23 janeiro 2007

Os Sinais continuam?

O que poderia significar aquilo? Jesus sempre fora meu “mestre” preferido, sempre nutrira pela sua figura um carinho especial. Mas as religiões ditas cristãs, como um todo, haviam me decepcionado demais para que eu pudesse sequer considerar a possibilidade de, assim, de repente, me tornar “cristão”... Será que era isso o que a Sabedoria Infinita havia planejado para minha vida? Tinha que haver alguma outra resposta...

Meditação... A meditação sempre fora uma das ferramentas mais importantes na minha Busca. Nada parecido com isso eu jamais encontrara dentro das tradições cristãs. E sem a meditação eu não teria chegado até aquele ponto do Caminho.

Numa bonita tarde de inverno (quase certeza que era uma sexta-feira), sozinho em casa, pouco depois das 15 horas, eu entrei no meu “quarto de meditação”. Sentei-me no chão, como sempre costumava fazer, na postura de “Vajrásana” (sentado sobre os calcanhares, joelhos sobre o tapete e as mãos sobre o colo), posição em que eu era capaz de ficar por longos períodos de tempo. Algo me dizia que naquele dia eu iria precisar de um bom tempo no estado de “suspensão das agitações mentais”, que tanto bem me fazia. Eu precisava entender o que estava me acontecendo, e qual deveria ser o meu próximo passo.

Eu tinha sempre o hábito de (nada que tivesse aprendido em algumas das escolas por que passei, mas sim uma espécie de “ritual” pessoal meu), antes de iniciar a meditação, me “despir” de todos os “supérfluos”, de tudo que de alguma forma me apertasse ou pudesse provocar qualquer desconforto durante a prática: Anéis, relógio, óculos (eu usava, na época), correntinhas...

E assim fiz, naquele tarde. Tirei meus óculos, o meu relógio e uma corrente de prata que naquela época eu usava no pescoço, com uma pequena medalha também de prata, que tinha alguns símbolos orientais gravados, cujo significado eu nem conhecia. Acomodei esses objetos sobre o tapete, ao meu lado, e fechei meus olhos. Agora que tinha vivenciado o impressionante episódio com o quadro de Jesus, já não usava mais os mantras indianos para o relaxamento mental, estava começando a optar sempre por uma oração, principalmente o Pai nosso. E em todas as vezes, fechado e sozinho no meu quarto, em completo silêncio e livre de preocupações externas, me admirava mais com a absoluta perfeição dessa oração. Tudo que precisamos saber e pedir está ali. Aproveito esse post pra falar um pouco sobre o tema:

Pai nosso, que estais no Céu, santificado seja o Vosso nome...

A começar por chamar ao Deus Todo-Poderoso, Criador do Universo, simplesmente de Pai. Isto, embora a maioria das pessoas hoje não imagine, foi uma das maiores revoluções provocadas por Jesus. Até então, a idéia de usar a expressão “Abba” para se referir ao poderoso e terrível “Senhor dos Exércitos”, o Deus “Vingador de Israel”, soaria como blasfêmia para a maioria das correntes religiosas reinantes entre o povo judeu. Pra ser ainda mais específico, a palavra “Abba”, no hebraico, representa a maneira como as crianças chamam seus pais, significando algo assim como “papai”, ou “paizinho”. Uma demonstração inacreditável de intimidade, por parte de Jesus, para com o Deus absoluto que os Judeus tanto temiam. Antes dele, em diversos escritos do Antigo Testamento, o espaço reservado para se designar a palavra com que chamar Deus era deixado em branco, tanto medo tinham de sequer escrever o Santo Nome. Criaram muitas formas, títulos, ideogramas parar se referir ao Senhor, porque se consideravam indignos de pronunciar o Seu nome ou sequer de escrevê-lo. Aí surge um Galileu iletrado, mas que mesmo assim ensinava os mestres na sinagoga, chamando a este mesmo Senhor temível de “Abba” – Paizinho. Isto é o que podemos chamar de uma profunda revolução espiritual, verdadeiramente; porque é uma revolução interior, do tipo que transforma, de dentro pra fora, o comportamento humano.

...venha a nós o Vosso Reino...

Nos convida à reflexão sobre o significado do termo “Reino de Deus”, algo realmente muito profundo, mas está claro nos evangelhos que ele não se referia (somente) a um plano superior em algum lugar mais elevado, mas sim a um estado interior do ser humano - "O reino de Deus está no meio(ou dentro, conforme alguma traduções) de vós" (Lc 17, 21).

...seja feita a Vossa vontade, assim na Terra como nos Céus...

Assim como na tradição budista e também na hindu, o seguidor é exortado a anular o próprio ego, se despir de todo orgulho e se entregar, com humildade e confiança diante da sabedoria do Criador. A minha própria vontade costuma me levar sempre à destruição e ao engano. Faça-se na minha vida a Tua vontade, meu Pai, porque só Tu é que sabes o que é melhor para mim.

...O pão nosso de cada dia dai-nos hoje...

Viver e permanecer no agora. Nos preocuparmos menos com o dia de amanhã. Parar de fazer tantos planos para o futuro, esquecendo o presente. Confiar em Deus, a cada novo dia, entender que há nessa vida mais do que comer e beber, que representam, aqui, todas as nossas necessidades materiais –

Por isso vos digo: Não estejais ansiosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer, ou pelo que haveis de beber; nem, quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo mais do que o vestuário? Olhai para as aves do céu, que não semeiam, nem ceifam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não valeis vós muito mais do que elas? Ora, qual de vós, por mais ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado à sua estatura? E pelo que haveis de vestir, por que andais ansiosos? Olhai para os lírios do campo, como crescem; não trabalham nem fiam; contudo vos digo que nem mesmo Salomão em toda a sua glória se vestiu como um deles. Pois, se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós, homens de pouca fé? Portanto, não vos inquieteis, dizendo: Que havemos de comer? ou: Que havemos de beber? ou: Com que nos havemos de vestir? Porque vosso Pai celestial sabe que precisais de tudo isso. Mas buscai primeiro o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas. Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã; porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo (Matheus, 6:25 a 34)”.

Segundo uma infinidade de mestres yogues, este é o maior segredo para a iluminação espiritual: Viver o agora!

"...perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores...

Lei do karma. Lei do retorno. Simplesmente justiça. - Chame como quiser, não há Regra mais perfeita do que essa, não há caminho mais perfeito para a paz na Terra, para se alcançar uma vida pacífica e feliz em sociedade. Minhas falhas serão perdoadas, se eu souber perdoar também às falhas alheias. Alguém aí discorda que esse princípio é justo?

"...e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal. Amém”.

No fim, pedimos ajuda para nos mantermos no caminho correto, e proteção contra todos os males. Perfeita. Irretocável. Esta é mesmo a Oração das orações, e além de tudo é uma aula da verdadeira doutrina do Cristo. E eu só tinha voltado a prestar atenção nisto por causa do que tinha me acontecido. Quanto eu estava perdendo, sem perceber!..

Voltando agora ao meu relato de hoje:

Iniciei a minha meditação, e não sei por quanto tempo permaneci ali quieto, sentindo minha mente se libertando, pouco a pouco, da “ciranda” de pensamentos obsessivos, que, infelizmente, é o nosso estado mental normal; e aproveitando a indescritível sensação de entrar num estado de meditação profunda. Me desliguei de tudo, sentindo uma paz incomensurável e preciosa tomando conta de mim. Quando voltei ao estado mental normal, me levantei devagar, ainda meio entorpecido pela experiência. Ao abrir a janela do meu quarto, fiquei surpreso ao perceber que o sol já estava se pondo, tingindo o céu numa composição de cores maravilhosas, em que predominavam os tons em vermelho... Eu devia ter ficado meditando por mais de três horas!

Fazia um friozinho agradável, e eu me permiti ficar por um tempo ali na janela, apreciando a despedida do “irmão sol”, sumindo devagarzinho no horizonte, por detrás dos prédios da Av. Paulista. Que paz profunda eu sentia naquele momento, como se não houvesse problema algum neste mundo...

Dentro do quarto já começava a ficar escuro, então acendi a luz, e recolhi minhas coisas do chão. Coloquei o relógio no pulso, coloquei meus óculos... E... cadê a minha corrente? Eu tinha certeza de tê-la colocado junto com meu relógio e meus óculos. Procurei muito bem, apalpei o tapete com as mãos, num gesto irracional, como se a corrente de prata com a medalha pudesse estar ainda no mesmo lugar, invisível. Nada. Olhei embaixo dos móveis, olhei nos quatro cantos do quarto. Nada.

Eu estava sozinho em casa, trancado no meu quarto. Ninguém tinha entrado, ninguém tinha saído. Eu permanecera todo o tempo ali dentro, sentado no tapete, sem sair para nada. E eu tinha absoluta certeza de que tinha tirado a corrente do meu pescoço e a colocado bem ao lado do meu corpo, junto com o relógio e os óculos. Mas agora ela não estava mais lá! Havia desaparecido!? Como isso seria possível? Voltei a procurar. Vasculhei todo o chão, e até abri todas as gavetas, olhei todas as prateleiras, mesmo tendo absoluta certeza de que tinha tirado a corrente do pescoço e colocado no chão... Nada!

À noite, quando minha esposa chegou, ainda pedi ajuda para procurar. Buscamos em todos os cômodos da casa, em todos os cantos, cada fresta foi vasculhada. Mais uma vez, nada!..

Fiquei desorientado, e um pouco assustado. Lembrei que aquela medalha, que eu carregava sempre no pescoço, trazia gravado um símbolo pagão oriental, e uma série de inscrições parecidas com ideogramas chineses, cujo significado eu desconhecia. Eu a usava porque tinha sido presente de uma amiga, e eu a achava interessante, exótica. Muitas pessoas me perguntavam qual o significado daquela medalha, achavam bonita, mas eu nunca fiz questão de pesquisar sua origem e significado. E agora, ela desaparecera. Para sempre!

E agora? Mais um Sinal? Será que o que acabara de acontecer tinha alguma relação com o evento envolvendo a imagem de Jesus? Eu devia dar atenção ao ocorrido ou continuar a minha vida sem me importar muito com isso?..

18 janeiro 2007

E agora, Henrique?! - conclusão

Krishnamurti nasceu em maio de 1895 ao sul da Índia, perto de Madras. Foi o oitavo filho de uma família de brâmanes e recebeu este nome em homenagem a Krishna. Um menino que, desde muito jovem, aspirava àquilo que está além da simples vida material; dotado de uma natureza excepcionalmente voltada para a busca interior. Nasceu com este dom, desenvolvido ainda mais, segundo seus biógrafos, com a ajuda da mãe. Aos seis anos já estava firmemente consolidado naquele que seria o propósito único da sua vida: A busca pela Verdade.

Por volta de 1904, quando Krishnamurti, então com 9 anos, brincava na rua com seu irmão mais novo, um dos chefes da Sociedade Teosófica (de Madame Blavatsky) de Adyar, que passava por ali, se interessou por ele. Acabou por levá-lo para conhecer a célebre Annie Besant, então presidente da Sociedade Teosófica. Mme. Besant, admirada com suas qualidades, adotou-o e passou a dirigir seus estudos. Em 1910 foi mandado para Londres.

Nessa mesma época os chefes da Sociedade Teosófica fundaram a "Ordem da Estrela do Oriente", cuja finalidade era agrupar espiritualistas do mundo inteiro na espera de um "grande instrutor". Krishnamurti logo foi declarado chefe da Ordem. Foi nessa época que ele escreveu seu primeiro livro, sendo que uma frase deste livro já resumia parte do seu ensinamento futuro:

A superstição é um dos maiores flagelos do mundo, um dos entraves dos quais é preciso se libertar inteiramente”.

É bom lembrar que isto foi escrito por um rapaz de 14 anos(!). Em 1911, com 16 anos, escreveu um segundo livro: "O Serviço na Educação". Ele estava ainda em Londres, e a aproximação da guerra criava um clima tenso na Europa. Consciente da responsabilidade individual de todo ser, escreveu neste novo livro:

Um crime não deixa de ser um crime se for cometido por muitas pessoas”.

Foi também nessa mesma época, ainda criança, que Krishnamurti começou a falar em público. Suas conferências em pouco tempo tornavam-se cada vez mais numerosas. Mas, enquanto todos os chefes da Sociedade Teosófica enxergavam nele o futuro "Grande Instrutor", capaz de agrupar as diferentes correntes espirituais do mundo, Krishnamurti se revelava um “rebelde”. Mais tarde ele mesmo viria a explicar as razões dessa revolta:

Eu me revoltei contra tudo, contra a autoridade dos outros, contra os ensinamentos dos outros, contra os conhecimentos dos outros. Nada queria aceitar como verdadeiro até que eu mesmo pudesse encontrar a Verdade. Eu não me opunha às idéias dos outros, mas não queria aceitar suas teorias e sua autoridade sobre a minha vida... Nada me satisfazia. Eu escutava, observava. Procurava aquilo que está além das ilusões das palavras”.

No décimo-sétimo poema do livro O Amigo Imortal, ele escreveu:

Sim, eu procurei o meu Bem-Amado,
E o descobri em meu próprio coração.

Meu Bem-Amado olha com meus olhos,
Porque agora somos um só.

Eu sorrio com Ele, brinco com Ele.
Essa sombra não é mais minha,

É a sombra do Coração de meu Bem-Amado,
Porque agora somos um só.
"

Krishnamurti explica o que ele entende por "Bem-Amado":

Para mim, o ‘Bem-Amado' é cada um de vocês, ou uma planta qualquer, o pobre e o rico, o cachorro infeliz, as montanhas grandiosas, as árvores magníficas...”.

À luz de sua própria existência, Krishnamurti sacode o torpor de todos que o cercam. Torpor que os fazia aderir a crenças e seguir cegamente seus "guias espirituais". Ele entendia que o erro consiste em aceitar, em vez de compreender... Dizia que “é muito mais fácil seguir cegamente do que compreender e tornar-se assim verdadeiramente livre”. Então, compreendendo tudo isto, ele um dia declarou aos seus seguidores, que já começavam a adorá-lo como um deus, deixando de lado os seus pensamentos: "Não quero espectadores, não quero discípulos, admirações ou louvores de espécie alguma. Quero ser o companheiro e não o mestre”. Assim, em 3 de Agosto de 1929, em Ommen, ele dissolveu a Ordem da Estrela do Oriente, para evitar a formação de uma seita em torno dele. Queria que cada um se sentisse responsável por sua própria vida. Tudo que ele menos desejava era que criassem nele um novo tipo de dependência. Mas os jornais da época já começavam a chamá-lo de “O Messias dos Teósofos”.

Por isso, depois de ter constatado com clareza esses fatos, ele declarou:

A Verdade é um país sem caminho... Ilimitada, incondicionada, inatingível para qualquer caminhante e impossível de ser 'organizada'”. E dissolveu toda a organização que já havia sido criada em torno dele, restituindo todos os bens que lhe haviam sido dados, recusando-se para sempre a ter discípulos, e partindo sozinho em sua própria Jornada. Sem pestanejar, abriu mão da oportunidade de ficar rico. Abdicou da fama, dos confortos, de um belo "futuro garantido" e da admiração do mundo, em prol de realizar a sua verdadeira Busca pela Verdade.

Nas centenas de livros que viria a escrever e palestras e conferências que ministrou, nunca se propôs a "ensinar" coisas, mas somente a "cutucar" o indivíduo humano, tentando fazer com que despertasse do estado de dormência em que se encontra. Criticou duramente a facilidade com que aceitamos, sem questionamentos, as palavras de tantos "mestres" e "gurus" como se fossem expressão da Verdade. Krishnamurti propunha um despertar pessoal, o que ele chamou de "mutação interior". Faleceu em 1986.

Esse breve resumo da história de Krishnamurti é insuficiente para fazer entender a sua grandeza e a importância que suas idéias tiveram no inconsciente coletivo da humanidade. Eu apenas tentei passar aqui uma noção geral do que foi a sua vida e qual a sua mensagem.


Quanto a mim, enquanto tentava entender o que me havia acontecido, digerir a Mensagem que tinha recebido (que contei no post “Sinais”), resolvi me abrigar por um tempo à sombra deste grande pensador e filósofo, procurando reorganizar minhas idéias. Passei a freqüentar o Grupo de Estudos Filosóficos “K”, uma turma que se reúne aos sábados numa biblioteca da Vila Mariana, em São Paulo, para assistir aos vídeos das palestras de Krishnamurti e dialogar e trocar experiências.

Uma experiência válida, sem dúvida nenhuma, que eu recomendo pra qualquer pessoa. Ali pude fazer novas e boas amizades. Esse grupo reunia cerca de trinta e poucas pessoas, desde jovens pós-adolescentes deslumbrados com a sabedoria de Krishnamurti até anciãos com mais de 80 anos de idade. Homens, mulheres, ricos, pobres, professores, intelectuais, artistas, poetas, espiritualistas e “alternativos” de todos os tipos.

As longas conversas que se desenrolavam, começando às 16 horas (após assistirmos em vídeo a alguma das conferências do Krishnamurti) e muitas vezes prolongando-se até à noite, eram muito produtivas para todos, mesmo que a Filosofia seja, por si só, inconclusiva, e qualquer um que procure um grupo como esses com o objetivo de encontrar conclusões definitivas, vai sair decepcionado. Lembro-me de um rapaz que questionava se a mesa em torno da qual nos sentávamos era mesmo real, se ela existia de fato, ou não... Hana, do meu lado, às vezes disfarçava um sorriso involuntário.

Para se discutir alguma coisa com alguém, é necessário que haja pelo menos uma base de concordância mínima, alguma premissa em comum, por onde iniciar o diálogo. Se alguém começa a falar: - “...Pra ser feliz na vida, é preciso...” – Aí o outro interrompe: - “Mas o que é a felicidade? E o que é a vida? Essas coisas existem mesmo, ou serão só ilusões?..” – Aí fica meio impossível de se chegar a uma conclusão sobre qualquer coisa. Esse tipo de situação acontecia, nesse grupo, às vezes...

Mas esse foi o lugar onde, até hoje, eu encontrei a maior concentração de buscadores sinceros, autênticos, independente de credo ou sectarismo religioso. Pessoas dispostas, assim como eu, a não se contentar com menos que a Verdade. Ali ninguém estava preocupado em defender este ou aquele livro considerado sagrado, nem este ou aquele princípio de fé... Para mim foi muito bom saber que haviam outros como eu...

16 janeiro 2007

E agora, Henrique?!


Depois dos acontecimentos que eu narrei no post “Sinais”, eu me tornei ainda mais pensativo do que já costumava ser normalmente (se é que isso é possível, Hana que o diga...). Eu tentava entender o ocorrido, tentava articular na minha cabeça o que poderia significar o Sinal que eu havia recebido. Num primeiro momento, como já relatei, eu tentei encontrar alguma explicação natural, lógica. Mas não pude. Para mim estava claro que eu tinha recebido uma resposta, de Deus ou do Universo, para a pergunta que estivera me angustiando. E agora eu precisava entender essa mensagem.

Uma imagem representando Jesus Cristo destruindo, literalmente, uma imagem representando Krishna... Na verdade, em toda minha vida, eu sempre nutri uma devoção especial por Jesus. Apesar de ter freqüentado tantos templos budistas e hindus, na hora da meditação era sempre o nome de Jesus que me vinha à mente. Enquanto as pessoas ao meu lado, na “Self Realization Felowship”, no templo hindu “Sahaja Yoga” ou nos budistas “Soto Zenshu” e “Shi De Choe Tsog” entoavam mantras em línguas estranhas, eu costumava mentalizar um Pai Nosso. Mas a Busca me havia levado para outros lugares, agora, e voltar ao Cristianismo estava completamente fora de questão.

Mas afinal, será que era isso mesmo que eu devia fazer? Voltar ao Cristianismo? Impossível! Pra ser verdadeiramente honesto, tenho que reconhecer: Àquela altura da minha Busca me parecia simplesmente insuportável a idéia de voltar a ser evangélico. Nunca mais seria um “bitolado”, eu resolvera comigo mesmo. E católico, então? Agora eu já conhecia a Bíblia o suficiente pra entender o quanto os católicos são incoerentes. Nenhuma chance...

Mas então, o que queria dizer aquele Sinal? Jesus de pé, Krishna no chão, despedaçado... E isso acontecendo de modo sobrenatural! A interpretação mais óbvia que se poderia fazer, seria: “Deixar o Hinduísmo e as influências orientais (representados por Krishna) e voltar ao Cristianismo”.

Mas, não. Não podia ser isso. Inadmissível. Devia haver uma outra explicação!.. E eu haveria de encontrar alguma outra maneira de interpretar esse Sinal.

Se é que realmente aquilo tinha sido mesmo um Sinal. Só porque não somos capazes de explicar alguma coisa, não significa que não exista alguma explicação natural, certo? E eu haveria de entender. Mas naquele momento me sentia um pouco saturado de tanto conhecer religiões e filosofias novas, sem conseguir jamais encontrar a certeza que eu queria.

E eu sabia exatamente onde “fazer uma parada” pra colocar as idéias em ordem:

O que procuramos? Procuramos a Verdade, não segundo a crença de vocês ou a minha; porque para encontrar a Verdade em qualquer assunto eu não devo ter crença. Quero encontrar a Verdade. Por isso eu pesquiso, coloco na mesa tudo que diz respeito a uma questão, não me abrigando atrás de nenhuma espécie de preconceito. Diria que eu busco honestamente. Meu espírito é muito honesto, e ao tentar compreender, não me deixaria levar pelo Bhagavad Gita, pela Bíblia ou por meu guru favorito. Eu quero saber e para isso devo ter a intensidade necessária para prosseguir nessa minha tarefa. E o homem que está preso a uma crença, qualquer que seja a extensão da corda que o prende, está retido e por isso não pode explorar. Examinará somente sob o raio da sua servidão e nunca encontrará a Verdade”. - Jidu Krishnamurti.

Voltei a ler Krishnamurti. Considerado por muitos estudiosos como um dos maiores filósofos que já viveram em nosso planeta, em todos os tempos; a altura de um Sócrates, um Platão, Aristóteles, Descartes, Hume, Kant... Seu pensamento influenciou de modo indelével a maneira de pensar da humanidade. E isso não é exagero. Sua principal característica era nunca falar sobre onde está a Verdade, mas sim esclarecer, por meio de raciocínio inapelável, onde ela não está. Eliminadas todas as possibilidades de engano, o acertado surge.

Krishnamurti é o tipo de personagem que, por mais que se fale dele, parece que nunca é o suficiente. Por isso mesmo, não vai ter jeito: Pra não ficar uma coisa muito resumida, pela metade, e nem virar um texto gigantesco, o post sobre ele (e sobre o grupo filosófico que se reúne para discutir seus livros e suas idéias) terá que ser concluído numa segunda parte, que eu prometo pra depois de amanhã, próxima quinta.

15 janeiro 2007

Hare Krishna

Ao publicar minha última postagem, me lembrei de contar uma coisa que aconteceu mais ou menos uns 7 ou 8 anos antes dela: Minha visita ao templo central do Movimento Hare Krishna em São Paulo.

Foi lá que eu adquiri aquela imagem de Krishna, que como eu contei, foi completamente destruída. Acho que acabei me esquecendo de contar essa etapa da minha busca, porque ela não foi assim tão marcante. Por isso, agora, antes de passar à sequência cronológica do post anterior, faço um pequeno resumo de como foi essa experiência:

O templo ficava (acho que não está mais lá) na Avenida Angélica, região da Avenida Paulista, e era uma casa muito grande, com diversas salas bastante amplas. Fui com um amigo, que na época iria ser meu sócio numa empresa de distribuição de incenso (o negócio não deu certo)... Chegando lá, fomos recebidos por um monge muito gente boa (do qual infelizmente não me lembro o nome), usando aquele traje típico, que o pessoal costuma brincar dizendo que a calça parece “cueiro de nenem”...

Não tenho muito a dizer sobre esse dia, a não ser que fiquei mais ou menos umas três horas, ininterruptas, conversando com o monge, e o assunto não acabava. Interesses em comum, sabem como é...

Enquanto conversávamos, outros monges iam chegando, vindo do seu trabalho diário de vender incenso e livros nas ruas, com o qual sobrevivem, e se prostravam diante da imagem de Krishna. Depois que vários deles estavam reunidos, começaram a dançar e cantar alegremente, com pandeiros e chocalhos, entoando seu mantra que nunca termina: "Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare / Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare..."

Os caras procuram seguir os Vedas (escrituras hindus), ao pé da letra, mais ou menos como alguns grupos evangélicos mais radicais tentam seguir a Bíblia, só pra se ter uma noção. A diferença é que os costumes dos hindus são muito diferentes dos nossos, ocidentais, então fica aquela coisa super exótica...

Achei bastante interessante encontrar dentro do templo uma estátua à imagem do fundador do movimento, Sri Bhaktivedanta Swami Prabhupada, tão perfeita e realista que parecia ser o ancião, de verdade, sentado numa poltrona almofadada ali no canto. Chegava a assustar!


Também achei curioso o fato de eles manterem uma comunidade alternativa em diversas cidades do interior do Brasil, chamada “Nova Gokula” onde os devotos procuram seguir a vida monástica; esta sim, bastante parecida com a dos monges católicos ou budistas: Os monges são celibatários, fazem voto de pobreza e de obediência, entregam suas vidas ao seu senhor Krishna e não comem carne em nenhuma hipótese.

O fato mais marcante, que me lembro daquele dia, do meu diálogo com o monge, foi o seguinte:

H K Merton: -Uma coisa que eu gostaria muito de entender melhor, é o porquê dessa forma de representar Krisnha, um ser com a pele azul, sempre ornamentado com muitos adereços e com sua flauta a tiracolo?

Monge: - Isso não é uma forma de representar o Senhor Krishna. Esta é a sua forma real. Ele realmente é assim...”

Esse diálogo eu gravei muito claro na memória porque até então eu achava que aquela forma tão diferente, azul e tudo mais, fosse apenas um jeito poético de representar essa grande encarnação, que eles acreditam ter vivido há 5 mil anos na Índia, e tendo permanecido entre nós por 125 anos.

Como nos últimos posts eu andei falando bastante sobre o Yoga, os Vedas, as Upanihsads, os Yoga Sutras e o Hinduísmo, de um modo geral, vou deixar pra esmiuçar os detalhes sobre essa ordem religiosa num momento oportuno, depois que terminar a primeira fase do Arte das artes. Pra quem quiser conhecer os princípios básicos da organização Hare Krishna no Brasil, basta uma pesquisa no site oficial, que eu deixei linkado no começo do post.

Amanhã, o post-continuação de "Sinais".

11 janeiro 2007

Sinais

A experiência que vou contar agora é extremamente significativa. E muito importante para mim. É algo difícil de se avaliar, ou mesmo entender. E é muito pessoal. Por isso peço sobriedade a todos.

O ano é 2001. Como não poderia deixar de ser, eu andava um pouco decepcionado com essa história de Avatares e grandes mestres (depois de Osho, Sri Mataji, Ramana Maharishi, Sai Baba...). Mas, como já deve ter ficado claro, o orientalismo, em especial o Hinduísmo e as disciplinas do Yoga haviam me marcado profundamente. Eu achava muito sentido e coerência na sua maneira de entender a vida e Deus:

Deus está em tudo - Qualquer forma de adoração é válida - Todos os caminhos acabam levando, inevitavelmente, ao mesmo Lugar - Não há o binômio Criador/criatura, só há Deus, e Deus é tudo - O homem exalta Deus como onipresente, onisciente e onipotente, mas ele ignora Sua Presença nele mesmo! - Cada religião esquece que Deus é todas as Formas e todos os Nomes, todos os atributos e asserções”...

Essa linha de pensamento me soava tão plácida, tão agradável e reconfortante... Diz que não precisamos ter trabalho algum... Bem no fundo, me dizia que toda aquela história de Busca era desnecessária, inútil. Tudo que eu tinha a fazer era relaxar... A vida por si só se encarregaria de me levar ao Caminho que eu tanto procurava... Tudo era permitido, não havia nenhuma necessidade de observância de regras morais de nenhuma espécie, nem disciplina alguma...

Mas algo estava errado... Se o Caminho é assim tão fácil, tão natural, se ele se abre espontaneamente pra todas as pessoas, e a realização é o destino inevitável do homem, então por que há tanta infelicidade no mundo? E principalmente por que, por que quando eu me colocava só e em silêncio, alguma coisa dentro de mim gritava que havia muito a ser feito ainda, que nada é fácil e que o meu tempo estava se esgotando e não havia mais tempo a ser perdido?

Um dia, as palavras saíram de minha boca, quase que contra a minha vontade: “Eu tenho algo a fazer, mas não sei o que é! Eu não encontrei ainda o meu caminho, não sei o que vim fazer aqui, e o meu tempo está se esgotando!..” – Falei isso pro meu amigo Cleber Rocha (se algum dia vier a ler isso, um salve pra você, querido!), uma das (muito) raras pessoas pra quem eu ousei abrir essas minhas intimidades, em toda minha vida. Ele me respondeu: "Mas o que mais você poderia fazer, afinal?"

Essa pergunta ressoou em meus ouvidos por muito tempo... Na hora da meditação, quando a agitação dos pensamentos se acalmava, ela surgia, desafiadora: “O que eu tenho que fazer?”... Já me pegava considerando a possibilidade de desistir de tudo. Toda uma vida buscando repostas, agora já me encontrava além da casa dos trinta, e mesmo assim nunca tinha sentido nem sombra das certezas que eu tanto desejava.

Sei que muitos me consideram maluco, por ter me atirado assim, de corpo e alma, tantas vezes abrindo mão dos prazeres desta vida, em prol de buscar algo que, em última análise, eu nem mesmo sabia se existia. Mas, ao menos vocês, amigos aqui do blog, tentem entender: Este era eu! Este sempre fui eu! Se não podia enxergar qual caminho seguir, ao menos uma coisa eu sabia: Devia continuar. Tive minhas fases de desânimo, e a que estou contando agora foi uma das piores, mas a certeza de que a Busca não seria inútil nunca me abandonou. Está em mim querer encontrar o que há além, o que não pode ser visto do lugar onde nos encontramos.

Uma vez eu disse que, se um dia eu viesse a perder completamente a minha fé na existência de uma Realidade maior, eu me atiraria de cima do edifício mais alto que eu pudesse encontrar. Assim, ao menos poderia realizar o sonho de voar, ainda que por alguns segundos, antes de me despedir deste mundo insano. Isso faz parte da minha natureza, eu fui feito assim. Acreditar que a vida é apenas isso, que não passamos de sacos de carne e sangue, desfilando nossas insanidades por aí, significaria para mim o pior dos tormentos.

Nessa época, logo que fui morar com Hana, havíamos transformado nossa casa numa espécie de templo hindu, com referências budistas e cristãs. Num dos cômodos da nossa casa, retiramos todos os móveis, colocamos um tapete no chão e muitas almofadas espalhadas. No centro, montei um cavalete com um quadro com uma imagem de Jesus místico, e na parede um belo retrato de Krishna sobre uma flor de lótus. Num pequeno altar que montamos, fixo no outro canto da sala, dia e noite queimávamos pequenas velas e incenso suave. A idéia era temos um lugar em nossa casa para nos sentirmos em paz, para meditar e/ou orar. Ficou muito bonito...

Nessa fase, em que andava atormentado pelas questões fundamentais da minha vida mais do que nunca, chegou um dia em que me recolhi para uma oração, e depois permaneci por um longo tempo em meditação profunda, esperando por respostas. E pedi, falando mais ou menos assim:

Onde está a Verdade? Por que não consigo encontrá-la? Já tive em minha vida todas as provas de que precisava para saber que não estou me iludindo, ao persistir na Busca. Mais importante, eu sinto isso em cada fibra do meu ser, em cada uma das micro-partículas que compõem o meu corpo! Eu sei disso plenamente, no mais profundo do meu espírito, seja lá o que signifique ‘espírito’... Mas eu não sei, agora, o que devo fazer. Não sei que direção devo tomar, nessa Busca que parece não ter fim... Não sei mais o que fazer para encontrá-Lo, meu DEUS! Conheci muitos lugares, muitos mestres, muitos caminhos e muitos erros... O entendimento que me deste me ajudou a discernir muitas coisas, me permitiu ver o engano em diversas partes, mas ainda não posso ver o Teu real Caminho...”.

De olhos fechados permaneci ali, prostrado em cima daquele tapete, diante das imagens de Jesus e Krishna, por um longo tempo. "Olhava" com intensidade para dentro de mim mesmo, procurando angustiadamente por um sinal, uma resposta para as minhas dúvidas. “O que eu devo fazer? Qual é o meu caminho?”...

Finalmente me levantei e me retirei. Era uma tarde de sábado. Na sala vizinha, sentei no sofá e liguei a TV. Estava um pouco frustrado porque nada havia acontecido, nenhuma resposta havia surgido na minha mente, como muitas vezes me acontece após as sessões de meditação. E aí...

Não haviam se passado ainda 5 minutos, quando ouvi o ruído de alguma coisa caindo, e algo como vidro se quebrando, na “sala de meditação”! Hana não estava em casa, eu estava sozinho. Nessa época, eu não tinha nenhum animal de estimação, que pudesse provocar algum ruído no outro cômodo. Desliguei a TV e apurei a audição: Tudo quieto. Pensei em esquecer e voltar a ligar a TV, mas algo me dizia: “Vá ver...”

Levantei do sofá e voltei para a sala de meditação. E devo ter ficado pálido:

O cavalete com o quadro da imagem representando Jesus havia caído, tombando para o lado, e parou apoiado na parede. Acontece que o quadro de Jesus, ao cair para o lado, bateu exatamente em cima do retrato de Krishna, derrubando-o. Este caiu e se desfez no chão, em vários pedaços. Não só o vidro se espatifou como também a bonita moldura dourada havia se quebrado em muitas partes...

Fiquei estático. Seria minha resposta chegando, mais claramentede do que eu jamais poderia sequer imaginar?


Mas o que aconteceu, afinal?

Segue a minha análise, tão fria quanto possível:

1. Eu estava sozinho em casa, estava no outro cômodo e as portas estavam trancadas, portanto, não existe a menor possibilidade de alguém ter derrubado o cavalete com a moldura de Jesus.

2. Naquela sala, que eu usava para fazer meditação, não passava nenhuma corrente de ar, que pudesse ter derrubado o cavalete com a pesada moldura.

3. O cavalete onde o quadro de Jesus estava colocado era bastante firme, pesado e seguro. Além disso, a moldura do quadro era de madeira maciça bastante grossa, revestida de metal, além do vidro de proteção, um conjunto também pesado. Portanto, posso dizer que nunca, jamais, essa estrutura iria cair apenas pela ação do vento ou algo do tipo (isso se houvesse vento no local, o que, como já expliquei, não era o caso).

4. Pra quem não sabe, eu sou artista plástico, pinto telas e às vezes fabrico minhas próprias molduras. Sei que elas são fortes. Mas todo o quadro com a imagem de Krishna, a base, a moldura e o vidro, se quebraram de uma maneira que não poderia mais ser consertado.

Depois de recolocar o cavalete com o quadro de Jesus na posição normal, fiquei parado por um tempo, com o que restara do quadro de Krishna na mão, tentando compreender o que havia acontecido, tentando racionalizar, mas não havia como explicar aquilo de um modo racional!

Então era isso? O Caminho definitivo a ser seguido era mesmo Jesus? será que chegava a hora de abandonar as minhas influências hindus?..