. Um livro sobre yogues, escrito por um yogue. E um yogue real, não algum destes “Swamis falsificados” que eu tenho visto por aí, nos últimos anos, cobrando altas “taxas de participação” por uma palestra “iluminada”, em algum retiro esotérico da vida...

Yogananda foi um dos maiores mestres espirituais da história moderna, e um dos principais divulgadores da doutrina yogue no Ocidente. Seu guru, Sri Yukteswar, previu, com muitos anos de antecedência (Yogananda ainda era um jovem aprendiz e nem sonhava deixar a Índia) que ele seria o principal precursor do Yoga no Ocidente, o que veio a se concretizar quando ele se mudou para os Estados Unidos e passou a viajar para diversos países, divulgando seus conhecimentos e métodos. Segundo o testemunho de diversas pessoas que conviveram com ele, inúmeros acontecimentos extraordinários permearam toda a história da sua vida, como curas de pessoas doentes que o procuravam e a demonstração de capacidades sobre-humanas. Há muito a ser dito sobre a vida e a obra deste grande yogue, o que pretendo fazer em tempo oportuno. Por hora, quero ressaltar o efeito importante que a leitura de sua autobiografia provocou em mim. Sobre o seu enfoque a respeito da disciplina do Yoga, deixo aqui um pequeno resumo:

Muitas pessoas mal informadas usam o termo Yoga apenas no sentido de ‘Hatha’. No meu caso, ao falar de Yoga, refiro-me ao sistema exposto nos Yoga Sutras (Rája Yoga de Patânjali). Este tratado abrange conceitos filosóficos de tal grandeza que inspirou comentários a alguns dos maiores pensadores da Índia(...) Como os outros sistemas filosóficos ortodoxos, baseados nos Vedas, os Yoga Sutras consideram que o poder da pureza moral (Yamas e Nyamas) é a preliminar indispensável à investigação filosófica idônea. Essa exigência pessoal, sobre a qual não se insiste no Ocidente, tem conferido duradoura validade às seis disciplinas hindus**. A ordem cósmica que sustenta o Universo não é diferente da ordem moral que governa o destino do homem. Quem não se dispõe a observar os preceitos éticos universais não está seriamente decidido a investigar a Verdade.(...) O verdadeiro conhecimento é sempre poder.”

Em outras palavras, mais importante que o treinamento das posturas ou ásanas, técnicas respiratórias ou pranayama, de alongamento, de purificação física, concentração, relaxamento, etc – é a observância do código de ética e conduta do yogue verdadeiro, os chamados “Yamas e Nyamas”. Bem, é fácil observar que, até hoje, a prática do Yoga no Ocidente continua sendo feita com ênfase apenas no lado puramente físico, em detrimento do filosófico/mental. O complexo e elaborado sistema dos antigos rishis, ao desembarcar em nosso hemisfério foi transformado em apenas mais uma modalidade de ginástica...

Yogananda faleceu em 7 de Março de 1952, e mesmo depois da sua morte, não deixou de surpreender aos devotos e também aos céticos. Transcrevo abaixo parte da carta oficial publicada pelo diretor do cemitério de Forest Lawn, em Los Angeles, Sr. Harry T. Rowe, na revista “Time” de 4 de Agosto de 1952:

A ausência de quaisquer sinais visíveis de decomposição no cadáver de Paramahansa Yogananda constitui o caso mais incomum de nossa experiência enquanto especialistas(...) Nenhuma desintegração física era visível no corpo, mesmo vinte dias após sua morte(...) Nenhum indício de bolor revelava-se em sua pele e nenhum dessecamento ocorreu nos tecidos orgânicos. Tal estado de preservação perfeita de um corpo, até onde vão nossos conhecimentos dos anais mortuários, é algo sem paralelo(...) Ao receber o corpo de Yogananda, os funcionários do cemitério esperavam observar, através da tampa de vidro co caixão, os costumeiros e progressivos sinais de decomposição física. Nossa admiração crescia à medida que os dias passavam sem trazer qualquer mudança visível no corpo em observação. O corpo de Yogananda permanecia evidentemente num estado insólito de imutabilidade. Nenhum odor de decomposição emanou de deu corpo em qualquer tempo... A aparência física de Yogananda em 27 de Março, pouco antes de colocar-se a tampa de bronze no ataúde, era a mesma de 7 de Março”.

Foi por intermédio de Yogananda que passei a realmente me interessar por Hinduísmo, que até então eu conhecia apenas superficialmente, dos livros de Osho e Krishnamurti. Mais do que uma religião apenas ritualística, trata-se de um modo de vida, uma filosofia para ser vivida, incorporada, e não apenas “observada”. O que, aliás, era exatamente o que Jesus queria, e ensinava como sendo a via perfeita para o “Reino” do Pai Celestial. Afinal, sem nenhuma dúvida o cerne da mensagem de Cristo é a conscientização de que mais importante que a observação dos rituais externos, importa ao homem “gravar a Lei” de Deus em seu coração, no mais íntimo do seu ser. Por isso ele diz, por exemplo, que não basta não adulterar - "Quem cobiça a mulher do próximo já adultera com ela no seu coração"(Matheus - 5:28). Jesus é claro, não basta “aparentar” virtudes, é preciso “ser”; de verdade. Seja gelado ou quente. Se for morno, será vomitado – "Porquanto és morno, te vomitarei de minha boca"(Apocalipse 3:15-17). A proposta é a mudança interior real, plena, integral. Ou então, melhor nem tentar.

Por isso mesmo, eu, que até então me considerava ainda um “cristão”, ainda que nada ortodoxo, não via incompatibilidades entre Hinduísmo e o que eu gostava no Cristianismo. Apesar de reverenciar a um imenso panteão de muitíssimos deuses e deusas, o hindu esclarecido mantêm-se plenamente consciente de que estas “divindades” todas são apenas aspectos do Deus maior, representações do Supremo Infinito, o qual é inefável, indescritível. Conta uma antiga lenda tradicional hindu que:

Os grandes deuses estavam reunidos em assembléia, discutindo qual deles seria o maior: Brahma, o criador, Vishnu, o conservador/mantenedor, e Shiva, o destruidor. Brahma, querendo demonstrar a sua capacidade e se auto-afirmar como o mais poderoso e importante dos deuses, criou do nada um lindo pássaro de penas multicoloridas, que emanava luz e exalava delicioso perfume, conforme batia suas grandes asas. Mas Visnhu rapidamente observou que se não fosse pelo seu poder de conservar a vida, a beleza do pássaro maravilhoso não duraria mais que um breve instante. Shiva riu da conversa dos dois, e num instante mandou uma nuvem negra pra cima do pobre animal, que morreu no mesmo instante. Então falou: "Eu sou o mais poderoso!" – Brahma retrucou, dizendo que poderia criar milhões de outros pássaros iguais. Vishnu gritava que Shiva o havia pego de surpresa, senão teria sido capaz de manter o pássaro vivo. Brahma respondeu: "Mas você só pode conservar o que eu crio. Então eu sou maior!" – "E eu sou capaz de destruir o que você cria! Sou o maior de todos!" – Tornava Shiva. Visnhu não se conformava: "Eu sou capaz de deter a morte e a destruição, conservando e mantendo todas as coisas, enquanto eu quiser! O mundo dos mortais subsiste por minha vontade!"... A discussão parecia que nunca teria fim. De repente surge, do nada, um menino no meio deles. Um menino muito tranqüilo, de olhos suaves. Um menino que Brahma não havia criado, e cuja vida não era mantida por Vishnu. Na verdade nenhum deles nunca tinha visto antes aquela criança. E o que estaria ela fazendo ali, passeando livre, no lugar sagrado dos maiores deuses!? Shiva, então, disse: "Agora vou provar que eu sou o maior de todos os deuses: Este menino, que não foi criado por Brahma, e nem tem a sua vida mantida por Visnhu, será destruído por mim! Assim ficará claro que o meu poder vai além do de vocês!" – Dizendo isto, Shiva voltou suas temíveis mãos para o garoto, e delas emanaram descargas de força destruidora. Nuvens negras envolveram o menino, enquanto Shiva ria. Mas, quando as nuvens se dissiparam, o menino continuava no mesmo lugar de antes, vivo e tranqüilo. Shiva tentou de novo e de novo. Usou todo o poder que tinha, e nada. Então o menino se retirou, do mesmo modo que surgira, sem dizer nem uma palavra.

Esta lenda ancestral alude justamente à crença num Deus Maior, único, detentor de todo o poder, do qual as imagens das divindades, nos templos, apenas representam, grosseiramente, os seus diversos aspectos.

Na época da minha leitura do livro "Autobiografia...", em princípios da década de 90, ainda não havia acesso popular à internet. O conceito de computadores domésticos estava apenas começando a se desenvolver. Por isso eu ainda não tinha como saber que havia um centro de estudos da Self Realization Fellowship aqui mesmo, em São Paulo, no Bairro do Itaim, onde estudantes recebiam ( e recebem) a iniciação em Kriya Yoga diretamente de monges da ordem dos Swamis. Só muito depois eu vim a descobrir isso, e o que aconteceu então, eu reservo para os próximos posts.

** Os seis sistemas ortodoxos (com base nos Vedas), são: Shânkiam, Yoga, Vedanta, Mimânsa, Nyaya e Vaisesíka. Não confundir com o “Nobre Caminho Óctuplo” do Budismo, uma guia para a conduta do homem e que abrange: 1- ideais corretos; 2 – motivo correto; 3 – linguagem correta; 4 – ação correta; 5 – meios de vida corretos; 6 – esforço correto; 7 – recordação correta do ser; e 8 – realização correta (Samadhi).

10 novembro 2006

Yogananda - avatar do Amor

Para completar o tema “Esoterismo” e “Sociedades Secretas”, resta falar ainda sobre o Priorado de Sião, Templários, Illuminati e a Sociedade Teosófica, de Madame Blavatsky (e de onde surgiu Krishnamurti). Sobre os três primeiros, o meu conhecimento provém apenas do estudo aprofundado, por meio de cursos e da pesquisa nos livros. Por isso mesmo, serão abordas depois do término da narrativa da história da minha busca. Como já sabem, por hora, estou tratando apenas das situações que eu vivenciei pessoalmente. Quanto à Sociedade Teosófica, eu a conheci e conheço pessoalmente, mas houve um intervalo muito grande entre o que eu contei no último post e essa experiência (que na verdade foi recente, e decisiva para o desfecho da história da minha busca, até os dias de hoje). Entre a minha visita à Ordem Rosa Cruz e a minha chegada à Sociedade Teosófica, muita coisa importante aconteceu. Assim, para que essa narrativa tenha sentido, vou manter a ordem cronológica dos fatos.

Resolvi fazer uma pausa na minha pesquisa dos mistérios ocultos e esotéricos quando li, pela segunda vez, o livro “Autobiografia de Um Yogue Contemporâneo” (Cujo título, nas edições mais recentes foi simplificado para ‘Autobiografia de um Iogue’). O autor, Paramahansa Yogananda, nasceu na Índia, dentro da mais pura tradição hindu, com o nome de Mukunda Lal Ghosh (‘Yogananda’ é o seu nome de Swâmi, uma ordem monástica hindu tradicional, e ‘Paramahansa’ é um título religioso mais elevado). Durante sua vida, ele foi chamado ainda de “Premavatar”**. Lendo o livro, é fácil saber porque ele ganhou esse título.

Posso dizer, sem nenhuma dúvida, que de todos os livros que eu li, este foi um dos mais importantes para mim. Trata-se, como o próprio título diz, de uma autobiografia - a de um espiritualista singular: Yogananda. Ele conta a sua vida, desde o nascimento, em 1893, passando por sua infância, adolescência e juventude, chegando às suas realizações durante a fase adulta, até o ano de 1951. Este livro tem tudo a ver com o que eu faço aqui: É a história detalhada de um buscador, com suas alegrias e decepções, encontros e desencontros, etc.. E é cheio de passagens marcantes, belíssimas.

Os pais de Yogananda eram bengalis, da casta Xátria. Ele nasceu em Ghorakpur, nordeste da Índia, perto das montanhas do Himalaia. Bem nascido (seu pai era vice-presidente de uma das maiores companhias ferroviárias da Índia), ele foi, desde muito pequeno, educado nos princípios do hinduísmo, ouvindo as histórias do Mahabhárata e do Ramayâna, contadas por sua mãe, uma piedosa senhora. Mas Yogananda já havia nascido agraciado com o dom do Amor, e desde a mais tenra infância, segundo o livro, viveu experiências sobrenaturais inefáveis, muitas das quais presenciadas por diversas testemunhas. Ainda muito pequeno, com aproximadamente 7 anos de idade, sentiu-se assaltado por um pensamento que lhe avassalou à mente: “Que há por trás da obscuridade dos olhos?”... Então ele teve uma visão de Íswara (nome sânscrito para designar um dos aspectos de Deus), que lhe dizia: “Eu sou Luz!” – Yogananda teria respondido: “Quero unir-me a Ti!” Depois que a visão desapareceu, uma certeza ecoava em sua jovem mente: “Ele é a Alegria sempre renovada!” – Essa lembrança perduraria até o fim de sua vida. Até hoje, na "Self Realization Felowship", organização fundada pelo próprio Yogananda, usa-se um canto mântrico composto por ele mesmo, alusivo à essa descoberta, cuja letra transcrevo abaixo, em português:

“Ó meu Rei do Infinito (Deus), eu Te vejo em Samadhi! - Em Tua Luz há Alegria,Cada vez mais alegria!”

Uma outra memória da sua infância: Ainda pequeno, de pé na sacada de sua casa, em companhia de Uma, sua irmã mais velha, ele viu dois meninos empinando pipas (ou papagaios) sobre o telhado de dois edifícios vizinhos, separados de sua própria casa por uma rua. Então ele disse: “Estou pensando como seria maravilhoso se a Mãe Divina me desse tudo o que eu pedisse”. – Sua irmã, ouvindo isso, caçoou dele: “Suponho que ela lhe daria aqueles dois pipas”, e então Yogananda se pôs a rezar silenciosamente, pedindo pelos pipas. Logo depois, os meninos começaram a competir (do mesmo jeito que aqui no Brasil, eles também usam cortante, para cortar a linha um do outro); uma das linhas foi cortada, e imediatamente o pipa flutuou na direção de Yogananda. Sua irmã então lhe disse que isso teria sido apenas uma grande coincidência, e que ela só acreditaria se o outro pipa também viesse cair nas suas mãos. Yogananda relata que voltou a rezar. Logo a seguir, a linha do segundo pipa se rompeu, e ele veio, bailando ao vento, direto na sua direção. Yogananda apresentou seu troféu a Uma dizendo: “A Mãe Divina escuta, certamente!”.

Este relato é apenas um pequeno "aperitivo" da história de Paramahansa Yogananda, neste épico de 457 páginas, onde um dos mais influentes gurus*** espirituais da História moderna conta sua vida, em minúcias. Há muitas passagens emocionantes, como os relatos das diversas visões místicas ou a ocasião em que ele encontra seu próprio bem-amado guru, Sri Yuktéswar. Yogananda sempre traçou paralelos entre todas as boas religiões do mundo. Ele "alternava" visões de Jesus Cristo com as de Krishna e as da Mãe Divina. Pra ele, não haveria discrepâncias entre as diferentes maneiras de se entender ou interpretar a Verdade por trás dos véus de Maya (mundo físico ilusório). Assim, ele era um devoto tão ardoroso dos deuses e santos hindus quanto de Jesus e dos santos cristãos, sem diferenciação. Ele seguia, por exemplo, um ritual específico para celebração do nascimento de Cristo, no Natal.

A base de seus conhecimentos era centrada na prática regular do Yoga, em especial o Kriya Yoga. Segue um trecho do livro:

A ciência Yogue fundamenta-se no exame empírico de todos os tipos de exercícios de concentração e de meditação. O Yoga habilita o devoto a desligar, e a voltar a ligar, voluntariamente, a corrente vital aos cinco ‘telefones’ sensoriais: visão, audição, olfato, paladar e tato. Alcançando este poder de desligar os sentidos, é simples para o yogue unir sua mente com os reinos divinos ou com o mundo da matéria, à vontade. Ele não é mais trazido pela força vital, contra sua vontade, à esfera mundana de sensações desordenadas e de inquietos pensamentos. A vida de um Kriya Yogue adiantado depende não dos efeitos das ações anteriores, mas apenas das diretrizes de sua alma. O devoto evita assim os monitores lentos e evolutivos das ações egoístas, boas ou más, da vida comum – lerdos e enfadonhos como lesmas para os corações de águia. Pelo método superior de viver em sua alma, o yogue se alforria, emergindo da prisão do ego, e respira o ar profundo da onipresença”.

** Premavatar significa “Encarnação do Amor” (porque será que eu me identifico tanto com Yogananda?). Mahavatar significa “Grande Encarnação”, ou “Encarnação Divina”. Yogavatar significa “Encarnação do Yoga”. Jnanavatar significa “Encarnação da Sabedoria”.

*** A palavra guru quer dizer “aquele que dissipa as trevas” - do sânscrito gu = trevas, e ru = o que dissipa.

Continua

07 novembro 2006

Rosa Cruz - AMORC

A próxima ordem místico-esotérica que eu conheci foi aquela que se auto designa pela sigla AMORC = Antiga e Mística Ordem Rosae Crucis. Conhecer a Gnose fez aumentar meu “apetite” por mistérios e sociedades secretas.

Por diversas vezes eu já tinha passado em frente ao edifício da Grande Loja Rosa Cruz, à Rua Borges Lagoa, Bairro Santa Cruz, região nobre de São Paulo. Uma construção impressionante, para dizer o mínimo. O acesso ao prédio se dá através um espaçoso corredor, de uns vinte metros de profundidade, que avança em meio a um belo jardim arborizado. Esse corredor é mais como uma espécie de “avenida”, ladeada à direita e à esquerda por duas filas de grandes estátuas em calcário, representando esfinges deitadas, com enigmáticos hieróglifos inscritos nas suas laterais. Esse caminho, que parece saído de algum sonho místico, conduz às grandes portas de bronze (que eu calculo tenham em torno de 2 metros e meio de altura), por onde se entra na Grande Loja, e no meio das quais se encontra incrustrado o símbolo Rosa Cruz, composto de um triângulo invertido com uma cruz no centro, e as letras R + C na base, tudo dentro de um grande círculo. No topo da fachada em pedra, estão entalhadas as palavras ROSA CRUZ - AMORC, bem ao estilo egípcio (Para ver fotos, clique aqui) .

Eu fiz a minha visita logo após o meu desligamento da Gnose, numa terça feira, único dia em que as grandes portas de bronze se abriam às visitas. Depois de subir as escadas que dão acesso ao grande saguão de entrada, fiquei deslumbrado com a beleza, a imponência e a organização do lugar. No centro do enorme salão, mais um jardim, com outra esfinge no centro, igual às da parte externa, voltada para a entrada. Havia passagens nas duas extremidades deste suntuoso recinto, que davam acesso a escadas, de um lado, para subir, e de outro, para descer, levando a ambientes diversos. O lugar estava tranqüilo, com poucos visitantes, passeando para lá e para cá. Improvável estar naquele lugar e não se sentir envolvido por um “clima” de mistério. Minha atenção se voltou para um enorme quadro, na parede de fundo, retratando algum ritual antigo, dentro de um templo egípcio. Nas paredes ao redor, por todos os lados, haviam representações do panteão mitológico egípcio. À esquerda de quem entra, uma espécie de pequeno museu, com um acervo de obras de pintura de diversos artistas rosacruzes.

Fui recebido por um homem que aparentava ter algo em torno de 45 anos, vestido com um terno escuro, bastante receptivo, com um sorriso no rosto. Eu, que estava me sentindo meio perdido, sozinho naquele lugar enorme e cheio de luxo, disse ao homem que queria saber sobre a Ordem, da qual conhecia muito pouco, apenas informações esparsas, de citações que lera, neste ou naquele livro. O homem (não me lembro seu nome) assentiu com a cabeça, e perguntou se eu tinha o desejo de me associar. Eu respondi, sorrindo, que assim que soubesse o significado disso, estaria em condições de responder. Achei um pouco estranho o fato de me convidarem, assim rapidamente, a fazer parte de uma sociedade que tinha fama de ser tão hermética. O homem também riu, e começou uma detalhada explicação:

“A nossa Ordem é uma organização internacional, de caráter místico-filosófico, com a missão de despertar o potencial humano, e ajudá-lo em seu desenvolvimento, tanto material quanto espiritual (essa frase está no folheto). Temos uma forte influência das tradições egípcias. Assim como na maçonaria, usamos o termo ‘Loja’, e não ‘Templo’. O templo é voltado à adoração, e as lojas são lugares para reunião e estudo. Acreditamos firmemente no desenvolvimento pessoal, individual, e nos propomos a promover este desenvolvimento, através de um tipo de ‘treinamento’ específico, que possibilita aumentar muitíssimo o potencial humano. Acreditamos ainda que o auto-conhecimento leva à uma interatividade maior com o ‘Eu interior’”.

Obviamente, eu queria saber muito mais sobre a Ordem secreta, minhas perguntas estavam apenas começando. Eu não iria sair dali sem antes aprender todo o possível sobre a AMORC. O homem, depois de um tempo, percebeu que eu iria mesmo “alugá-lo” por toda a noite, e como haviam poucos visitantes e vários recepcionistas, se resignou em ser meu cicerone particular, me dando todas as informações permitidas. Começou me explicando, justamente, que apenas uma parte dos conhecimentos e costumes é aberta ao público, e que o principal é reservado apenas para os membros, que eles chamam de “associados” (Não gosto nada desse termo, ele passa uma inconveniente impressão de comércio, de algo que está à venda, o que não deveria ser o caso).

Fui levado até a grande e bela biblioteca, repleta de livros esotéricos. Depois, ao bazar, onde estão à venda estatuetas de esfinges, pirâmides, símbolos rosacruzes, incenso, publicações esotéricas, etc. Há ainda uma sala de rituais, sobre os quais ele não me falou muito. Tem a ver com cerimoniais em que se usam espadas, punhais e pentagramas. O tempo todo, ele fazia questão de me deixar bem claro que os objetivos eram sempre benéficos, que não tinham nada a ver com rituais de magia negra ou satanismo, como foram muitas vezes acusados. Pensei comigo que o fato de conservarem esses mistérios e segredos todos é que geravam esse tipo de especulação. Porque uma ordem voltada apenas para o bem de todos e a ajuda mútua dos seus membros deveria ser secreta, funcionar escondida do grande público? Mas eu nada disse. Esperei a continuidade das explicações:

Conforme eu cobria de perguntas o paciente homem, ele ia me explicando tudo: Os princípios seguidos pela Sociedade Secreta Rosa-Cruz teriam sua origem na época do Egito antigo, estabelecidos pelo famoso faraó Akenaton (ou Amenófolis IV), o grande homem que introduziu (ou tentou introduzir) o monoteísmo em seu país. Por essa razão, ele foi acusado de heresia pelos sacerdotes dos diversos deuses que eram então adorados. Acabou entrando para a História como o “Faraó Herege”.

Mas a origem real da filosofia Rosa Cruz se deu na Europa do século XII. A primeira constituição Rosa Cruz foi feita em 1567, por um místico alquimista europeu, que escreveu também o livro "A Reforma Geral do Mundo", em 1614, que contém um pouco da história da Ordem. Seu nome era Christianus Rosenkreuz (considerado o fundador da atual Ordem). Ainda criança, ele foi enviado a um mosteiro, para aprender latim e grego. Um dia, um dos monges o levou a uma peregrinação pela Terra Santa. Com apenas 16 anos, Rosenkreuz se viu sozinho na ilha de Chipre, pois o monge, já velho, morreu durante a viagem. Por conta própria, viajou pela Arábia e Egito, onde estudou com vários sacerdotes e recebeu conselhos para ajudá-lo em sua rotina diária. Depois disso, voltou à Europa, decidido a fundar uma Ordem. Mas poucas pessoas o escutaram, porque suas idéias sugeriam relações místicas e ocultas entre o Cristianismo e outras religiões do passado. Acabou optando por fundar uma sociedade secreta, já que esse tipo de associação estava em moda naquela época. Na Alemanha, conseguiu, depois de muito tempo, reunir um número razoável de seguidores, que começaram a se espalhar por outros países europeus, onde foram bem aceitos, à exceção da França. Segundo a lenda, Rosenkreuz morreu com 150 anos de idade, porque quis, e não porque tinha que morrer. E dizem que, quando abriram o seu túmulo, em 1604, seus seguidores encontraram, no interior, inscrições estranhas e um manuscrito com letras douradas...

Com o passar dos anos, a Ordem tornou-se ainda mais secreta, e centrou-se na tarefa de redescobrir os “segredos perdidos” da Ciência, em especial da Medicina. Novos candidatos à admissão tinham que prometer curar enfermos e comparecer a pelo menos uma reunião anual.

Alguns princípios e curiosidades Rosa Cruz, segundo me foi ensinado:

# O intento da AMORC seria o de fazer com que as pessoas, por meio do uso de conhecimentos milenares, pudessem descobrir-se e superar seus problemas pessoais, financeiros e temporários.

# Deus é a palavra usada para designar o Ser Supremo, ou Ser Cósmico. Sua essência está em tudo e compõe a alma humana. A Criação é uma manifestação dos atributos de Deus (ao contrário do que pensam os gnósticos).

# Dentro da Grande Loja há também o Grande Templo, onde visitantes não podem entrar. Ali são realizadas as cerimônias, apenas para associados, como o ritual secreto de iniciação, e até casamentos.

# Há apenas uma cerimônia aberta ao público. É o “Sanctum Celestial”, uma espécie de ritual de meditação, que permite ter-se uma idéia de como os rosacruzes trabalham.

# Além dos “Fráteres” e “Sórores” (classificações dos associados), as crianças participam ativamente dos trabalhos realizados nas Lojas. São chamadas de “portadores da espada”, por razões simbólicas. Os que atingem o mais alto grau dentro da AMORC são chamados “Magos”.

# As sociedades secretas, no passado, eram predominantemente masculinas; mas hoje, até mesmo Rosa Cruz e Maçonaria abriram suas portas às mulheres.

# No passado, (cerca de 100 anos após a fundação da Ordem por Rosencreuz), a AMORC sofreu muitos ataques por parte dos maçons. Mas isso acabou servindo para introduzir alguns usos e costumes maçônicos dentro da própria AMORC; hoje, diversos maçons são também rosacruzes.

# Diz a lenda que os rosacruzes são capazes de saber as horas com precisão, a qualquer momento, sem precisar olhar no relógio.

# A AMORC foi re-estabelecida, nos moldes atuais, em 1915, nos Estados Unidos (confusão essa história de várias fundações e origens diferentes...).

# Para entrar para a Ordem, é preciso pagar. Em dinheiro. E os valores não são baixos. Há uma taxa de inscrição e um valor trimestral, pelos estudos.

Esse último item talvez tenha sido o principal motivo que me levou a tomar a decisão de não me tornar um “associado” rosacruz. Não porque não pudesse pagar. Mas porque, por princípio, acredito que a Verdade deve ser e será, sempre, dada de graça, a quem busca com sinceridade e consciência. Este é um bom medidor para se diferenciar joio e trigo. Se não for assim, então não é o que eu procuro. Isso não quer dizer que eu condene os rosacruzes; acho que coisas muito interessantes e talvez até úteis podem ser aprendidas ali. Mas eu soube, sem nenhuma dúvida, que o meu caminho não passaria por ali.

03 novembro 2006

Gnose


A palavra Gnose deriva do grego: gnosis = conhecimento. Hoje, o termo pode ser utilizado para designar um grupo místico religioso de origem milenar. Esse grupo teria surgido nos primeiros anos após a crucificação de Cristo, a partir de uma corrente dissidente do grupo cristão principal, que seguia os discípulos diretos. Nessa época, teve início, na região da Palestina, uma profusão descontrolada de lendas envolvendo Jesus e seus feitos - sua verdadeira doutrina, seus poderes, sua aparência, etc. Surgiam numerosas teorias que tentavam explicar o verdadeiro caminho ensinado por ele para se alcançar a vida eterna. A maioria vinha revestida por uma caráter misterioso, secreto, hermético, cujos segredos mais profundos só poderiam ser revelados aos que se dispusessem a se iniciar nos "Mistérios". Esses grupos dissidentes, muitas vezes conflituosos entre si, depois de algum tempo, passaram a ser denominados “gnósticos”. Esse termo, hoje um tanto genérico, pode significar o oposto de “agnóstico”, ou seja, usado para designar todo aquele que tem fé. Aqui no Brasil, como em diversos outros países, principalmente sul-americanos, os gnósticos que se auto-proclamam descendentes diretos destes grupos cristãos primitivos, estão hoje organizados em um grupo fundado na década de 70, no México, por Victor Manuel Gómez Rodríguez, mais conhecido como Samael Aun Weor (O Quinto Anjo do Apocalipse - o Senhor do Quinto Raio - O Logos de Marte - o Décimo Avatar de Vishnu), líder místico nascido em 1917, na Colômbia, autor de 72 livros e fundador da “Igreja Gnóstica Cristã Universal”.

O movimento gnóstico, ou "Gnose", é uma ordem místico-religiosa bastante interessante. Para qualquer pessoa empenhada no estudo da religião, como eu, é um prato cheio. A exemplo de Kardec, Samael foi um incansável pesquisador, organizador e sintetizador das grandes religiões universais em todos os tempos. Seu próprio nome iniciático demonstra isso claramente: Samael vem do hebraico, em alusão aos antigos profetas bíblicos e aos anjos judaico-cristãos. Aun é uma corruptela do chamado “som universal” apresentado no Yoga, derivado da língua sagrada hindu, o devanagári (A mesma dos sutras indianos - na verdade, essa adaptação foi equivocada, já que o modo correto de se pronunciar seria “OM”, e nunca “AUM” como fazem os gnósticos. Qualquer estudante de Swasthia Yoga, por exemplo, sabe disso). Quanto ao Eor, bem, aí a coisa se complica um pouco. Teoricamente poderia ter origem numa língua alienígena ou num idioma proveniente de algum dos níveis sutis do "astral".

Como eu disse no post anterior, pretendo voltar ao assunto “ordens esotéricas”, no futuro, porque há muitíssimas informações interessantes a esse respeito, e um post só não seria suficiente para tratar o assunto. Por enquanto, deixarei apenas um rápido apanhado das minhas impressões e do conhecimento que de fato pude adquirir em cada uma dessas confrarias.

Cheguei ao prédio onde funcionava a sede da Gnose em São Paulo, na rua São Joaquim, bairro homônimo, e fui convidado a assistir uma palestra de apresentação. Bem, todos que já me conhecem sabem que eu estou preocupado, antes de qualquer coisa, em encontrar a Verdade onde quer que ela esteja, e, por isso mesmo, no geral, o esoterismo não tem muito a ver comigo. Há muita “viagem” envolvida, muito misticismo gratuito, alegações feitas sem nenhum embasamento sólido, prontamente aceitas pelos membros como realidade incontestável. Mas, no caso da Gnose, eu confesso que, em princípio, fui seduzido. Se não pela possibilidade de encontrar ali as respostas que eu procurava, ao menos pela riqueza cultural e a possibilidade de acesso à vasta quantidade de informação sobre mitologias diversas. A título de curiosidade, se encarada como uma forma de aprimorar minha “bagagem” cultural a respeito das religiões e filosofias antigas, freqüentar as unidades e fazer os cursos gnósticos foi uma experiência bem interessante.

Eu me matriculei no curso “Introdução ao Conhecimento Gnóstico”, cuja proposta era ensinar como responder ao mitológico “enigma da esfinge”: “Decifra-me ou te devoro!” – Segundo os gnósticos, responder a este enigma equivale a responder às 4 perguntas clássicas da “Senda da Iniciação” que conduzem a “ser ou não ser”, isto é: Continuar sendo ou não um “animal humano”. O animal humano vive para atender exclusivamente ao chamado da natureza. Foi feito pela natureza, vive pela natureza, e servirá como alimento para a natureza (Trágico assim). Aliás, os gnósticos não gostam nem um pouco da natureza, eles vêem nela a razão de todo infortúnio, e não acreditam na sua origem divina, mas sim que teria sido criada por demiurgos malignos, dispostos a prejudicar a humanidade, mandando-a de vez ao fogo do inferno e ao sofrimento eterno. Assim, para não continuar sendo apenas um animal racional, seria necessário ao homem “escapar” da natureza, e ir bater às portas dos “Mistérios”, para pedir a Iniciação. Depois, passar por uma série de provas específicas, assumir a “disciplina hermética” como norma de vida e fazer nascer dentro de si o “Filho do Homem”. Seguem palavras textuais da apostila gnóstica:

Diante do grande espelho da vida, o Grande Mestre diz àquele solitário buscador que ousadamente decidiu enfrentar a Esfinge: Olha-te! O que vês? Não passas de simples crisálida humana! É preciso re-evoluir e chegar a possuir a tua Alma. Se alcançares tal grau, depois ser-te-á ensinado como encarnar o teu espírito! Estás preparado? Se o aspirante responde sim, a Deusa Psique começa a ensinar-lhe as primeiras letras da ciência sagrada e o Deus Hermes o instrui nas fórmulas sagradas que o levarão a preparar o sal, o enxofre e o mercúrio – os elementos básicos da Grande Obra. Se o aspirante não desistir pelo caminho, um dia o Grande Mestre lhe entregará a Espada de Fogo e o Báculo de Poder. Então, o antigo animal humano terá se transformado num novo Deus da Natureza, e os céus celebrarão uma grande festa nesse dia”.

Bem, meus caros, dentre os requisitos necessários para a concretização desse processo de renascimento, um dos principais é Não praticar o sexo “normal”, isto é, a ejaculação é proibida aos homens(!). Aprende-se até um exercício mental para bloquear a ejaculação. Deve-se praticar o ato sexual apenas por um período específico de tempo, e depois parar, sem consumá-lo (ejacular). A razão desta norma de conduta se deve ao fato de os gnósticos acreditarem que toda energia atuante em nosso plano de existência deriva da energia sexual. Por isso mesmo, não poderíamos desperdiçar essa força tão poderosa no ato do coito. Sobre isso, me lembro de um diálogo que tive com um colega “aspirante”, uma figura muito engraçada, uma vez ele me disse mais ou menos o seguinte: “Meu amigo, não estou agüentando mais! Estou praticando essa técnica há mais de um mês. Depois da transa, minha mulher vira e dorme. Mas eu fico acordado por horas, desesperado, com o #*!#& duro! Ontem mesmo eu tive um sonho erótico, acabei ejaculando do mesmo jeito, só que eu estava dormindo. Será que estou fazendo alguma coisa errada?”... :-P

Algumas curiosidades e considerações sobre os gnósticos:

# Afirmam que civilizações extra-terrestres estão prestes a entrar em contato conosco, a qualquer momento, entre hoje (ouvi isso em 1994) e o ano de 2043.

# Se propõem a estudar religião, magia, mitologia, filosofia, psicologia, alquimia, ciência, antropologia, história das civilizações antigas, etc, etc (Parece até o descritivo do Arte das artes)... Como podem perceber, tudo a ver com o velho H K aqui, mas nesse processo acabam fazendo uma grande salada com tanta informação misturada.

# Dentro da ordem, não faltam “mestres” que afirmam ter o poder para conversar com Jesus (na hora em que bem entenderem), para fazer chover ou parar tempestades e muitas outras coisas como essas.

# Afirmam que o macaco e outros animais derivam do homem.

# Afirmam que o homem surgiu na Terra há 300 milhões de anos, e que há 18 milhões de anos éramos seres hermafroditas, quando ocorreu a separação dos sexos e quando imperavam em nosso mundo os fenômenos telúricos, intensamente.

# Afirmam que Lemúria e Atlântida de fato existiram, e que são as sucessivas oscilações do eixo terrestre que fazem aparecer e desaparecer continentes inteiros, como está prestes a acontecer, a partir de agora e antes de 2043.

# Samael Aun Weor, segundo um de seus secretários, afirmou, textualmente, sobre seus livros: “Se pudesse, queimaria todos eles” (Sendo assim, porque hoje seus seguidores têm esses mesmos livros como base de fé?).

# Samael Aun Weor foi preso em sua terra natal, a Colômbia, em 1952, sob acusação de curandeirismo, e teve que fugir do país, tendo ido se exilar no México, lá permanecendo até o fim da sua vida.

# Acreditam ainda que o mesmo Samael Aun Weor, falecido há quase três décadas, viveria hoje, depois de ter ressuscitado, em algum esconderijo secreto no Tibet, junto com inúmeros outros “grandes mestres”, que formam a “Muralha Guardiã do Mundo”, intercedendo por nós, pobres ignorantes, até o ano de(adivinha?) 2043, data prevista por ele para o fim do mundo.

Concluí os cursos introdutórios à Gnose. A partir daí, o próximo passo seria iniciar um período de maior devoção à Ordem, quando me tornaria um serviçal voluntário em alguma das suas unidades. Preciso dizer que foi nesse momento que eu dei meu adeus ao movimento gnóstico internacional?